quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Lendo...

Na faixa lateral inseri há quase duas semanas o título de um livro que comprei por essa altura com o intuito de o começar a ler, tanto é que consta no pequeno espaço Lendo, o que é uma inverdade, como devem calcular pelo que disse atrás. Confesso que nunca li nada do autor, David Nicholls, nem sei se vou gostar da história. O que me atraiu foi o facto de me ter apercebido de que se trata de um casal que pretende reencontrar-se numa fase em que o filho sai de casa para tratar da própria vida. Deduzo que estando pai e mãe na iminência de ficarem frente-a-frente, já sem a atenção voltada para o terceiro elemento da família, tenham que se reinventar. 



Ou então o que me atraiu foi este texto que abre o dito livro, uma citação:

Só tu me ensinaste que tenho coração - só tu deixaste uma luz intensa para as profundezas e para os picos da minha alma. Só tu me revelaste a mim próprio; pois, sem o teu auxílio, o melhor que teria logrado conhecer de mim próprio teria sido meramente conhecer a minha sombra - vê-la a tremular na parede, e tomar erradamente as suas fantasias por verdadeiras acções minhas...

Agora, caríssima, compreendes o que fizeste por mim? E não é um tanto assustadora a ideia de que uma ou outra diminuta circunstância podiam ter impedido o nosso encontro?
Nathaniel Hawthorne, numa carta a Sophia Peabody
4 de Outubro de 1840


Como vêem este é um post irrelevante, um post sobre um livro que não li, ainda. Mas penso fazê-lo, senão teria de retirar a menção que tenho na faixa lateral, à direita. Além do mais, o título é sugestivo, NÓS, e tudo o que implique esta pluralidade, a Família na suas complicadas vertentes, parece-me interessante.

Também através deste post tenho a oportunidade de vos desejar uma boa quarta-feira. A natureza presenteou-nos hoje com um dia maravilhoso. Aproveitemo-lo. :)

Imagem:net


sábado, 24 de janeiro de 2015

Porquê os Clássicos

1.

no quarto livro da guerra do Peloponeso
Tucídedes conta-nos entre outras coisas
a história da sua mal sucedida expedição

entre os longos discursos dos chefes
batalhas cercos pestes
uma densa rede de intrigas de diligências diplomáticas
o episódio é como uma agulha
na floresta

a colónia grega Anfípolis
caiu nas mãos de Brasidos
porque Tucídedes chegou atrasado com o socorro

devido a isso foi condenado pela sua cidade
ao exílio eterno

os exilados de todos os tempos
conhecem que preço é esse

Zbigniew Herbert (1924-1998)
Escolhido pelas Estrelas - antologia poética (apresentação e versões de Jorge Sousa Braga)
In: Poemário Assírio & Alvim - 2012

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Em tempo de eleições, a democracia no seu berço, desejo que a histórica Hélade encontre o seu caminho, a senda que melhor lhe convier rumo à construção de um mundo onde todos tenham lugar. Que as palavras austeridade, emigração e outras que signifiquem o abandono do solo pátrio sejam banidas do seu quotidiano, através do exercício do direito ao trabalho, à habitação e apoios sociais a quem necessitar. Que a anémica Europa receba, por seu turno, um sopro de optimismo e consiga ver mais além. 


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Eternoretornógrafo

O jovem poeta murmurou fechando o livro
         de Apollinaire:
"Este sim, é um poeta..."
E Apollinaire, o soldado polaco Wilhem
         Apollinaris de Kostrowitzky,
enterrado até à cintura na trincheira
         perto de Lyon,
olhando a noite estrelada de 4 de agosto
         de 1914
a terra ressequida, florescida de estacas e arame
         farpado,
semeada de minas nessa noite de 1914,
olhando as bengalas azuis, vermelhas e verdes no
         céu envenenado pelos gases,
apertou o húmido livrito de Rimbaud enquanto
         sobre a sua cabeça silvavam os obuses.
E Rimbaud, fazendo as suas malas em Charlesville,
         juntou à sua roupa os versos de Villón.
E Villón, o doze vezes condenado, o apócrifo,
         o inédito, pensou diante do patíbulo nas três
         coisas que mais havia amado: sua mulher Christine,
         a sua própria lenda e
a vaga recordação de uns versos que falavam
         da noite de 711 em que Taric se apoderou
         de Gibraltar.
E o sombrio poeta árabe que escreveu aqueles
         versos na calorosa noite de 711 apoiando-se
         na cimitarra
imitava os versos que seu avô lhe costumava ler
         na longínqua Argel;
e o avô de Argel havia lido de Imru-Ui-Qais,
         aquele que Maomé considerara o primeiro grande
         poeta árabe: tinha-o lido numa interminável
         jornada pelo deserto do Sahara (mais húmido
         agora do que então)
na lenta marcha dos camelos e nas tendas
         acesas.
E é provável que Umru-Ui-Qais tivesse escrito
         na língua de Allah imitações de Horácio.
E Horácio admirava Virgílio,
E Virgílio aprendeu com Homero,
E Homero, o cego, repetia nos seus versos os
         estranhos poemas que sussurravam ao ouvido
         os amantes nas estreitas ruas de Babilónia e
         Susa,
e em Babilónia e Susa
os poetas imitavam os versos dos hititas de Bog
         Haz Keni e da capital egípcia de Tell El
         Amarna,
e os poetas de 4000 a.C.,
imitavam os poetas de 5000 a.C..
Até que o Homem de Pequim, na húmida caverna 
         de Chou-Tien
vendo arder lentamente sobre as brasas a anca
         de um veado,
grunhiu os versos que lhe ditava do futuro
um jovem poeta que murmurava fechando um livro
         de Apollinaire.
         
 WILFREDO CATÁ

Pseudónimo sob o qual o poeta cubano Luis Rogelio Nogueras publicou em Março de 1969 o poema Eternoretornógrafo, revelando a sua verdadeira autoria apenas em 1981, quando da publicação do seu livro  Imitación de la vida, em Havana.
Este belíssimo poema vem uma vez mais, e originalmente, tocar no problema (?) das influências sofridas pelo(s) escritor(es). Já se disse que há poesia ultrapassada com duzentos anos e poesia actual com dois mil anos, e o que Luis Rogelio Nogueras parece querer afirmar neste seu poema -pião-do-tempo, é que nenhum escritor pode pôr de lado, no acto da escrita, a sua (nossa) herança cultural.

In: Os Herdeiros do Vento, Antologia Apócrifa - Joaquim Pessoa. Pgs 69 a 72.


   

Viajantes do tempo, eternos retornados qualquer que seja o nosso tempo, em busca de palavras que já foram ditas e daquelas que ainda virão, ou antes, inventar outra vez as palavras que já foram inventadas, como diria Almada Negreiros na sua invenção do dia claro.  Aqui o Xaile, que hoje faz quatro anos, pretende abraçar esses inventores do presente, do passado e do futuro se, para isso, não lhe faltar engenho e arte. E neste abraço envolve todos os que por aqui passam, nesta mesma ânsia.


Retomando a primeira pessoa, desejo-vos uma quinta-feira gloriosa, talvez com chuva, frio e neve, conforme a latitude. Fruto do tempo, dirão os mais velhos. Contudo, a diferença estará na forma como encararmos a vida e os seus altos e baixos.

Já devolvi à procedência o livrinho acima referenciado, de modo a não cair na tentação de vos trazer mais algum dos seus poemas, pelo menos nos tempos mais próximos. Com este já são três em poucos dias. :)

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Trouxe esta imagem de: aqui. Os meus agradecimentos.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Há 18 anos que Ciberdúvidas ensina o verbo "haver"



É com este título que o Público abre um artigo que nos fala dos 18 anos do Ciberdúvidas, o sítio na Internet que responde a dúvidas e discute temas relacionados com a língua portuguesa. É interessante a inserção, no referido título, do verbo haver um grande buraco ou alçapão onde, por vezes, até os mais avisados se enfiam.

Fundada por dois jornalistas, esta plataforma digital tem passado por dificuldades sendo de assinalar a interrupção da sua actividade em Junho de 2012. A sua manutenção deve-se à boa vontade de alguns consulentes, da cedência de espaço físico pela Câmara Municipal de Lisboa e pelo destacamento - Ministério da Educação e Ciência- do professor Carlos Rocha, editor executivo do Ciberdúvidas.

consultório linguístico, uma das 13 rubricas do Ciberdúvidas, responde, de segunda a sexta-feira, a dúvidas chegadas dos mais variados pontos do mundo, sobre ortografiafonéticaetimologiasintaxesemântica ou pragmática – tendo sempre em conta as particularidades linguísticas regionais e nacionais que moldam, hoje, a sexta língua mais falada no mundo.

De registar que jornalistas, publicitários, informáticos, economistas, médicos, arquitectos, juristas, professores e alunos dos mais variados escalões do ensino
contam-se entre os principais utilizadores do Ciberdúvidas. Dizem-nos isto e muito mais, aqui, em A maioridade em crise de financiamento.

Então, não é de acarinhar e apoiar um serviço destes, com esta envergadura? Senhores do Governo, atentem nisto: aproveitem esta oportunidade e mostrem que se preocupam com o nosso idioma.
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Imagem:daqui 

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Poema em tons de arco-íris




Poema Islandês

G.H. Böll encontrou este poema em 1946, em Stykkislómur, na Islândia. Böll é cientista mas tem como passatempo o coleccionismo de velhas canções, poemas e baladas tradicionais do norte da Europa e da Islândia, que pensa vir a publicar. A nossa tradução foi feita a partir de uma versão sua, em francês, publicada avulsamente.


Aproximou-se
e com o lápis de gelo terá desenhado o arco-íris
que o bando de gansos escolheu para fazer o ninho.
Com a lã do tempo terá tecido a roupa
para os movimentos e para aquilo que cresce,
para os pequenos rebentos da faia, para o peixe e para o homem.

Num caminho de pedras
terá abandonado as sandálias de ervas
antes de afastar-se.

entre ter chegado e ter partido
demorou um segundo, um bilião de anos.

In: Os Herdeiros do Vento - Antologia Apócrifa (pgs 149 e 151) - Joaquim Pessoa

Imagem: aqui
Caverna de cristais gigantes
Mina de Naica-México


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Dois tipos de bailado, dois talentos: nossos meninos de ouro




Menino-prodígio do ballet, estudou no Conservatório de Dança de Lisboa e na The Royal Ballet Upper School. Tem dado que falar, vencendo vários prémios de dança, nomeadamente uma medalha de prata no Concurso Internacional de Ballet de Moscovo em 2008, primeiro prémio no Youth American Grand Prix, em 2009, e a medalha de ouro e um prémio especial no Concurso Internacional de Ballett dos EUA, em 2010. Em 2014 ascendeu a primeiro bailarino na companhia britânica. Um caso sério em técnica e elegância. Ele é Marcelino Sambé, 20 anos, natural de Lisboa.



Desde menino entregue ao mester. Já ganhou tudo, praticamente, e já ultrapassou todos ou quase todos os records. Agora foi a vez de receber a 3ª Bola de Ouro. Falta-lhe apanhar o Messi nessa empresa aurífera e seguir em frente. Faltar-lhe-á talvez, segundo alguns, ganhar asas qual Pégaso e sulcar os céus trajado de vermelho e verde na defesa das quinas. E o tempo urge. Cultor da personalidade, augurando-se reconhecimento em vida, fundou o seu próprio museu onde colecciona os seus prémios. De 2004 (europeu de futebol) até agora, incomensurável foi o caminho percorrido, com sucesso, devido ao seu persistente trabalho, talento e ambição. Ele é Cristiano Ronaldo, 29 anos, quase 30, natural da Madeira.

Dois jovens, dois portugueses, meninos de ouro, trabalhadores incansáveis que nos enchem de orgulho e que põem o mundo a falar de nós, pelos melhores motivos. 


1ª imagem:daqui
2ª imagem:daqui

domingo, 11 de janeiro de 2015

Imagine all the people living life in peace

Os terríveis acontecimentos em França lançaram-me num grande desânimo e assaltaram-me de pronto todos os outros massacres que têm acontecido pelo mundo inteiro. 

Tudo isso parece levar-nos a deixar de acreditar em nós mesmos como seres humanos capazes de criar e de manter relações pacíficas. Realmente, pressinto que os ideais de universalidade começam a enveredar por um caminho perigoso, de não retorno. As dúvidas assaltam as pessoas sobre se valerá a pena lutar para a valorização e integração do outro.

No blog da São li um comentário evocando John Lennon no seu Imagine, e julgo ter encontrado nas palavras de esperança que ele nos deixou um lenitivo para esta dor e descrença. Recordemo-lo:


Imagine

Imagine there's no heaven
It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky
Imagine all the people
Living for today


Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace


Ler mais...


Desejo que na marcha de hoje a França e o Mundo se revejam nos ideais conquistados pela Revolução Francesa de 1789: Liberté, Fraternité, Égalité, lema da própria República. Desejo que na hora das decisões para a compreensão do presente sejam também chamados os guardiães do passado, os historiadores. Importa estabelecer a ponte entre estes dois tempos. 

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Os herdeiros do vento

Na busca de elementos que me ajudassem a compreender o tema que inseri no post BOAS FESTAS encontrei Joaquim Pessoa, autor que muito aprecio, neste caso, não com poemas ou textos seus mas com escritos atribuídos a outros, num livro intitulado Os Herdeiros do Vento - Antologia Apócrifa.  Trouxe-o comigo. Ele diz isto no início da pequena introdução: Ao fazer esta antologia não esteve nos meus propósitos apresentar qualquer estudo mais ou menos profundo, mais ou menos académico, sobre literatura apócrifa. Apenas procurei que me chegassem às mãos, como às de qualquer outro herdeiro do vento, objectos desenterrados daqui e dali e de todas as épocas. Quanto mais os coleccionava e comparava, quanto mais os analisava, mais belos me pareciam e mais pareciam justificar a sua publicação.

Desta compilação, página 19, retiro este poema com sabor a balanço de vida, que abaixo transcrevo: 




NUVENS

Lá em cima
as nuvens da minha infância sobrevivem.

Ganhei e perdi.
Amei.
E aos trinta anos
sinto que sou o senhor do mundo.
Dia a dia contemplo as nuvens
e digo para mim:
só o desejo é eterno.

Sou feliz a meu modo.
Junto do muro branco
uma rapariga beija-me.
Os seus grandes olhos parecem perguntar-me
se o nosso amor vai durar
toda a vida.

Eu sorrio
mas não lhe digo
que só o desejo é eterno.
Todas as manhãs me olho no espelho:
para trás ficou a primavera da minha vida
mas ainda sou o dono do mundo.
E continuarei a sê-lo
enquanto no céu
não se esfumarem as nuvens da minha infância
e não se apagarem
os velhos desejos.

UNNO AHL


E Joaquim Pessoa informa-nos:

UNNO AHL nasceu em 1900 junto ao Golfo de Botnia, em Kokkala na Finlândia. Era filho de um modesto empregado ferroviário e de uma professora. Fez os primeiros estudos em Kemi e doutorou em Filologia na Universidade de Helsínquia. Morreu assassinado em 1941. (Segundo se lê mais abaixo foi fuzilado pelas SS hitlerianas "em pleno florescimento da sua capacidade poética")...

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Para terminar desejo-vos um bom Dia de Reis. Aqui perto, em Espanha, é o dia em que se trocam presentes. Por outro lado, os cristãos ortodoxos festejam o Natal no dia sete, 25 de Dezembro segundo o calendário Juliano que preferiram conservar quando o ocidente decidiu optar pelo Gregoriano, em 1582.

Quis utilizar uma imagem, ortodoxa, que a Majo me enviou, do Menino e sua Mãe, mas não a consegui transferir pelo que tive de procurar uma na net. Acho que é parecida ou então é a mesma. Obrigada :)

Que o espírito natalício nos anime sempre.


domingo, 4 de janeiro de 2015

SAFFRA - Safra deste Ano

Ora aí está FF, no seu melhor!




Sei que a safra deste ano vai ter mais beijos do que trigo. E sei que eu ou muito me engano ou tu tens o plano de casar comigo...

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SAFFRA é a colheita deste ano, um projecto que funde a música tradicional portuguesa com a modernidade do fado. Fernando Fernandes, FF, é a voz destas canções, revelando, pela primeira vez, a sua essência enquanto cantor e compositor naquele que considera ser o seu primeiro disco a solo. aqui

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Bom domingo, meus amigos.

:)

Actualizei, com um Apontamento, o post "BOAS FESTAS", em relação às duas versões da Ode de Ricardo Reis, ali inseridas.