As colónias africanas, baptizadas pelo regime como sendo províncias ultramarinas, justificando a ideia de um Portugal uno e indivisível, com a notícia da revolução entraram em efervescência. Viram que a hora da verdade tinha chegado e que a libertação por que tanto se bateram estava em vias de acontecer. Só que cada cabeça sua sentença. Em Angola os três movimentos que ao longo do tempo se foram formando, MPLA, FNLA, UNITA, resolveram entrar em luta pelo poder. E foi precisamente em Luanda que se deram os confrontos.
Foram dias terríveis. A luta urbana apavorava tudo e todos. A tropa portuguesa de mãos atadas porque já não se sentia com autoridade para impor limites. Apenas com palavras na rádio tentava que chegassem a um entendimento. As pessoas, revoltadas, queriam pegar elas próprias em armas. Entretanto, a caça ao homem era um facto. De noite era a caça às bruxas e, como em todos os estados de sítio, cada um funcionava pela sua cabeça.
Começou o grande êxodo. De uma ponta à outra de Angola ouvia-se o martelar dos caixotes, o empacotamento dos haveres passíveis de transportar. O cais foi se tornando num mar de malas, caixotes, caixotinhos, sacos e sacolas. O aeroporto outro tanto. Pessoas com ar perdido aproveitavam a ponte aérea disponibilizada pelo governo português. Quem podia seguia de carro para África do Sul e para outros pontos de África. Também para o Brasil...
Era o retorno...dos "retornados". Cá chegados, era outra via sacra.
As negociações de independência iam avançando não com a velocidade desejada. Foram conversações, acordos, e muitos retornados reclamam ainda hoje que não foram acautelados os seus interesses.
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Numa ronda pelas independências temos que:
1) A Guiné (PAIGC) declarou a independência unilateralmente a 24 de Setembro de 1973 e reconhecida em 10 de Setembro de 1974, pelo acordo de Argel, de 26 de Agosto de 1974.
Luís Cabral foi o primeiro Presidente da República da Guiné-Bissau.
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2) Cabo Verde ligado ao PAIGC por vontade do seu líder maior Amílcar Cabral, assassinado em 1973, ascendeu à independência a 5 de Julho de 1975, não sem primeiro ter-se de vencer algumas polémicas sobre se aquelas ilhas deveriam ficar federadas a Portugal.
Aristides Pereira foi o primeiro Presidente da República de Cabo Verde.
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3) Em 11 de Novembro de 1975 foi declarada a independência de Angola por Agostinho Neto, (MPLA) que foi o primeiro Presidente da República Popular de Angola,
Na Assembleia Constituinte de Portugal foi aprovada um voto de congratulação da iniciativa do PPD, tendo Mota Pinto afirmado a dado momento:
As circunstâncias em que Angola ascende à independência não são as mais auspiciosas a curto prazo, quando uma guerra fratricida rasga a carne e verte o sangue dos homens e das mulheres angolanas e destrói os seus bens. aqui
Trata-se da guerra com os outros movimentos (FNLA e UNITA), visto estes dois não terem concordado com a entrega da soberania ao MPLA.
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4) As negociações entre a administração portuguesa, através do MFA, e a FRELIMO culminaram na assinatura dos Acordos de Lusaka em 7 de Setembro de 1974 na Tanzânia, com a transferência de soberania para as mãos da organização moçambicana. A formalização da independência de Moçambique ficou, finalmente estabelecida em 25 de Junho de 1975, o 13º aniversário da fundação da FRELIMO.
Samora Machel foi o primeiro Presidente da República de Moçambique.
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5) Em 1960, por influência do processo de descolonização no continente africano, surgiu um grupo nacionalista opositor ao domínio ditatorial português. Em 1972, o grupo dá origem ao MLSTP (Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe), de orientação marxista.
A 21 de Dezembro de 1974 foi assinada uma acta de transmissão de poderes do Estado Português para o Governo de São Tomé e Príncipe.
A independência verificou-se a 12 de Julho de 1975.
Manuel Pinto da Costa foi o primeiro Presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe.
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No sudeste asiático, no final de 1975, Timor-Leste declarou a sua independência, mas foi invadido e ocupado pela Indonésia.
Macau, depois de muitas negociações, voltaria à soberania da China em 29 de Dezembro 1999.
Goa, Damão e Diu já tinham sido incorporados na União Indiana em 1961, mas apenas reconhecido por Portugal em 1974.
Era o Fim do
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