Nunca davam combate. Em vez disso, lutavam fazendo emboscadas, assaltos, assassínios e devastando os bens do inimigo. Ou seja, os bens dos Romanos. Nunca apareciam onde eram esperados, nunca marchavam em coluna, nunca se reuniam fosse em que quantidade fosse, nunca eram identificáveis pelos uniformes ou pelas armas. Limitavam-se a atacar de surpresa. Pareciam surgir do nada. E depois, desapareciam sem deixar rasto nos magníficos desfiladeiros das suas montanhas, como se nunca tivessem existido.
Era uma terra fabulosamente rica, a Espanha. Por isso, todos haviam querido possuí-la. Os indígenas ibéricos originais cruzavam-se há séculos com elementos célticos invasores que entravam pelos Pirenéus, e as incursões dos Berberes e Mouros através dos estreitos que separam a Espanha da África tinham enriquecido ainda mais o cadinho local de raças.
Depois vieram os Fenícios de Tiro, de Sídon e de Bérito na costa síria, e depois deles os Gregos. Duzentos anos antes tinham vindo os Cartagineses com o intuito de extrair os seus metais: ouro, prata, chumbo, zinco, cobre e ferro.
Uma história que sabemos bem. Mas aqui o que me interessa realmente realçar é que Caio Mário raciocinou assim, ao deparar com este cenário na Espanha Ulterior: "Bem, também posso lutar através de emboscadas, assaltos, assassínios e devastação de propriedade!" E se bem o pensou melhor o fez. As fronteiras da Espanha romana foram forçadas até à Lusitânia e à poderosa cadeia de montanhas ricas de minérios onde nasciam os rios Bétis, Anas e Tejo. Resultado: Caio Mário enriqueceu. Todas as novas minas lhe pertenciam total ou parcialmente...
Vê-lo-emos mais tarde a aspirar ao cargo de Cônsul e quem sabe se à dignidade de "Primeiro Homem de Roma", ele, homem novo, na terminologia de então...
Quinto Sertório, aliado de Mário nas guerras
contra Jugurta, rei da Numídia,- amigo deste último dos tempos da juventude-
viria a travar a
sua própria guerra na Península Ibérica,
aliando-se aos Lusitanos.
Somos herdeiros desse passado.
Boa semana, amigos.
Abraços
Olinda
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Fonte: "O Primeiro Homem de Roma",
pg 66/68 - Colleen McGullough