quinta-feira, 30 de maio de 2024
Busque amor novas artes...
quarta-feira, 29 de maio de 2024
Uma réstia de azul
terça-feira, 28 de maio de 2024
O nome sepultado nas águas (7)
Apesar de todas as incertezas, qualquer especialista concorda, hoje, que Dinamene foi a grande referência na construção do ideal camoniano do amor. A sua serenidade, a sua calma, o seu jeito solene e angélico de se mover e falar, a sua compreensão infinda, a paz enorme, um ser mais perene pelo carácter do que pela beleza física.
A juntar à sua formação humanista, às referências das figuras de Beatriz e Laura, em Dante e Petrarca, aperfeiçoou Camões o ideal da mulher amada: doce, paciente, branda e humilde, de um sofrimento obediente e um medo sem culpa, pura nos sentimentos, espalhando o bem em sua volta - como Dinamene -, o acontecimento mais suave da vida de Luís, um apontamento de mansidão na sua existência de tempestade.
Até 1567, ficou preso em Goa; no regresso a Portugal, é abandonado na costa de Moçambique por motivos pouco claros; aí, passados dois anos, o amigo e historiador Diogo de Couto encontra-o e fá-lo, por fim, embarcar de regresso à Pátria, dezassete anos depois de ter sido forçado a deixá-la e já sem os originais do seu Parnaso.
Em 71, obteve a licença da Inquisição de publicação para Os Lusíadas, o que viria a suceder no ano seguinte. Oito anos volvidos, pobre e abandonado, calculada a sua idade em cinquenta e seis anos, viria a morrer Luís Vaz de Camões, sem a certeza de ter salvo todas as páginas do manuscrito nem voltado a encontrar outro verdadeiro amor.
Excerto: 10 histórias de amor em Portugal, de Alexandre Borges, pgs.40/41.
segunda-feira, 27 de maio de 2024
O nome sepultado nas águas (6)
O náufrago que nada por entre a exaltação das ondas, erguendo centenas de papéis manuscritos, movendo-se lento à força de um só braço, não é, neste cenário, um herói; o homem que salva a sua obra e alcança a terra, tombando, inanimado, sobrevivente único daquele naufrágio, reparemos bem, não alcança tranquilidade de alma, não se realiza, não fica feliz. Porquê?
Porque, em nome da acção aparentemente heróica, poderá ter deixado morrer o seu amor. É, antes, um ser humano destroçado, arrependido, assombrado pela memória de um rosto angélico, sonho em vida e em morte, que nunca mais o abandonará.
Aquele que se levanta, na manhã seguinte, e caminha trôpego padece de uma mágoa, de um remorso sem remédio, uma saudade que mesmo a sincera esperança de um reencontro espiritual no paraíso não consegue anular.
Arrastar os pés sangrentos, durante vinte anos, até ao dia 10 de Junho de 1580, escrevendo sonetos úteis aos séculos vindouros, mas incapazes de, por um segundo, devolver ao seu autor a verdade de um abraço, a paz de chegar a ser feliz ao lado de alguém - está é, com certeza, uma das mais bonitas e dolorosas formas tomadas pelo amor, um amor eternizado pela morte.
Mas quem era, afinal, Dinamene? Para muitos, tratar-se-ia de uma cativa chinesa, o amor oriental de Camões que adaptou, literariamente, o seu nome: Tim-Nam-Mem ou Din-Nam-Mem. Contudo, o professor José Hermano Saraiva tem outra versão, segundo a qual Camões se havia apaixonado, sim, pela filha de D. Violante, D. Joana, tese que, de facto, um soneto seu parece confirmar:
"A violeta mais bela amanhece/ no vale, por esmalte de verdura/ com seu palácio lustre e formosura/ por mais bela, Violante, te obedece";
outros textos falam de Anha, antropónimo que significava Joana; outros ainda chamam D.Violante de fera, mulher vingativa e cheia de ciúme.
Sendo sabido que D.Joana foi mandada para a Índia e que terá falecido numa viagem e que, segundo o Livro V das Ordenações Manuelinas, o amor entre um servo e a filha de um amo seriam punidos com pena de morte, o poeta terá ocultado a verdade da amada sob um nome codificado.
"Dina" seria afinal uma sigla a que corresponderia: Dona Ioana Noronha de Andrade; a totalidade do nome - Dinamene - significa "poderosa do mar" (marca irónica do seu destino) e correspondia à figura de uma ninfa, tanto em Homero como em Hesíodo (...)
Excerto: 10 histórias de amor em Portugal, de Alexandre Borges, pg 37/38/39.
Meu Deus!
Depois de nos termos focado, aqui, em Camões e Dinamene, descobrimos que há outras nuances?
Em todo o caso, ainda que não existam certezas sobre os amores do poeta, parece-me que foram amores muito infelizes, que nunca tiveram a concretização que ele teria desejado.
Abraços
Olinda
Último excerto, a seguir...
Post 1,Post 2,Post 3,Post 4,Post 5
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.Título da história: Dinamene e Luís de Camões
.Subtítulo: O nome sepultado nas águas (usei-o como título do post)
.Comemoração, neste ano, dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões
domingo, 26 de maio de 2024
O nome sepultado nas águas (5)
Se de um lugar alto, muito para além da Terra, Camões pudesse presenciar o tempo que se lhe seguiu até àquele que hoje passa, talvez se alegrasse de ver que Portugal jamais seria o mesmo sem o seu poema, que a nossa História teria seguido um destino bem diferente se, naquele momento decisivo, não tivesse optado pelo simbolismo das palavras e se lançasse à amada.
Quinhentos anos depois, é de bom senso acreditar que tomou a decisão correcta, mas ele próprio, o Luís de Camões para além do poeta, o homem, esse que dor não infligiu a si mesmo?
Talvez a sabedoria comum se incline a pensar que não se trataria de um amor suficientemente grande, que Dinamene poderia não passar de uma amante como as outras de que os livros nem sempre registaram o nome, mas não é isso que a própria letra do poeta escreveu e deixou, em herança, à humanidade.
Ah! Minha Dinamene! Assim deixaste, Aquela Cativa que me Tem cativo, Alma Minha Gentil, que te Partiste e um Mover de Olhos Brando e Piedoso,
entre outros sonetos, demonstram a preponderância desta mulher na sua vida, antes e depois de morta.
sábado, 25 de maio de 2024
O nome sepultado nas águas (4)
Adormeceu
Quando despertou na manhã seguinte, deu por si estendido no interior de uma gruta. Conta, então, a lenda que terá continuado a escrever, acrescentando ao poema os últimos acontecimentos daquela madrugada, trabalhados metaforicamente e assumidos na identidade de todo um povo.
Outra versão, contudo, afirma que terá acordado numa praia, desolado, sem ninguém em torno que lhe confirmasse que ainda que ainda habitava este mundo, recapitulando, lenta e mentalmente, cada minuto de angústia. em qualquer dos casos, terá dado por si num lugar deserto, sozinho, vendo passar diante de si imagens que confundiam ainda sonho e realidade, conflitos e cenas ternas da infância.
Esta é, na verdade, somente uma das encruzilhadas conhecidas na história de amor de Luís Vaz de Camões e Dinamene.
Afinal, nada aparece, aos dias de hoje, como certo e fidedigno. Que ela tenha sido um grande amor na sua vida, não restam dúvidas, assim como é conhecida a vida boémia do poeta, plena de romances e penas sofridas em consequência dos mesmos; de resto, quando Camões é enviado para Macau como provedor dos bens dos defuntos e ausentes na China, é, precisamente, como um castigo pelo seu envolvimento amoroso com damas da corte.
O que torna, então, especial a relação com Dinamene? Porque deve ser contada e recordada em detrimento de outras? Por duas razões fundamentais: pela essência trágica do seu corolário e pelo dramatismo que subjaz à presumível escolha que estaria implicada na morte da mulher amada: Dinamene perece no naufrágio em que Camões salva o manuscrito d'Os Lusíadas, erguendo-o das ondas com uma mão e nadando apenas com a outra.
E se Luís tivesse abandonado o poema? Se tivesse empregue todas as forças que sobravam em resgatar Dinamene? Terá ele amado mais a sua obra do que a mulher que via sepultada nas águas, mesmo à sua frente? Não nos parece uma hipótese muito válida - Dinamene fez dele seu escravo, tornou-se o maior fantasma da vida daquele homem que morreria miseravelmente em Lisboa, oito anos depois de publicar a epopeia.
Excerto: 10 histórias de amor em Portugal, de Alexandre Borges, pg.34/35.
O que pensais vós, meus queridos leitores?
Terá Camões preterido, conscientemente,
Dinamene a favor do manuscrito?
Abraços
Olinda
Continua...
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.Título da história: Dinamene e Luís de Camões
.Subtítulo:O nome sepultado nas águas (usei-o como título dos posts)
.Comemora-se os 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões
.Imagem: Livro de Maicon Tenfen, escritor brasileiro
quinta-feira, 23 de maio de 2024
O nome sepultado nas águas (3)
Erguendo o mais alto que podia, com o braço esquerdo, centenas de páginas inquietas, com o outro alcançou o mastro que, agora separado, muito longe já do corpo destroçado do navio, se segurava à superfície das águas. Luís amarrou-se ao grande tronco e repousava, por um segundo, o peito cansado, mas Dinamene ameaçava tornar-se um ponto negro perdido na espuma.
Com um braço no ar e outro a nadar, como contaria, depois, o seu povo, arrastou-se por entre as ondas - o rio acalmado, pensou - mas a ilusão de Luís nada poderia constituir, na realidade, e o que história haveria de contar seria que não era ainda chegada a hora do perdão. E as ondas levantar-se-iam. O vento continuaria a assobiar por entre os estertores. Dinamene já não suportaria muito mais vida, a sua doçura não resistiria muito mais à agressividade.
E Luís nadava, avançava lentamente e em rodopio, enquanto uma ideia não lhe abandonava a cabeça: "Se eu deixasse o manuscrito, se rendesse este livro às ondas, nadaria, com certeza, mais depressa." O seu punho ora se tornava mais lasso, ora cravava as unhas no papel, o olhar permanecia envidraçado, o corpo já não sentia a dor.
A pele do rosto de Dinamene ficara ainda mais pálida e ela estava longe, longe, cada vez mais longe e mais impossível para o poeta. Parecia que aceitava o seu destino. Que ninguém pudesse ser maior que o amor - ela sabia que, se se deixasse salvar, ele seria forçado a abandonar a sua obra à ira do Mecom, para nada, para sempre.
Quando o vento desceu e o rio, por fim, cedeu ao cansaço, Luís nadava longe, arfante, mecânico no rodar do único braço livre, a movimentos curtos e compassados, incapaz de pensar o que quer que fosse. Muito, muito atrás, já separados pela corrente, pedaços da barca boiando, vindo, aqui e ali, à tona, como no fim de um banquete.
Todos os tripulantes, todos os passageiros, todos os condenados e cada um dos animais dançavam, entre as algas, em silêncio, por sob os escombros, como se aqueles fossem cruzes de um cemitério inventado à presa, inútil para honrar a memória de uma ninfa que a rebentação de nenhum rio poderia arrancar à terra.
Os primeiros esgares da aurora raiavam de azul e laranja o céu; transpirando em febre, Luís dava à costa - parecia que tinha acabado de cruzar o universo inteiro. Ainda na posse dos sentidos, compreendia que estava vivo e que o manuscrito repousava, deitado, a seu lado.
Excerto: 10 histórias de amor em Portugal, de Alexandre Borges, pgs.32/33/34.
Dinamene sacrifica-se pelo manuscrito?
"ela sabia que, se se deixasse salvar, ele seria forçado a
abandonar a sua obra à ira do Mecom, para nada, para sempre".
Entre ela e a obra, como escolher?
Um dilema para o poeta...
Abraços
Olinda
Continua...
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.Título da história: Dinamene e Luís de Camões
.Subtítulo: O nome sepultado nas águas (que usei como título do post)
.Comemoração, neste ano, dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões
terça-feira, 21 de maio de 2024
O nome sepultado nas águas (2)
À Lua não seria permitido deixar qualquer sombra, nessa noite, iluminar, por um segundo, qualquer coisa para o eterno, ajudar o capitão a perceber a que imagem orava ou a parca visão de Luís a encontrar, naquele inferno, a pele breve de Dinamene.
Luís alcançou a caixa de madeira que rodopiava no porão. A sua fechadura estava violentada e as primeiras folhas de papel podiam já ver-se, espreitando pela tampa entreaberta, com os cantos amarelecidos a serem tragados, rapidamente, pela humidade.
Sentindo o casco abrir por debaixo dos seus pés nervosos, agarrou o manuscrito junto ao peito, apertando com toda a força que podia despender, e, gatinhando, gritando a voz rouca o nome que mal conseguia soletrar, percorria os escombros da barcaça que boiavam por entre a angústia.
Do lado de lá da barreira de destroços, com os cães presos por debaixo das traves latindo contra o temporal, a mulher esperava por ele. Parecia que tinha o mesmo brilho de sempre, solo sagrado em tempo de guerra, um oásis de paz a meio da chuva. O seu silêncio quase calava o ruído mais forte do rio em fúria.
Luís aproximou-se mais, Luís chegou-se mais um pouco, as duas metades do casco afastavam-se entre eles para que as mãos se tocassem. Vendo que ele não avançava, antes de petrificara diante do abismo, ela lançou-se para o seu lado do fim do mundo, para que pelo menos abraçá-lo ainda fosse possível. As palavras que terão trocado nunca ninguém as saberá. Os braços, envolvendo os corpos, amparavam ainda o manuscrito.
Luís agarrava-os aos dois, à vida, ao pouco de vida que lhe restava e, como duas crianças, fechavam os olhos e apertavam-nos contra o rosto, como se não ver significasse que o tempo cessasse de existir, como se as coisas se interrompessem pelo simples facto de ninguém estar a olhar.
O barco estava a ir ao fundo, a ir ao fundo para nunca mais. Os braços desenlaçaram-se e os corpos foram atirados ao prazer da rebentação das ondas. Chovia ainda, chovia cada vez mais. Dinamene via Luís perder-se por entre os esbracejares dos marinheiros à deriva; Luís via Dinamene olhá-lo, quase sem lutar, quase à beira de aceitar que era demasiado tarde para qualquer promessa.
Excerto: 10 histórias de amor em Portugal, de Alexandre Borges, pgs 30/32
Abraços
Olinda
Continua...
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imagem: netsegunda-feira, 20 de maio de 2024
O nome sepultado nas águas (1)
1556 - As vigias ora estavam cobertas pela espuma, ora lavadas pelas águas. Aqui e ali, pequenas algas transformavam-se em monstros marinhos, de braços trepando aos tombadilhos, surgindo do breu, para inundar o olhar dos marinheiros aterrados. No convés, dois homens abraçados tremiam o frio do degredo, enquanto cada um impedia o outro de se deixar dominar, a cada vez que caíam.
Mesas e cadeiras eram arrastadas, escadas abaixo até aos calabouços, os restos de comida alojados nas frestas da madeira dos soalhos, o imediato escondido na cozinha para se aquecer e tentar fechar as feridas dos joelhos; as velas rasgadas arrastavam as suas dores pela proa e ajudavam o assobio dos ventos a tornar-se mais aterrador.
Dois ladrões agrilhoados, lutando contra as correntes, gritavam a quem quer que os acudisse, mas o guarda, sentado do outro lado da grade, chorando a sorte e o arrependimento, já não se poderia erguer da sua alcova, com um mastro tombado a prender-lhe o ombro e os dedos trémulos da mão ainda a tentar alcançar o molho de chaves que tilintavam trinta centímetros à sua frente.
Luís corria pela proa, atirado ao chão por uma vaga, para depois se erguer, a esforço, avançar alguns metros e ser, de novo, lançado ao ar pelo balancear da embarcação. Havia quem avistasse o capitão, ajoelhado perto do leme, rezando sabe-se lá a que deus. O negro da noite não permitia que se encontrasse a mão procurada, por entre a chuva e a luz dos relâmpagos.
De longe, se alguém o pudesse ver, aquele navio não passaria de uma folha seca da árvore que morre, projectada nos ares agitada pelo vento, para ser mastigada pelas águas e fazer-se nuvem, até reingressar no ciclo das coisas, para que nascesse, talvez, flor noutro lugar qualquer. Mas essa história não é a de que esta narrativa fala. Na história desta narrativa, não há qualquer redenção pela naturalidade do tempo, na regeneração dos corpúsculos feitos órgãos, corações, tornados novos seres vivos, alguns deles, humanos.
A casca de noz que dançava irracional a meio das ondas não teria um minuto para a salvação, em cada um dos seus homens, no olhar das suas mulheres, uma a uma, chamada pelo nome próprio. Luís corria, Luís corria mais um pouco, e era deitado ao chão, escorregava pelo barco balanceado pela tempestade, era arrastado com outros homens pelos restos do abrigos, até que os ossos embatessem nos corpos daqueles que se haviam já rendido.
Excerto: 10 histórias de amor em Portugal, de Alexandre Borges, pgs 28 a 30
Meus amigos, isto é uma história de amor. Hoje não avanço
muito mais para vos dar a oportunidade de adivinhardes
de quem se trata, isto é, que par é este...
Abraços
Olinda
Continua...
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quinta-feira, 16 de maio de 2024
Favo de Teu Nome
Amoráveis os dias, assim colhidos
Como pétalas em teu regaço
E a doçura de teus olhos
Onde aportam todas as viagens
Deixemos, sim, que o tempo se faça solstício
E do momento guardemos a doce espera
E o favo de teu nome. E desfolhemos
Os dedos numa carícia breve
Como se fora a brisa
Sobre a pele.
domingo, 12 de maio de 2024
Terra das Acácias
Para a Ana Tapadas - Rara Avis
Eu pensei, de imediato, nalguns poemas de Alda Lara.
quarta-feira, 8 de maio de 2024
Autos de Gil Vicente
Se, no Auto da Alma, a dominante são os sentimentos piedosos e a vitória tranquila do Bem sobre o Mal, não será essa a tónica geral das peças. No Auto da Barca do Inferno (1517), a mais importante da Trilogia das Barcas (Inferno, Purgatório e Glória), os critérios de selecção serão mais mordazes e exigentes. Nela, o Fidalgo é condenado por ter levado uma vida dissoluta de luxúria. O Onzeneiro (agiota) perde-se pela ganância, usura e avareza. O Sapateiro vai para a Barca do Inferno por roubar o povo no seu ofício e por falsidade religiosa. O Frade e a Amante não vão para o Paraíso pelo seu falso moralismo. Brísida Vaz, feiticeira e alcoviteira, vai para o Inferno por essas práticas e ainda a da prostituição. O Judeu, que se faz acompanhar de um bode, é condenado por desrespeitar a religião cristã. O Corregedor e o Procurador não têm salvação por terem usado o poder judicial em proveito próprio. O Enforcado, que cometeu crimes ao serviço de Garcia Moniz, também é condenado.
Só têm acesso à Barca do Paraíso o Parvo, pela sua simplicidade e modéstia, e os Quatro Cavaleiros que morreram nas Cruzadas pela vitória do cristianismo.
Testemunha de um tempo de mudança e de rápida riqueza trazida pelas caravelas - bem como milhares de escravos -, Gil Vicente não se deixa embalar na vertigem do presente. Pelo contrário, denuncia-a a cada passo, cara a cara com a realeza, a fidalguia do paço, o clero e os altos funcionários. (Excerto) *
O Hino da Alegria, ou Ode à Alegria, poema escrito por Friedrich Schiller em 1785 e tocado no quarto movimento da 9.ª sinfonia de Ludwig van Beethoven, foi adoptado como Hino da União Europeia.
Neste poema Schiller expressa uma visão idealista da raça humana como irmandade, uma visão que tanto este como Beethoven partilhavam.
domingo, 5 de maio de 2024
MÃE
Em Tudo o que Fiz Bem Pus um Pouco de Ti
Ao filho autêntico, basta fechar os olhos para encontrar o rosto da sua mãe.
A fronteira que separa o dentro do fora é vaga de propósito, mais exata é a fronteira dos meses.
Mãe, as tardes de maio não são um acaso.
Pus um pouco de ti naquilo que fiz de mais importante.
Onde existir terra estás tu, dás força e horizonte.
O ar não permitiria respiração se não te contivesse.
A água não seria capaz de alimentar sem a tua presença líquida.
O fogo não chegaria a acender se não incluísse o teu mistério no seu mistério.
Estavas já no primeiro início do firmamento, nesse rugido que encheu a superfície do céu e da terra, que rasgou as trevas; da mesma maneira, estarás no seu último fim.
Estás antes e depois.
Estás na lenta passagem da eternidade.
Mãe, atravessas a vida e a morte como a verdade atravessa o tempo, como os nomes atravessam aquilo que nomeiam.
Sabes que criei tudo o que há e sabes também que não criei tudo o que poderia haver.
Entre as faltas evidentes, estão palavras capazes de dizer a tua beleza.
Indistintas do silêncio, essas palavras esperam por um tempo que não chegará e, assim, fazem com que a tua beleza seja impossível.
Essa é a natureza do divino, existe e é impossível.
Mãe, a falta de palavras para dizer a tua beleza não é um acaso.
A tua beleza não quer ser dita, prefere ser contemplada.
Os olhos não têm a ambição de possuir.
A tua beleza é a tua liberdade.
Por isso, mãe, por amor e respeito, pus um pouco de ti em tudo o que fiz.
Não se pode olhar para qualquer ponto desta obra sem te ver.
Mãe, este instante não é um acaso.
Em tudo o que fiz bem pus um pouco de ti.
José Luís Peixoto,
sexta-feira, 3 de maio de 2024
Painéis fotovoltaicos
Na ensolarada Califórnia parece que há luz a mais. Os telhados estão pejados de painéis solares. Foi dado tanto incentivo para que as pessoas os adoptassem que agora são tantos que brigam com a rede eléctrica. Não há fome que não dê em fartura.
Por cá também o Sol não se faz rogado, em certos dias. No Verão vai ser em maior quantidade. Tenho visto alguma publicidade por cá em o que João imita o Manuel que imita o Joaquim que imita a Maria...
Qualquer dia estaremos com o mesmo problema da Califórnia. Mas até chegar ao ponto de termos luz barata vamos ter muito que penar.
quarta-feira, 1 de maio de 2024
Dia do Trabalhador
-Adeus Tristeza-
Esta data tem origem na primeira manifestação de 500 mil trabalhadores nas ruas de Chicago, e numa greve geral em todos os Estados Unidos, em 1886.
Três anos depois, em 1891, o Congresso Operário Internacional convocou, em França, uma manifestação anual, em homenagem às lutas sindicais de Chicago. A primeira acabou com 10 mortos, em consequência da intervenção policial.
Foram os factos históricos que transformaram o 1 de maio no Dia do Trabalhador. Até 1886, os trabalhadores jamais pensaram exigir os seus direitos, apenas trabalhavam. (Veja mais aqui)
Querida Olinda,
Fica-me um sorriso nos lábios
Nem sei se sobe ou desce
Digo que me inunda
Somos povo liberto e libertário
Cravos rubros e abertos
Como abraços fraternos
E quando a inquietação nos dominar
Lembremos que somos "filhos da madrugada"
Felizes por vivermos uma revolução
Perfumada de sentimentos de união
E acreditarmos que viver é lutar
Por um poema maior
Feito de vida, sangue e lágrimas
Lágrimas que vertem a comoção
De dignificar o mundo do trabalho
E honrar o campo, a enxada, o arado
A caneta, o papel e o livro
Saído das mãos do trabalhador.
Um abraço imenso.
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