quinta-feira, 30 de maio de 2024

Busque amor novas artes...



Busque amor novas artes, novo engenho,
para matar-me, e novas esquivanças;
que não tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças:
que não temo contastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
amor um mal, que mata e não se vê;

Que dias há que na alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói e não sei porquê.




Dizia com razão Faria e Sousa que os 11 primeiros versos deste soneto eram dignos do seu mestre, Camões, mas que o último terceto era digníssimo de Apolo, o deus que presidia à inspiração poética.
 
Efectivamente, o soneto versa de modo engenhoso e subtil as vicissitudes do amor e o papel da esperança nesse jogo arriscado, que o poeta compara ao naufrágio dum mar temprestuoso. Às esquivanças do amor o namorado opunha, ou fingia opor, um certo desprendimento, vizinho da indiferença. 

Pura ilusão: era uma "perigosa segurança", que o amor, avesso à indiferença, se encarregava de desfazer, instilando-lhe na alma os germes do sofrimento.

In Líricas, Selecção prefácio e notas de Rodrigues Lapa
Pg.46




- Miragem -



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Lembro-me desta canção numa telenovela brasileira...Gosto muito dela.

. Comemoração, neste ano, dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões

quarta-feira, 29 de maio de 2024

Uma réstia de azul


Para onde nos atrai o olhar?



Meus amigos

Vou hoje de férias. Não sei se poderei visitar-vos durante esse período, um mês, dependendo da facilidade ou não de ter internet. Contudo, o Xaile de Seda, continuará, aqui, a fazer-vos companhia como vereis...

Deixo-vos, para já, a Dinola Melo, no seu jeito melodramático, e Jorge Fernando com a sua canção "Chuva". 

E mais: aqui fica a imagem trazida do blogue de Teresa Dias que nos desafia a olhar mais além.


TERRA AMADA

Terra amada, mas avara
Guardas em ti ciosamente
O tesouro que me foi dado
E tirado das minhas mãos
Quando não sabia chorar

Estoicamente aceitei o fardo
A vida ainda no seu início
Havia tempo, arranjaria outro
A solidão parecia quimérica

Terra ardente, pisei o teu solo
E nele se deu o grande milagre:
O encontro de tempos paralelos
Mas, guardaste para ti a melhor
Parte!
                               
Dinola Melo


***



CHUVA
JORGE FERNANDO
 

***

Saúde.

Abraços
Olinda



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terça-feira, 28 de maio de 2024

O nome sepultado nas águas (7)

Apesar de todas as incertezas, qualquer especialista concorda, hoje, que Dinamene foi a grande referência na construção do ideal camoniano do amor. A sua serenidade, a sua calma, o seu jeito solene e angélico de se mover e falar, a sua compreensão infinda, a paz enorme, um ser mais perene pelo carácter do que pela beleza física.

A juntar à sua formação humanista, às referências das figuras de Beatriz e Laura, em Dante e Petrarca, aperfeiçoou Camões o ideal da mulher amada: doce, paciente, branda e humilde, de um sofrimento obediente e um medo sem culpa, pura nos sentimentos, espalhando o bem em sua volta - como Dinamene -, o acontecimento mais suave da vida de Luís, um apontamento de mansidão na sua existência de tempestade.

Até 1567, ficou preso em Goa; no regresso a Portugal, é abandonado na costa de Moçambique por motivos pouco claros; aí, passados dois anos, o amigo e historiador Diogo de Couto encontra-o e fá-lo, por fim, embarcar de regresso à Pátria, dezassete anos depois de ter sido forçado a deixá-la e já sem os originais do seu Parnaso.



Em 71, obteve a licença da Inquisição de publicação para Os Lusíadas, o que viria a suceder no ano seguinte. Oito anos volvidos, pobre e abandonado, calculada a sua idade em cinquenta e seis anos, viria a morrer Luís Vaz de Camões, sem a certeza de ter salvo todas as páginas do manuscrito nem voltado a encontrar outro verdadeiro amor.

Excerto: 10 histórias de amor em Portugal, de Alexandre Borges, pgs.40/41.


Uma história de amor que põe frente a frente dois amores:
 Dinamene e a obra épica de Camões..

Quem venceu este duelo? Aparentemente, 
o manuscrito, ou seja, Os Lusíadas
dedicado a D.Sebastião.

Em vida, Luís Vaz de Camões não provou o 
sabor desta fama...


Abraço
Olinda


Último post.



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.Título da história: Dinamene e Luís de Camões
.Subtítulo: O nome sepultado nas águas (usei-o como título do post)
.Comemoração, neste ano, dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões

segunda-feira, 27 de maio de 2024

O nome sepultado nas águas (6)

O náufrago que nada por entre a exaltação das ondas, erguendo centenas de papéis manuscritos, movendo-se lento à força de um só braço, não é, neste cenário, um herói; o homem que salva a sua obra e alcança a terra, tombando, inanimado, sobrevivente único daquele naufrágio, reparemos bem, não alcança tranquilidade de alma, não se realiza, não fica feliz. Porquê?

Porque, em nome da acção aparentemente heróica, poderá ter deixado morrer o seu amor. É, antes, um ser humano destroçado, arrependido, assombrado pela memória de um rosto angélico, sonho em vida e em morte, que nunca mais o abandonará.

Aquele que se levanta, na manhã seguinte, e caminha trôpego padece de uma mágoa, de um remorso sem remédio, uma saudade que mesmo a sincera esperança de um reencontro espiritual no paraíso não consegue anular.

Arrastar os pés sangrentos, durante vinte anos, até ao dia 10 de Junho de 1580, escrevendo sonetos úteis aos séculos vindouros, mas incapazes de, por um segundo, devolver ao seu autor a verdade de um abraço, a paz de chegar a ser feliz ao lado de alguém - está é, com certeza, uma das mais bonitas e dolorosas formas tomadas pelo amor, um amor eternizado pela morte.



Mas quem era, afinal, Dinamene? Para muitos, tratar-se-ia de uma cativa chinesa, o amor oriental de Camões que adaptou, literariamente, o seu nome: Tim-Nam-Mem ou Din-Nam-Mem. Contudo, o professor José Hermano Saraiva tem outra versão, segundo a qual Camões se havia apaixonado, sim, pela filha de D. Violante, D. Joana, tese que, de facto, um soneto seu parece confirmar:

"A violeta mais bela amanhece/ no vale, por esmalte de verdura/ com seu palácio lustre e formosura/ por mais bela, Violante, te obedece";

outros textos falam de Anha, antropónimo que significava Joana; outros ainda chamam D.Violante de fera, mulher vingativa e cheia de ciúme.

Sendo sabido que D.Joana foi mandada para a Índia e que terá falecido numa viagem e que, segundo o Livro V das Ordenações Manuelinas, o amor entre um servo e a filha de um amo seriam punidos com pena de morte, o poeta terá ocultado a verdade da amada sob um nome codificado.

"Dina" seria afinal uma sigla a que corresponderia: Dona Ioana Noronha de Andrade; a totalidade do nome - Dinamene - significa "poderosa do mar" (marca irónica do seu destino) e correspondia à figura de uma ninfa, tanto em Homero como em Hesíodo (...)

Excerto: 10 histórias de amor em Portugal, de Alexandre Borges, pg 37/38/39.


Meu Deus! 

Depois de nos termos focado, aqui, em Camões e Dinamene, descobrimos que há outras nuances

Em todo o caso, ainda que não existam certezas sobre os amores do poeta, parece-me que foram amores muito infelizes, que nunca tiveram a concretização que ele teria desejado.


Abraços 

Olinda



Último excerto, a seguir...


Post 1,Post 2,Post 3,Post 4,Post 5

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.Título da história: Dinamene e Luís de Camões

.Subtítulo: O nome sepultado nas águas (usei-o como título do post)

.Comemoração, neste ano, dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões


domingo, 26 de maio de 2024

O nome sepultado nas águas (5)

 Se de um lugar alto, muito  para além da Terra, Camões pudesse presenciar o tempo que se lhe seguiu até àquele que hoje passa, talvez se alegrasse de ver que Portugal jamais seria o mesmo sem o seu poema, que a nossa História teria seguido um destino bem diferente se, naquele momento decisivo, não tivesse optado pelo simbolismo das palavras e se lançasse à amada.

Quinhentos anos depois, é de bom senso acreditar que tomou a decisão correcta, mas ele próprio, o Luís de Camões para além do poeta, o homem, esse que dor não infligiu a si mesmo?

Talvez a sabedoria comum se incline a pensar que não se trataria de um amor suficientemente grande, que Dinamene poderia não passar de uma amante como as outras de que os livros nem sempre registaram o nome, mas não é isso que a própria letra do poeta escreveu e deixou, em herança, à humanidade.

Ah! Minha Dinamene! Assim deixaste, Aquela Cativa que me Tem cativo, Alma Minha Gentil, que te Partiste e um Mover de Olhos Brando e Piedoso,

entre outros sonetos, demonstram a preponderância desta mulher na sua vida, antes e depois de morta.



O episódio que narramos nas primeiras páginas deste relato contém um paradoxo: trata-se do mais célebre da biografia camoniana e, ao mesmo tempo, permanece mergulhado em dúvidas, contradições e especulações, quase nada de preciso se sabendo acerca dele.

Camões havia sido chamado de Macau a Goa, a fim de ser julgado por acusações de apropriação de dinheiros alheios, feitas por compatriotas.
É, presumivelmente, na viagem de regresso que, na foz do rio Mecom, junto à margem do Camboja, uma tempestade leva o navio em que viaja a naufragar.

Dinamene acompanha-o na deslocação, o que, só por si, revela a sua importância junto do poeta; nessa altura, Camões tem já escrita, ao que se julga saber, grande parte do poema épico.

É deste acontecimento que retiramos a matriz nevrálgica da fotografia que guardámos para a memória colectiva do nosso autor maior: a de um homem infeliz, castigado pela vida, abandonado pelos deuses, sofredor e mártir em nome de um país inteiro; um homem que não se livra, no entanto, de um estigma de culpa, de imperfeição e de pecado.

Excerto: 10 histórias de amor em Portugal, de Alexandre Borges, pgs 35,36, 37.


Seria o amor de Camões por Dinamene tão grande 
como o demonstram os seus sonetos?

O que se sabe realmente da mente humana?

Julgá-lo com a nossa mentalidade de agora é,
na verdade, anacrónico, 
como em tudo o que a História nos narra.


Abraços

Olinda




Penúltimo excerto, a seguir...






NOTA:

Assinalou-se ontem, 25 de Maio, o Dia de África.
Em Julho dedicar-me-ei a este assunto.

Abraços


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.Título da história: Dinamene e Luís de Camões
.Subtítulo: O nome sepultado nas águas (usei-o como título dos posts)
.Comemoração, neste ano, dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões.



sábado, 25 de maio de 2024

O nome sepultado nas águas (4)

 Adormeceu

Quando despertou na manhã seguinte, deu por si estendido no interior de uma gruta. Conta, então, a lenda que terá continuado a escrever, acrescentando ao poema os últimos acontecimentos daquela madrugada, trabalhados metaforicamente e assumidos na identidade de todo um povo.

Outra versão, contudo, afirma que terá acordado numa praia, desolado, sem ninguém em torno que lhe confirmasse que ainda que ainda habitava este mundo, recapitulando, lenta e mentalmente, cada minuto de angústia. em qualquer dos casos, terá dado por si num lugar deserto, sozinho, vendo passar diante de si imagens que confundiam ainda sonho e realidade, conflitos e cenas ternas da infância.

Esta é, na verdade, somente uma das encruzilhadas conhecidas na história de amor de Luís Vaz de Camões e Dinamene. 

Afinal, nada aparece, aos dias de hoje, como certo e fidedigno. Que ela tenha sido um grande amor na sua vida, não restam dúvidas, assim como é conhecida a vida boémia do poeta, plena de romances e penas sofridas em consequência dos mesmos; de resto, quando Camões é enviado para Macau como provedor dos bens dos defuntos e ausentes na China, é, precisamente, como um castigo pelo seu envolvimento amoroso com damas da corte.



O que torna, então, especial a relação com Dinamene? Porque deve ser contada e recordada em detrimento de outras? Por duas razões fundamentais: pela essência trágica do seu corolário e pelo dramatismo que subjaz à presumível escolha que estaria implicada na morte da mulher amada: Dinamene perece no naufrágio em que Camões salva o manuscrito d'Os Lusíadas, erguendo-o das ondas com uma mão e nadando apenas com a outra.

E se Luís tivesse abandonado o poema? Se tivesse empregue todas as forças que sobravam em resgatar Dinamene? Terá ele amado mais a sua obra do que a mulher que via sepultada nas águas, mesmo à sua frente? Não nos parece uma hipótese muito válida - Dinamene fez dele seu escravo, tornou-se o maior fantasma da vida daquele homem que morreria miseravelmente em Lisboa, oito anos depois de publicar a epopeia.

Excerto: 10 histórias de amor em Portugal, de Alexandre Borges, pg.34/35.


O que pensais vós, meus queridos leitores? 

Terá Camões preterido, conscientemente, 

Dinamene a favor do manuscrito?


Abraços

Olinda


Continua...

Post 1,Post 2,Post 3


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.Título da história: Dinamene e Luís de Camões

.Subtítulo:O nome sepultado nas águas (usei-o como título dos posts)

.Comemora-se os 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões

.Imagem: Livro de Maicon Tenfen, escritor brasileiro

quinta-feira, 23 de maio de 2024

O nome sepultado nas águas (3)

Erguendo o mais alto que podia, com o braço esquerdo, centenas de páginas inquietas, com o outro alcançou o mastro que, agora separado, muito longe já do corpo destroçado do navio, se segurava à superfície das águas. Luís amarrou-se ao grande tronco e repousava, por um segundo, o peito cansado, mas Dinamene ameaçava tornar-se um ponto negro perdido na espuma.

Com um braço no ar e outro a nadar, como contaria, depois, o seu povo, arrastou-se por entre as ondas - o rio acalmado, pensou - mas a ilusão de Luís nada poderia constituir, na realidade, e o que história haveria de contar seria que não era ainda chegada a hora do perdão. E as ondas levantar-se-iam. O vento continuaria a assobiar por entre os estertores. Dinamene já não suportaria muito mais vida, a sua doçura não resistiria muito mais à agressividade. 

E Luís nadava, avançava lentamente e em rodopio, enquanto uma ideia não lhe abandonava a cabeça: "Se eu deixasse o manuscrito, se rendesse este livro às ondas, nadaria, com certeza, mais depressa." O seu punho ora se tornava mais lasso, ora cravava as unhas no papel, o olhar permanecia envidraçado, o corpo já não sentia a dor.

A pele do rosto de Dinamene ficara ainda mais pálida e ela estava longe, longe, cada vez mais longe e mais impossível para o poeta. Parecia que aceitava o seu destino. Que ninguém pudesse ser maior que o amor - ela sabia que, se se deixasse salvar, ele seria forçado a abandonar a sua obra à ira do Mecom, para nada, para sempre.




Quando o vento desceu e o rio, por fim, cedeu ao cansaço, Luís nadava longe, arfante, mecânico no rodar do único braço livre, a movimentos curtos e compassados, incapaz de pensar o que quer que fosse. Muito, muito atrás, já separados pela corrente, pedaços da barca boiando, vindo, aqui e ali, à tona, como no fim de um banquete.

Todos os tripulantes, todos os passageiros, todos os condenados e cada um dos animais dançavam, entre as algas, em silêncio, por sob os escombros, como se aqueles fossem cruzes de um cemitério inventado à presa, inútil para honrar a memória de uma ninfa que a rebentação de nenhum rio poderia arrancar à terra.

Os primeiros esgares da aurora raiavam de azul e laranja o céu; transpirando em febre, Luís dava à costa - parecia que tinha acabado de cruzar o universo inteiro. Ainda na posse dos sentidos, compreendia que estava vivo e que o manuscrito repousava, deitado, a seu lado.

Excerto: 10 histórias de amor em Portugal, de Alexandre Borges, pgs.32/33/34.


Dinamene sacrifica-se pelo manuscrito?

 "ela sabia que, se se deixasse salvar, ele seria forçado a 

abandonar a sua obra à ira do Mecom, para nada, para sempre". 

Entre ela e a obra, como escolher?

Um dilema para o poeta...



Abraços 

Olinda


Continua...


Post 1,Post 2

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.Título da história: Dinamene e Luís de Camões

.Subtítulo: O nome sepultado nas águas (que usei como título do post)

.Comemoração, neste ano, dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões

terça-feira, 21 de maio de 2024

O nome sepultado nas águas (2)

À Lua não seria permitido deixar qualquer sombra, nessa noite, iluminar, por um segundo, qualquer coisa para o eterno, ajudar o capitão a perceber a que imagem orava ou a parca visão de Luís a encontrar, naquele inferno, a pele breve de Dinamene.

Luís alcançou a caixa de madeira que rodopiava no porão. A sua fechadura estava violentada e as primeiras folhas de papel podiam já ver-se, espreitando pela tampa entreaberta, com os cantos amarelecidos a serem tragados, rapidamente, pela humidade.

Sentindo o casco abrir por debaixo dos seus pés nervosos, agarrou o manuscrito junto ao peito, apertando com toda a força que podia despender, e, gatinhando, gritando a voz rouca o nome que mal conseguia soletrar, percorria os escombros da barcaça que boiavam por entre a angústia.

Do lado de lá da barreira de destroços, com os cães presos por debaixo das traves latindo contra o temporal, a mulher esperava por ele. Parecia que tinha o mesmo brilho de sempre, solo sagrado em tempo de guerra, um oásis de paz a meio da chuva. O seu silêncio quase calava o ruído mais forte do rio em fúria.

Luís aproximou-se mais, Luís chegou-se mais um pouco, as duas metades do casco afastavam-se entre eles para que as mãos se tocassem. Vendo que ele não avançava, antes de petrificara diante do abismo, ela lançou-se para o seu lado do fim do mundo, para que pelo menos abraçá-lo ainda fosse possível. As palavras que terão trocado nunca ninguém as saberá. Os braços, envolvendo os corpos, amparavam ainda o manuscrito.

Luís agarrava-os aos dois, à vida, ao pouco de vida que lhe restava e, como duas crianças, fechavam os olhos e apertavam-nos contra o rosto, como se não ver significasse que o tempo cessasse de existir, como se as coisas se interrompessem pelo simples facto de ninguém estar a olhar.

O barco estava a ir ao fundo, a ir ao fundo para nunca mais. Os braços desenlaçaram-se e os corpos foram atirados ao prazer da rebentação das ondas. Chovia ainda, chovia cada vez mais. Dinamene via Luís perder-se por entre os esbracejares dos marinheiros à deriva; Luís via Dinamene olhá-lo, quase sem lutar, quase à beira de aceitar que era demasiado tarde para qualquer promessa.

Excerto: 10 histórias de amor em Portugal, de Alexandre Borges, pgs 30/32





Já vimos quem é esse par amoroso, pelo menos
há aqui dois nomes e um naufrágio. A perspicácia dos leitores deu a volta ao autor e eles avançaram na história. Alguns indicaram um outro elemento que só apareceria mais tarde.

Pelo andamento da tempestade poderemos prever
que as coisas não vão acabar bem.

Mas sigamos em frente...



Abraços 

Olinda


Continua...


Post 1

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imagem: net



segunda-feira, 20 de maio de 2024

O nome sepultado nas águas (1)

     1556 - As vigias ora estavam cobertas pela espuma, ora lavadas pelas águas. Aqui e ali, pequenas algas transformavam-se em monstros marinhos, de braços trepando aos tombadilhos, surgindo do breu, para inundar o olhar dos marinheiros aterrados. No convés, dois homens abraçados tremiam o frio do degredo, enquanto cada um impedia o outro de se deixar dominar, a cada vez que caíam. 

Mesas e cadeiras eram arrastadas, escadas abaixo até aos calabouços, os restos de comida alojados nas frestas da madeira dos soalhos, o imediato escondido na cozinha para se aquecer e tentar fechar as feridas dos joelhos; as velas rasgadas arrastavam as suas dores pela proa e ajudavam o assobio dos ventos a tornar-se mais aterrador. 

Dois ladrões agrilhoados, lutando contra as correntes, gritavam a quem quer que os acudisse, mas o guarda, sentado do outro lado da grade, chorando a sorte e o arrependimento, já não se poderia erguer da sua alcova, com um mastro tombado a prender-lhe o ombro e os dedos trémulos da mão ainda a tentar alcançar o molho de chaves que tilintavam trinta centímetros à sua frente.

Luís corria pela proa, atirado ao chão por uma vaga, para depois se erguer, a esforço, avançar alguns metros e ser, de novo, lançado ao ar pelo balancear da embarcação. Havia quem avistasse o capitão, ajoelhado perto do leme, rezando sabe-se lá a que deus. O negro da noite não permitia que se encontrasse a mão procurada, por entre a chuva e a luz dos relâmpagos.

De longe, se alguém o pudesse ver, aquele navio não passaria de uma folha seca da árvore que morre, projectada nos ares agitada pelo vento, para ser mastigada pelas águas e fazer-se nuvem, até reingressar no ciclo das coisas, para que nascesse, talvez, flor noutro lugar qualquer. Mas essa história não é a de que esta narrativa fala. Na história desta narrativa, não há qualquer redenção pela naturalidade do tempo, na regeneração dos corpúsculos feitos órgãos, corações, tornados novos seres vivos, alguns deles, humanos.

A casca de noz que dançava irracional a meio das ondas não teria um minuto para a salvação, em cada um dos seus homens, no olhar das suas mulheres, uma a uma, chamada pelo nome próprio. Luís corria, Luís corria mais um pouco, e era deitado ao chão, escorregava pelo barco balanceado pela tempestade, era arrastado com outros homens pelos restos do abrigos, até que os ossos embatessem nos corpos daqueles que se haviam já rendido.

Excerto: 10 histórias de amor em Portugal, de Alexandre Borges, pgs 28 a 30



Meus amigos, isto é uma história de amor. Hoje não avanço 

muito mais para vos dar a oportunidade de adivinhardes 

de quem se trata, isto é, que par é este... 


Abraços

Olinda


Continua...


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quinta-feira, 16 de maio de 2024

Favo de Teu Nome




 Amoráveis os dias, assim colhidos

Como pétalas em teu regaço

E a doçura de teus olhos

Onde aportam todas as viagens


Deixemos, sim, que o tempo se faça solstício

E do momento guardemos a doce espera

E o favo de teu nome. E desfolhemos

Os dedos numa carícia breve

Como se fora a brisa

Sobre a pele.

Manuel Veiga

In: Coreografia dos Sentidos
pg.46


Nasceu em Matela, concelho de Vimioso, Trás-os-Montes. É licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa. Exerceu advocacia alguns anos no início de carreira, que depois prosseguiu como consultor Jurídico em Municípios da Área Metropolitana de Lisboa e, mais tarde, como Inspetor Superior da Inspeção Geral da Educação, onde desempenhou funções no respetivo Gabinete Jurídico. 
Veja mais aqui, inclusivamente as 
obras publicadas


***




Blogue do Autor:




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Imagem: pixabay

domingo, 12 de maio de 2024

Terra das Acácias

 Para a Ana Tapadas - Rara Avis





Presença Africana

E apesar de tudo,
ainda sou a mesma!
Livre esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!
Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a Irmã-Mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto...

A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do dendém
nascendo dos abraços das palmeiras...

A do sol bom, mordendo
o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...

Sim!, ainda sou a mesma.
A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11!...Rua 11!...)
pelos meninos
de barriga inchada e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias,
de tronco nu e musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...

E eu revendo ainda, e sempre, nela,
aquela
longa história inconsequente...

Minha terra...
Minha, eternamente...

Terra das acácias, dos dongos,
dos colios baloiçando, mansamente...
Terra!
Ainda sou a mesma.
Ainda sou a que num canto novo
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu povo!




Alda Pires Barreto de Lara e Albuquerque, mais conhecida por Alda Lara, nasceu a 9 de junho de 1930, Benguela, Angola e faleceu a 30 de janeiro de 1962, em Cambambe, Angola. Foi uma poetisa e médica angolana com origem portuguesa.  aqui


Sebastião Antunes e Luís Represas


No dia em que nos 
vamos encontrar


***


Hoje comemora-se o Dia das Mães no Brasil. Os meus Parabéns
e Votos de felicidades a Todas as Mães.







Olá, Ana

O motivo da dedicatória está contido no comentário a este post:

Eu pensei, de imediato, nalguns poemas de Alda Lara.

E então, lembrei-me de revisitar os seus poemas e trazer este.

Outra coisa: 
Fiquei a conhecer Sebastião Antunes na tua penúltima publicação.
E gostei.

Desejo bom fim-de-semana a todos os amigos que por aqui passarem.

Abraços
Olinda


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quarta-feira, 8 de maio de 2024

Autos de Gil Vicente

   Se, no Auto da Alma, a dominante são os sentimentos piedosos e a vitória tranquila do Bem sobre o Mal, não será essa a tónica geral das peças. No Auto da Barca do Inferno (1517), a mais importante da Trilogia das Barcas (Inferno, Purgatório e Glória), os critérios de selecção serão mais mordazes e exigentes. Nela, o Fidalgo é condenado por ter levado uma vida dissoluta de luxúria. O Onzeneiro (agiota) perde-se pela ganância, usura e avareza. O Sapateiro vai para a Barca do Inferno por roubar o povo no seu ofício e por falsidade religiosa. O Frade e a Amante não vão para o Paraíso pelo seu falso moralismo. Brísida Vaz, feiticeira e alcoviteira, vai para o Inferno por essas práticas e ainda a da prostituição. O Judeu, que se faz acompanhar de um bode, é condenado por desrespeitar a religião cristã. O Corregedor e o Procurador não têm salvação por terem usado o poder judicial em proveito próprio. O Enforcado, que cometeu crimes ao serviço de Garcia Moniz, também é condenado.

   Só têm acesso à Barca do Paraíso o Parvo, pela sua simplicidade e modéstia, e os Quatro Cavaleiros que morreram nas Cruzadas pela vitória do cristianismo.

   Testemunha de um tempo de mudança e de rápida riqueza trazida pelas caravelas - bem como milhares de escravos -, Gil Vicente não se deixa embalar na vertigem do presente. Pelo contrário, denuncia-a a cada passo, cara a cara com a realeza, a fidalguia do paço, o clero e os altos funcionários. (Excerto) *



Gil Vicente (c. 1465 – c. 1536) é considerado o primeiro grande dramaturgo português, além de poeta de renome. Enquanto homem de teatro, parece ter também desempenhado as tarefas de músico, ator e encenador. É considerado o pai do teatro português, ou mesmo do teatro ibérico, já que também escreveu em castelhano — partilhando a paternidade da dramaturgia espanhola com Juan del Encina. Mais aqui

***

Avançando no tempo. 
A 9ª Sinfonia de Beethoven, completa 200 anos. Foi apresentada pela primeira vez em 7 de maio de 1824, no Kärntnertortheater, em Viena, na Áustria.

O regente foi Michael Umlauf, diretor musical do teatro, e Beethoven — dissuadido da regência pelo estágio avançado de sua surdez — teve direito a um lugar especial no palco, junto ao maestro. 





O Hino da Alegria, ou Ode à Alegria, poema escrito por Friedrich Schiller em 1785 e tocado no quarto movimento da 9.ª sinfonia de Ludwig van Beethoven, foi adoptado como Hino da União Europeia.

Neste poema Schiller expressa uma visão idealista da raça humana como irmandade, uma visão que tanto este como Beethoven partilhavam.



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*Excerto: Livros- Tudo o que é preciso ler - 
Christiane Zschirnt, pg.339
Imagem: Net

domingo, 5 de maio de 2024

MÃE




Em Tudo o que Fiz Bem Pus um Pouco de Ti


Eis o teu rosto iluminado por esta hora de maio.
Ao filho autêntico, basta fechar os olhos para encontrar o rosto da sua mãe.
A fronteira que separa o dentro do fora é vaga de propósito, mais exata é a fronteira dos meses.

Mãe, as tardes de maio não são um acaso.
Pus um pouco de ti naquilo que fiz de mais importante.
Onde existir terra estás tu, dás força e horizonte.

O ar não permitiria respiração se não te contivesse.
A água não seria capaz de alimentar sem a tua presença líquida.
O fogo não chegaria a acender se não incluísse o teu mistério no seu mistério.
Estavas já no primeiro início do firmamento, nesse rugido que encheu a superfície do céu e da terra, que rasgou as trevas; da mesma maneira, estarás no seu último fim.

Estás antes e depois.
Estás na lenta passagem da eternidade.
Mãe, atravessas a vida e a morte como a verdade atravessa o tempo, como os nomes atravessam aquilo que nomeiam.
Sabes que criei tudo o que há e sabes também que não criei tudo o que poderia haver.

Entre as faltas evidentes, estão palavras capazes de dizer a tua beleza.
Indistintas do silêncio, essas palavras esperam por um tempo que não chegará e, assim, fazem com que a tua beleza seja impossível.
Essa é a natureza do divino, existe e é impossível.

Mãe, a falta de palavras para dizer a tua beleza não é um acaso.
A tua beleza não quer ser dita, prefere ser contemplada.
Os olhos não têm a ambição de possuir.

A tua beleza é a tua liberdade.
Por isso, mãe, por amor e respeito, pus um pouco de ti em tudo o que fiz.
Não se pode olhar para qualquer ponto desta obra sem te ver.
Mãe, este instante não é um acaso.
Em tudo o que fiz bem pus um pouco de ti.

José Luís Peixoto, 
in 'Em Teu Ventre'


Antigamente o Dia da Mãe festejava-se no dia 8 de Dezembro, um feriado da Igreja Católica. Depois foi definido como sendo o primeiro domingo do mês de Maio. Mas não nos incomoda pois não é preciso um dia específico para se falar da nossa Mãe, não é verdade? Ou das Mães em geral. Aproveitemo-lo mesmo assim...

Como vêem, trago para assinalá-lo as palavras de um lindo texto de 
José Luís Peixoto, escritor que admiro.

Além disso, também se comemora hoje o 
Dia Mundial da Língua Portuguesa,
data criada pela CPLP. 



D.A.M.A.


 MÃE



Desejo a Todas as Mães um dia Feliz.

Grande abraço
Olinda


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Poema: Citador

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Painéis fotovoltaicos

Na ensolarada Califórnia parece que há luz a mais. Os telhados estão pejados de painéis solares. Foi dado tanto incentivo para que as pessoas os adoptassem que agora são tantos que brigam com a rede eléctrica. Não há fome que não dê em fartura.

Por cá também o Sol não se faz rogado, em certos dias. No Verão vai ser em maior quantidade. Tenho visto alguma publicidade por cá em o que João imita o Manuel que imita o Joaquim que imita a Maria...

Qualquer dia estaremos com o mesmo problema da Califórnia. Mas até chegar ao ponto de termos luz barata vamos ter muito que penar.




Ora veja esta notícia.


Boa sexta-feira, meus amigos.

Abraços

Olinda

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Dia do Trabalhador

É a primeira vez que assinalo, aqui, o 1º de Maio. Nestes 50 anos da Revolução achei por bem mencioná-lo. Foi graças a esse acontecimento, que nos trouxe a liberdade de expressão e de estar, que se tem podido festejar o Dia do Trabalhador, como é designado.

Hoje há que festejar o Dia e relembrar uma vez mais o país que tínhamos. E nada melhor do que Ary dos Santos, com a sua verve poética e declamação inspiradora para nos transmitir todos os detalhes.


Era uma vez um País
....onde entre o mar e a guerra,
 vivia o mais infeliz 
dos povos à beira-terra...



Ary dos Santos 
As Portas que Abril Abriu

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E Graça Pires, neste belo poema, fala na mudança operada nas gentes depois da Revolução de Abril de 1974:


O país não parecia o mesmo,

Antes tinha um povo tristonho,

cabisbaixo, desacertado com a esperança.

Agora dava gosto ver e ouvir as pessoas,

mais leves, mais jovens, com braçadas

de flores a intuir alegrias futuras.

Não havia mágoas neste dia prodigioso

em que tudo era novo outra vez.

Alta noite iriam todos para casa

porque a febre dos corpos lhes apetecia.

in: Era madrugada em Lisboa
pg 31


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Fernando Tordo


-Adeus Tristeza-


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Esta data tem origem na primeira manifestação de 500 mil trabalhadores nas ruas de Chicago, e numa greve geral em todos os Estados Unidos, em 1886.

Três anos depois, em 1891, o Congresso Operário Internacional convocou, em França, uma manifestação anual, em homenagem às lutas sindicais de Chicago. A primeira acabou com 10 mortos, em consequência da intervenção policial.

Foram os factos históricos que transformaram o 1 de maio no Dia do Trabalhador. Até 1886, os trabalhadores jamais pensaram exigir os seus direitos, apenas trabalhavam.  (
Veja mais aqui)


***



Os meus agradecimentos a todos quantos me acompanharam durante o último mês, em que se versou, aqui, sobre a Liberdade.

Abraços

Olinda 

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Querida Olinda,

Fica-me um sorriso nos lábios
Nem sei se sobe ou desce
Digo que me inunda
Somos povo liberto e libertário
Cravos rubros e abertos
Como abraços fraternos
E quando a inquietação nos dominar
Lembremos que somos "filhos da madrugada"
Felizes por vivermos uma revolução
Perfumada de sentimentos de união
E acreditarmos que viver é lutar
Por um poema maior
Feito de vida, sangue e lágrimas
Lágrimas que vertem a comoção
De dignificar o mundo do trabalho
E honrar o campo, a enxada, o arado
A caneta, o papel e o livro
Saído das mãos do trabalhador.

Um abraço imenso.

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Querida Teresa

Emocionada com o seu gesto tão lindo.
Um poema que nos toca o coração.
Uma homenagem ao 25 de Abril e ao
Dia do Trabalhador. 
Uma surpresa muito muito agradável. 
:)
Beijinhos
Olinda


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José Carlos Pereira Ary dos Santos
(Lisboa, São Sebastião da Pedreira, 7 de Dezembro de 1937– Lisboa, Santiago, 18 de Janeiro de 1984) foi um poeta e declamador português.

Graça Pires - Do seu Livro mais recente:
 "Era madrugada em Lisboa - Louvor a um dia com tantos dias dentro"