sexta-feira, 25 de abril de 2025

Diz




Diz mulher
ao teu país
como lutaste até hoje

o que fizeram 
de ti

o que quiseram 
que fosses

Como prenderam teu
grito
sob a boca amordaçada

Mas como cantaste
assim
do teu desgosto apartada

Diz mulher 
ao teu país

conta a vida em que
cresceste

Como algemaram
teus pulsos

conta aquilo
que aprendeste

Do saque da tua
vida
relata os dias passados

da cadeia em que estiveste
descreve
o pavor rasgado

as torturas que sofreste
o medo nunca acabado

Diz mulher
ao teu país
como lutaste até hoje

não cales mais
a recusa
do que quiseram que fosses...

não silencies
a renúncia
a que te viste obrigada

Não desistas 
de gritar
tua vida encarcerada

In: Mulheres de Abril
p. 21 a 23




Maria Teresa de Mascarenhas Horta Barros (1937-2025) foi uma escritora, jornalista e poetisa portuguesa. É uma das autoras do livro Novas Cartas Portuguesas, pelo qual foi processada e julgada em 1972, ao lado de Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa. aqui




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Nota:
Publiquei este poema no ano passado, aquando do 50º aniversário do 25 de Abril.
Volto a publicá-lo hoje, em homenagem a esta grande Mulher que faleceu a 4 de Fevereiro deste ano.

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Tourada

 


FERNANDO TORDO

***

Com bandarilhas de esperança
Afugentamos a fera
Estamos na praça da primavera
Nós vamos pegar o mundo
Pelos cornos da desgraça
E fazermos da tristeza graça

...


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Excerto da canção, Tourada.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Francisco, o Papa

 


Pregou a simplicidade e o amor entre todos. A igreja é para todos, todos, disse. Ainda apareceu ontem e deixou a sua mensagem. Esperamos que o mundo em efervescência pare um pouco e consiga ouvir os ecos da sua voz. 

A seguir, o Conclave.





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Ver post, do Xaile de Seda: aqui

Imagens: Net

domingo, 20 de abril de 2025

ALELUIA

 



Quando o sol aquece de manhã
O planeta terra onde eu vivo
Não importa em que lugar estou
Olho a natureza pensativo

O vento assanha as águas do oceano
Surfa pelas ondas da canção
Quem compõe a música do vento
E quem acendeu o sol então
Aleluia, aleluia
Conclusão dos pensamentos meus
Aleluia, aleluia
Em tudo isso tem a mão de Deus
Quando cai a chuva e molha o chão
Meu planeta fica tão florido
Vem a tarde e as tintas lá do céu
Pintam um horizonte colorido
Folhas, flores, frutos se misturam
Nesse quadro o amor e a perfeição
Quem é esse agricultor divino
É o mesmo autor do quadro então
Aleluia, aleluia
Conclusão dos pensamentos meus
Aleluia, aleluia
Tudo isso tem a mão de Deus
Quando vem a noite eu olho o céu
As estrelas brilham no infinito
Vejo a lua clara sobre o mar
E nesse momento eu reflito
Um ser supremo em tudo isso existe
Deus, a luz maior, a explicação
Tudo vem das suas mãos divinas
O céu, a terra, o mar, a vida então
Aleluia, aleluia
Conclusão dos pensamentos meus

Aleluia, aleluia
Em tudo isso tem a mão de Deus
Aleluia, aleluia
Aleluia, aleluia
Conclusão dos pensamentos meus

Aleluia, aleluia
Tudo isso tem a mão de Deus

....







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Nota: O poema acima transcrito é a "letra" desta canção de Roberto Carlos.
Imagem: pixabay

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Rasgões da alma




Desdobra-se a mesa e a toalha alva

Como se o tempo fosse agora vivo e a memória

O gesto perturbado acariciando a pele macerada

Dos finados...

E nesta ausência se despenhasse

A cúpula emoldurada dos dias pregoeiros...


Respondem à chamada um a um em volta

Da azulada luz

Quais inesperados fulgores que medeiam o frio

E a chama e os clarões acesos como rasgões de alma

Em sintonias ancestrais outrora latejantes

Como arados galgando terra chã...


Vergo-me, perante os mortos. E ergo-me.

Que a hora é de bençãos. E de tecer liames.

Como se meu corpo fosse passagem

Ou ponte entre margens.

Ou inscrição. Ou barro amassado.

Ou casulo que guarda os ténues fios...


E minhas mãos fossem cadinho. Ou pedra de ara.

Ou exorcismo marcando os sinais. E meus olhos

Fossem guarida e lume.


E meu sangue fosse pasto:

Carne da minha carne

E grito da Humanidade...


Manuel Veiga


***


O blog: Relógio de Pêndulo


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In: Do esplendor das coisas possíveis, Abril 2016

Pg.49

Caçador de Sóis



 

Nuno Guerreiro (1972-2025) foi um cantor português e vocalista na banda Ala dos Namorados, onde ganhou popularidade. 

mais aqui




E aqueles que por obras valerosas se foram da lei da morte libertando...


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Ver também aqui

domingo, 13 de abril de 2025

Escrito no muro





Procura a maravilha.

Onde a luz coalha
e cessa o exílio.

Nos ombros, no dorso,
nos flancos suados.

Onde um beijo sabe
a barcos e bruma.

Ou a sombra espessa.

Na laranja aberta
à língua do vento.

No brilho redondo
e jovem dos joelhos.

Na noite inclinada
de melancolia.

Procura.

Procura a maravilha.




Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas 
(1923-2005) foi um poeta português.
Mais aqui




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Poema daqui: De Rerum Natura
Do livro: Obscuro Domínio, pg 16 - Eugénio de Andrade

Nota: O poema aparece em muitos sites e blogs bastante simplificado.e com o título "Procura a maravilha"

domingo, 6 de abril de 2025

Gargalhada

Quando me disseste que não mais me amavas,

e que ias partir,

dura, precisa, bela e inabalável,

com a impassibilidade de um executor,

dilatou-se em mim o pavor das cavernas vazias...

Mas olhei-te bem nos olhos,

belos como o veludo das lagartas verdes,

e porque já houvesse lágrimas nos meus olhos,

tive pena de ti, de mim, de todos,

e me ri

da inutilidade das torturas predestinadas,

guardadas para nós, desde a treva das épocas,

quando a inexperiência dos Deuses

ainda não criara o mundo...

Guimarães Rosa




João Guimarães Rosa (1908-1967) foi um poeta, diplomata, novelista, romancista, contista e médico brasileiro, considerado por muitos o maior escritor brasileiro do século XX e um dos maiores de todos os tempos. ver mais 



Caetano Veloso



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Poema: daqui
imagem: pixabay

sexta-feira, 4 de abril de 2025

GOSTO





Gosto do mar que rodeia a minha ilha, das rochas nuas e portentosas que a integram. 

Gosto das noites de lua cheia mas também do céu estrelado nas noites escuras como breu. 

Gosto da chuva benfazeja que faz crescer o milho, o feijão, a batata, a mandioca, o inhame - e que, quando vem com força, quase que nos leva para o mar, descendo em grandes quebradas, arrasando tudo.

Gosto do peixe que se compra às pratadas à beira-mar, observando antes os homens a puxarem o bote à força de braços. 

Gosto de cuscuz com manteiga, acompanhando com queijo de cabra, doce de papaia e café com leite. 

Gosto de cachupa e quando guisada comê-la com peixe frito. Gosto de caldo de peixe a acompanhar papas de milho.

Gosto do tempo das colheitas em que ajudamos "desajudando", de ouvir os contos enquanto se descascam as espigas, do ritmo das pauladas desferidas pelos homens ao debulhá-las no terreiro.

Gosto do Sol e do Céu azul, 
mas também das nuvens escuras anunciando chuva...




Nuno Ribeiro, Calema, Mariza
Maria Joana




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Imagem: pixabay