Boas Festas! Expressão que traz um mundo de significações todas elas muito belas. Alegria, felicidade, música, dança, fogo-de-artifício, companheirismo. E ainda bem que esta quadra se prolonga até ao Dia dos Reis, dando-me assim tempo para aqui vir agradecer a vossa companhia durante este ano de 2014, que está quase a chegar ao fim. Tempo também para vos desejar, além de boas festas, um ano de 2015 pleno de realizações, das mais queridas, das mais desejadas.
Entretanto, sigamos Ricardo Reis e colhamos o dia.
Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem; outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.
Vêem o que não vêem; outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.
Porque tão longe ir pôr o que está perto —
O dia real que vemos? No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.
Ricardo Reis
Banco de Poesia da Casa Fernando Pessoa
Já agora uma outra versão, que encontrei aqui, com o título: Colhe o dia, porque és ele.
Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.
Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.
Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.
Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.
Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Qual delas será a correcta?
Eis um pequeno desafio para os próximos dias. Quem tiver o Odes que se apresente. :)
Excelente Réveillon!
Até sempre, meus amigos.
Grande abraço.
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Apontamento:
Levada pela curiosidade fui à procura de respostas em relação às duas versões desta Ode de Ricardo Reis.
O interessante destas duas versões é que ambas terão saído da
pena de Fernando Pessoa. Aliás, situação frequente em relação aos escritos que
atribuiu a Ricardo Reis, o que quer dizer que escrevia, reescrevia e reescrevia
as odes.
Parece que o que ficou assente e o que prevalecia era a
última versão, segundo as suas próprias instruções. Há editoras que levaram
isso em consideração e outras que preferiram a última versão. Ática e Aguilar preferem a primeira lição;
Bélkior opta por umas ou por outras e justifica a sua opção. Isso se
interpretei bem o que vem escrito no “ Volume III da Edição Crítica de Fernando
Pessoa-Poemas de Ricardo Reis-Imprensa Nacional Casa da Moeda”.
Então o que acontece com a Ode que aqui vos trouxe? Consta
na obra acima referida que: “Inicialmente este poema tinha 12 versos; depois, o
autor escreveu alternativas à máquina para alguns deles, indicando com precisão
os respectivos alinhamentos; estas alternativas receberam a indicação não compor, a lápis, do editor da Ática”.
Ver páginas 9 a 39, 178, 367 e 368.
Bem, então o que temos aqui? Parece-me que o meu amigo Jorge Esteves terá razão quando diz que a 2ª versão (12 versos) inscrita neste post é a versão original. Logo, a versão que apresento em primeiro lugar será a
2ª saída das mãos do autor.
Devo dizer que encontrei uma outra obra intitulada, “Fernando
Pessoa, antologia poética-Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses”, que na
página 133 traz a Ode com os seus 12 versos, tal e qual como a podemos
ler aqui.
Meus amigos, bom mesmo é consultarem as obras de que
vos falo ou outras se estiverem nisso interessados.
Abraço.
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Imagem: daqui