Em Agosto passado cumpriu-se o 100º aniversário do nascimento de Jorge Amado. Em homenagem a este grande autor brasileiro, foi inaugurada em 24 de Novembro, no Casino Estoril, uma exposição de pintura alusiva às personagens dos seus romances, muitos deles conhecidos de nós, como Tieta do Agreste, Gabriela Cravo e Canela, Capitães de Areia, Dona Flôr e Seus Dois Maridos... A sua obra encontra-se traduzida em 49 idiomas, parte dela transformada em grandes êxitos também no cinema e na televisão.
Em 15/12 vi uma entrevista ao director da Galeria de Arte do Casino Estoril, a propósito da referida exposição, pelo programa Rumos, RTP África, cujo video não consegui importar. Assim, trago este que foi inserido em Agosto último. Clicando em Mostrar mais, verão resumos da biografia de Jorge Amado e também de Nuno Lima de Carvalho, interveniente no video.
Em 15/12 vi uma entrevista ao director da Galeria de Arte do Casino Estoril, a propósito da referida exposição, pelo programa Rumos, RTP África, cujo video não consegui importar. Assim, trago este que foi inserido em Agosto último. Clicando em Mostrar mais, verão resumos da biografia de Jorge Amado e também de Nuno Lima de Carvalho, interveniente no video.
Aqui no Xaile adiro a essa homenagem e não resisto em transcrever un petit peu do romance 'Dona Flor e Seus Dois Maridos':
Vadinho, o primeiro marido de dona Flor, morreu num domingo
de carnaval, pela manhã, quando,
fantasiado de baiana, sambava num bloco, na maior animação (…)
Rodopiava em meio ao bloco, sapateava em frente à mulata, avançava para ela em floreios e umbigadas, quando, de súbito, soltou uma espécie de ronco surdo, vacilou nas pernas, adernou de um lado, rolou no chão, botando uma baba amarela pela boca onde o esgar da morte não conseguia apagar de todo o satisfeito sorriso do folião definitivo que ele fora. (…)
Rodopiava em meio ao bloco, sapateava em frente à mulata, avançava para ela em floreios e umbigadas, quando, de súbito, soltou uma espécie de ronco surdo, vacilou nas pernas, adernou de um lado, rolou no chão, botando uma baba amarela pela boca onde o esgar da morte não conseguia apagar de todo o satisfeito sorriso do folião definitivo que ele fora. (…)
Lá estava Vadinho no chão de paralelepípedos, a boca
sorrindo, todo branco e loiro, todo cheio de paz e de inocência. Dona Flor
ficou um instante parada, a contemplá-lo como se demorasse a reconhecer o
marido ou talvez, mais provavelmente, a aceitar o fato, agora indiscutível, de
sua morte.
Mas foi só um instante. Com um berro arrancado do fundo das
entranhas, atirou-se sobre Vadinho, agarrou-se ao corpo imóvel, a beijar-lhe os
cabelos, o rosto pintado de carmim, os olhos abertos, o atrevido bigode, a boca
morta, para sempre morta. (…)
Os homens do rabecão largaram o corpo em cima da cama (…) Os homens do necrotério (…) arrancaram o lençol imundo a embrulhar o cadáver, entregaram o laudo à viúva.
Vadinho ficou nu como Deus o pôs no mundo, em cima da cama do casal (…)Ao vê-lo assim (…) não podia dona Flor, por mais esforço que fizesse, deixar de recordá-lo como era na hora do desejo desatado: Vadinho não tolerava peça de roupa sobre os corpos, nem pudibundo lençol a cobri-los, o pudor não era seu forte (…)
DELICIOSO! Lê-lo ou relê-lo, eis a questão, minha gente...
Imagens: internet