Convite da amiga Rosélia Bezerra para
domingo, 8 de dezembro de 2024
"XV Interação Fraterna de Natal"
quarta-feira, 4 de dezembro de 2024
Álvaro de Campos e a "necessidade de sentir tudo exageradamente"
Quero voar e cair de muito alto!
Ser arremessado como uma granada!
Ir parar a... Ser levado até...
Abstracto auge no fim de mim e de tudo!
Clímax a ferro e motores!
Ponham-me grilhetas só para eu as partir!
(Álvaro de Campos, “Saudação a Walt Whitman”, v. 30-37)
sábado, 30 de novembro de 2024
Pensadores Africanos Contemporâneos (1)
A filosofia africana é geralmente negligenciada no estudo de Filosofia, sem que se saiba claramente as razões para isso. Alguns argumentam que o fato de ela estar estreitamente vinculada às suas tradições orais tornaria difícil compartilhar a sua extensa história com uma audiência mais ampla. Outros argumentam que a sua natureza afrocêntrica a faria menos atraente para o resto do mundo.
O filósofo nigeriano K.C. Anyanwu define a filosofia africana como “aquela que se interessa na maneira que o povo africano, do passado e do presente, entende o seu destino e o mundo no qual vive”. Apesar de em grande parte permanecer um mistério para os outros países, a filosofia africana é uma disciplina sólida, enriquecida por séculos de pesquisa, que datam desde a filosofia do Egito antigo, até o pensamento pós-colonial moderno. Ao longo de sua história, a filosofia africana contribuiu significantemente à filosofia grega, notadamente através do filósofo egípcio Plotino – figura fundamental na continuação da tradição da Academia filosófica de Platão, e à filosofia cristã, através do pensador argelino Agostinho de Hipona, que estabeleceu a noção do pecado original.
"1. Séverine Kodjo-Grandvaux (Costa do Marfim)
Natural da Costa do Marfim*, Séverine Kodjo-Grandvaux escreve para a revista “Jeune Afrique” (“África Jovem” em tradução livre do francês) e é a autora da obra “Philosophies Africaines” (“Filosofias africanas”, em tradução livre do francês), na qual ela analisa a atual elite de filósofos africanos. Ela estabelece que a filosofia africana moderna é geralmente classificada em quatro grupos principais: etnofilosofia, sagacidade filosófica, filosofia ideológica-nacionalista e filosofia profissional. No entanto, Kodjo-Grandvaux acredita que a definição da tendência da filosofia moderna africana pode ser resumida em como ela evoluiu de sua influência colonial.
Num debate sobre o livro, o seu colega na revista “Jeune Afrique”, Nicolas Michel, faz um sumário da origem e evolução da filosofia africana contemporânea e as teorias de Kodjo-Grandvaux:
Como uma arqueóloga das ideias, Séverine Kodjo-Grandvaux explora as camadas de uma epistomologia que, ao longo do último século, foi construída essencialmente em reação ao Ocidente. Num primeiro momento, sob o jugo da influência imperialista colonial, posteriormente, em reação contra esse domínio. Na medida que os movimentos de independência se espalhavam pelo continente (nos anos 50), a filosofia de busca do retorno à “identidade africana” e de afastamento do molde ocidental tornou-se mais forte. Kodjo-Grandvaux argumenta que tal ideologia de “retorno às origens” é uma proposta arriscada. Ela escreve: “À medida que a filosofia se encaixa na busca de um padrão ‘regionalista’ – isto é, continental, nacional ou étnico – ela deve evitar várias armadilhas, entre elas, a do pensamento homogêneo e do isolamento excessivo”. A contribuição da filosofia ocidental e de outras correntes de pensamento não devem ser rejeitadas.
Kodjo-Grandvaux destaca o debate sobre etnofilosofia, com o qual filósofos africanos vêm lidando por muito tempo: a ideia de que uma cultura ou região em particular possui uma filosofia específica, fundamentalmente diferente de outras tendências filosóficas, é em si controversa. No entanto, muitos filósofos africanos modernos argumentam que o trabalho deles é uma reflexão crítica sobre lideranças africanas e de seus impactos nas vidas diárias de seus compatriotas. Consequentemente, é fundamental que a filosofia africana se desenvolva no contexto do continente africano e que se comunique com uma audiência africana.
2. Souleymane Bachir Diagne (Senegal)
Souleymane Bachir Diagne, filósofo senegalês e professor da Universidade de Columbia, acredita que os filósofos africanos precisam tornar o trabalho deles mais acessível aos seus compatriotas. Ele declara:
Nós devemos produzir os nossos próprios textos em línguas africanas. Um dos meus antigos alunos americanos está trabalhando no sentido de produzir uma antologia de textos escritos por filósofos africanos, os quais foram incumbidos de escrever artigos em suas próprias línguas. Posteriormente, os falantes nativos dessas línguas farão a tradução para o inglês.
3. Léonce Ndikumana (Burúndi)
Além da importância de se comunicar melhor com seus seguidores africanos, atualmente surgem com destaque outras tendências de pensamento dos filósofos africanos. Léonce Ndikumana cresceu em Burúndi e hoje é professor de Economia da Universidade de Massachusetts em Amherst.
Em seu livro “Africa’s Odious Debt: How Foreign Loans and Capital Flight Bled a Continent” (Dívida odiosa da África: Como os empréstimos externos e a fuga de capital sangraram um continente), Ndikumana dedica-se a combater muitas narrativas sobre a África que são lugar comum e tidas como fato no mundo todo, como, por exemplo, a crença de que a ajuda externa subsidia o continente.
Na realidade, a fuga de capital do continente africano (US$ 1,44 trilhão desaparecem de países africanos sem deixar rastros e acabam aparecendo em paraísos fiscais ou em outros países ricos) excedem em muito o capital da ajuda externa (US$ 50 bilhões para a África). (números avançados na altura em que este artigo foi escrito)
Ndikumana também é um dos principais líderes de opinião na África que rejeitam as diretrizes das agências internacionais que frequentemente vão de encontro à vontade dos cidadãos africanos.
4. Kwasi Wiredu (Gana) - Falecido em 2022
O combate às falsas narrativas é uma tendência crescente entre os intelectuais africanos. Entre aqueles que tentam fazer justamente isso, encontra-se o filósofo ganense Kwaisi Wiredu.
Ele argumenta que o sistema político multipartidário, frequentemente visto como o fundamento para a democracia, nem sempre conduz à unidade e à estabilidade. Em vez disso, a democracia de consenso é muito mais adequada ao contexto africano:
Posto que a democracia é governo por consentimento, a questão é saber se um sistema menos conflitante do que o de partidos, o qual é vinculado ao sistema majoratório de tomada de decisão, não poderia ser concebido. É um fato importante o de que seres humanos razoáveis podem chegar a um acordo sobre o que deve ser feito pela virtude do compromisso, sem concordar em questões de moral e verdade.
5. Kwame Anthony Appiah (Gana)
Entretanto, Kwame Anthony Appiah, um outro filósofo ganense que atualmente ensina na Universidade de Nova Iorque, opõe-se à tendência de afrocentrismo dos filósofos do continente.
Ele acredita que o afrocentrismo é um conceito ultrapassado. Ele defende que se deve encorajar mais o diálogo entre culturas e menos “regionalismo”:
[Diógenes, filósofo da antiguidade grega] rejeitava a visão convencional de que toda a pessoa civilizada pertencia a uma comunidade entre outras comunidades[…]
Uma comunidade global de cosmopolitas desejará aprender sobre outros estilos de vida na rádio e em programas de TV, por meio da Antropologia e História, por romances e filmes, por noticiários e jornais e na internet."
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segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Perfume De Um Tempo Breve
Cálida a tarde assim tecida
Seda e linho.
Urdidura de gestos delicados
A soletrar as margens
Reflexo debruado de um rio-outro
A derramar-se por dentro.
Amável o percurso das palavras
Fios de prata e lume
Em que nos dizemos.
Tempo e Modo
Da vertigem.
E em que colhemos
A urgência da Hora.
E soletramos a brisa apressada
E o perfume de um tempo breve.
Manuel Veiga
In: Perfil dos Dias
Pg.44
quinta-feira, 21 de novembro de 2024
O Mundo de Sofia
Como se formou o mundo? Haverá uma vontade ou um sentido por detrás daquilo que acontece? Haverá vida depois da morte? Como podemos encontrar resposta para estas perguntas? E, acima de tudo, como deveríamos viver?
Estas perguntas foram colocadas desde sempre pelos homens. Não conhecemos nenhuma cultura que não tenha perguntado quem são os homens e de onde vem o mundo.
As perguntas filosóficas que podemos colocar não são muitas mais. Já colocámos algumas das mais importantes. A história oferece-nos muitas respostas diferentes para cada uma destas perguntas.
Por isso, é mais fácil formular perguntas filosóficas do que encontrar a sua resposta.
Mesmo hoje, cada um deve encontrar as suas respostas para estas perguntas. Não podemos saber se Deus existe ou se há vida depois da morte, consultando a enciclopédia. A enciclopédia não nos diz como devemos viver. Mas ler o que outros homens pensaram pode no entanto ser uma ajuda, se quisermos formar a nossa própria concepção da vida e do mundo. (...)
Segundo um filósofo grego que viveu há mais de dois mil anos, a filosofia surgiu da capacidade que os homens têm de se surpreender. O homem acha tão estranho viver, que as perguntas filosóficas surgem por si mesmas.
In: O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder - pgs18/19
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Li este livro há uns anos e talvez a transcrição acima não seja a melhor parte para se dar uma ideia do seu conteúdo. Adoptando um certo mistério o autor apresenta-nos a matéria de forma romanceada e apelativa.
Eis a minha opinião sobre o que achei do livro, na altura:
Ler O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, é, na verdade, um dos exercícios mentais mais agradáveis que há porque se trata de aprender filosofia de forma lúdica ou de fazer algumas comparações com o que se aprendeu na escola, através de métodos pouco apelativos e, por vezes, frustrantes. Neste mundo de Jostein Gaarder (...) temos Aristóteles a defender que o espanto ou a capacidade de nos admirarmos todos os dias com as mesmas coisas é o sal da vida e que todo e qualquer acto do quotidiano, do mais simples ao mais complexo, é política (ciência suprema), pois o homem é um animal social e político por natureza. Assim, está bem de ver que de nada me vale dizer: Ah! Eu não sou política, não gosto de política.
Platão, o homem que passou a escrito as ideias do seu mestre, Sócrates, também me dá uma achega quando diz que o mundo concreto percebido pelos sentidos é uma pálida reprodução do mundo das ideias. O que também me leva à indução, verdadeira ou não, de que tudo o que acontece não passa de ilusão. A filosofia é uma coisa boa e é a disciplina mãe de todas as outras. Pelo menos, era o que se pensava há muitos e muitos séculos. Em todo o caso, para meu governo, é sempre bom recordar e imbuir-me daquele espírito introspectivo, defendido por Sócrates no seu método fundado na ironia, diálogo sui generis, e consubstanciado na máxima: conhece-te a ti mesmo.
Um clássico moderno, absolutamente intemporal, para leitores de todas as idades.
Bem-vindos ao Mundo de Sofia, uma intrigante aventura filosófica que põe em cena um professor de Filosofia e uma jovem de catorze anos. Na véspera do seu aniversário, Sofia Amundsen começa a receber bilhetes e postais muito estranhos. Nos bilhetes anónimos, perguntam-lhe quem é ela e qual a origem do mundo.
Os postais, enviados do Líbano, são escritos por um major desconhecido e dirigidos a Hilde Møller Knag, pessoa que Sofia também não sabe quem é. Assim começa este romance fascinante, que já maravilhou várias gerações de leitores. Página a página, percorremos toda a história da filosofia ocidental, enquanto acompanhamos a envolvente aventura de Sofia.
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Tenham um boa quinta-feira.
Abraços
Olinda
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Imagem: pixabay
3ª Quinta-feira – Dia Mundial da FilosofiaEm 2002 a UNESCO instituiu o Dia Mundial da Filosofia.
Esta celebração surge como resultado da necessidade da humanidade refletir sobre os acontecimentos atuais, fomentando-se o pensamento crítico, criativo e independente, contribuindo assim para a promoção da tolerância e da paz.
Desde então este dia é celebrado em todo o mundo na terceira quinta-feira do mês de novembro. Fonte