E para quê se a Terra continua na sua rotação, imperturbável, rolando os dias e as noites em que todos os elementos seguem o seu trilho pré-estabelecido? Bom mesmo é aproveitar o Sol, quando faz Sol, a chuva quando chove e a brisa, marítima ou do campo, quando nos acaricia a face. Enquanto isso, costuremos emoções, boas emoções, nos pensamentos que nos visitam. Sigamos o Mestre, homem sem pressas, um guardador de rebanhos que almeja trincar a terra toda.
Não Tenho Pressa
Não
tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.
Alberto Caeiro
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.
Alberto Caeiro
(F.Pessoa)
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Poema (Poemas Inconjuntos): Citador
Imagem:Pixabay