As Mães. Elas são o Centro do Mundo. A minha faria hoje anos. Seu nome, Isabel. Tomou da Rainha Santa, Isabel de Aragão, o nome, as qualidades. No nosso imaginário encontra-se bem patente a lenda do milagre das rosas, que mostra a sua piedade e compaixão, mas também a memória da sua acção em prol da concórdia entre pai e filho, D.Dinis e o Infante D.Afonso, herdeiro do trono.
Paraty, Brasil - Centro do Mundo literário. De 4 a 8 de Julho, até hoje, portanto, decorre a 10ª edição da Feira Literária Internacional de Paraty (Flip). E o grande poeta e cronista, Carlos Drummond de Andrade, é ali homenageado. Então, falando-se dele vem-me à ideia o seu poema A Máquina do Mundo:
E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável
pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar
toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.
Recuando no tempo, em Os Lusíadas, Canto X, a deusa Tétis leva o Gama pela mão e mostra-lhe a máquina do Mundo nestes termos:
...
Uniforme, perfeito, em si sustido,
Qual, enfim, Arquétipo que o criou.
Vendo o Gama este globo comovido,
De espanto e de desejo ali ficou.
Diz-lhe a Deusa:’ o transunto, reduzido
Em pequeno volume, aqui te dou
Do Mundo aos olhos teus, para que vejas
Para onde vás e irás e o que desejas.’
‘Vês aqui a Grande Máquina do Mundo,
Etérea e elemental, que fabricada
Assim foi do Saber, alto e profundo
Que é sem princípio e meta limitada.
Quem cerca em derredor este rotundo
Globo e sua superfície tão limada
É Deus, mas o que é Deus ninguém o entende,
Que a tanto o engenho humano não se estende’
Entre Luís Vaz de Camões, Sec. XVI, e Carlos Drummond de Andrade, Sec.XX, tanto tempo, tanto mar, verificamos uma enorme evolução do pensamento, passando-se a uma visão do mundo fundamentada em princípios científicos. Assim, vê-se o surgimento do Sec. XVII, tido como a era da revolução científica e, nesta matéria, evidencia-se o grande teorizador Isaac Newton.
Mas a necessidade que o Homem sente em descobrir as origens do mundo e explicar a grande máquina de que fazemos parte não pára. Nos nossos dias o bosão de Higgs, na procura da partícula de Deus, chave primordial para validação da massa das outras partículas elementares- após a nossa grande eclosão conhecida como Big-Bang- o bosão, dizia, parece ser o último grito nesta área.
Enquanto isso, centremo-nos no mistério do amor, na dedicação e abnegação de um coração de Mãe, nos sacrifícios que enfrenta na defesa da sua cria.
Embrulhados no seu xaile, o universo quase que se reduz a um ponto apenas e a explicação da máquina ou origem do mundo torna-se assaz irrelevante. Hoje e sempre relembro a minha mãe e com ela homenageio todas as mães do mundo.
O convite Ler mais está hiperligado aos sites que contêm o poema de Drummond e o canto X de Os Lusíadas
Imagens retiradas Internet. Os meus agradecimentos.
NOTA - HOJE, TAMBÉM É DIA DE SANTA ISABEL, FIGURA BÍBLICA, originando, talvez,ou também, o nome da minha mãe. :)
Assim são todas as coisas
Num espaço que não o é sendo-o.
Por isso a resposta
quase sempre se encontra
no virar
no revirar
de uma página!