Assim falava Ruy de Carvalho num ano dos anos 60, salvo erro, quando a rádio ainda era um must e quem tivesse um aparelho de rádio era um privilegiado. Transmitia-se então a Vida de São Francisco de Assis, um jovem estranho, que viveu entre 1182 e 1226. Aparentemente da noite para o dia, este jovem despoja-se de tudo, escandalizando os pais, em especial o pai, os familiares, os amigos. Destes, alguns acabariam por segui-lo. A sociedade fica em choque, como é comum dizer-se agora. E o jovem Francisco segue impávido o seu destino, devotando-se a Deus de corpo e alma. Surge agora no firmamento um outro Francisco, de sorriso gaiato, cheio de simplicidade. Ora, este Francisco de que tanto se tem falado, fala ele próprio dos pobres, da pobreza, de como a igreja deve ser uma igreja dos pobres e, mais importante ainda, refere a importância da fratellanza. Sim, porque a fraternidade não é coisa que nasça por geração espontânea. É algo que tem de ser construído com a contribuição de todos para dar frutos. No Papa Francisco já é visível o despojamento de algumas insígnias, de alguns símbolos, de alguns privilégios, de alguns ritos e rituais considerados prestigiantes para a sua condição de mais alta autoridade eclesiástica. Mas, até onde poderá ele ir? A postura deste Papa faz-me lembrar, em certa medida, 'As sandálias do pescador', um livro de Morris West, vertido em filme, no qual o autor desenrola os fios intrincados do conclave onde é eleito papa um bispo da Ucrânia, Kiril Lakota. Entre várias iniciativas, ele subverte todo o protocolo, e começa a pensar seriamente em distribuir pelos pobres a riqueza da igreja. Será que na trama isto chega a acontecer? Já não me recordo... O certo é que os fundamentos da Igreja como instituição enraízam-se num tempo longo, demasiado longo, durante o qual foi acumulando dogmas, princípios, lógicas, coroando e descoroando reis e imperadores, assumindo convictamente o lado material da vida, com todas as suas consequências. Reverter a situação, recuando aos primeiros tempos, aos primeiros cristãos, mas tendo em conta as exigências da actualidade, não seria tarefa para a próxima década. Aliás, afigura-se conveniente que não se empurre para as suas costas toda esta responsabilidade, em nome de uma esperança de renovação ou de resolução dos problemas que afectam a instituição. A renovação da Igreja seria um trabalho de todos, de eclesiásticos e sociedade civil interessada, de todo o mundo católico, quiçá de toda a pessoa de boa vontade...
Meus amigos:
Desejo-vos uma Santa Páscoa.
O dia está chuvoso e parece que a chuva vai ser uma constante durante este fim de semana. Cuidadinho nas estradas. E, lembrem-se, 'devagar se vai ao longe'...
:)
Abraços
Olinda
Obs: Uma ressalva em relação à citação constante do título, caso não estiver totalmente correcta. Ela chegou-me das brumas do tempo...