domingo, 30 de outubro de 2022
Limões
sexta-feira, 28 de outubro de 2022
Que germinem rosas
Do Autor, assinalo ainda:
"Perfil dos Dias", editora Modocromia, 2019
"Do Amor e da Guerra - Fragmentos", editora Modocromia, 2018.
"Caligrafia Íntima", Poética Edições, 2017
"Do Esplendor das Coisas Possíveis", Poética Edições, 2016
"Notícias de Babilónia e Outras Metáforas", editora Modocromia, 2015.
"Poemas Cativos", Poética Editora, 2014.
Ver biografia aqui
O Blog: Relógio de Pêndulo
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Imagem: pixabay
quarta-feira, 26 de outubro de 2022
Cântico do pássaro azul em Sharpeville*
não pedem para nascer
nem para cantar.
Mas nascem e cantam
que a nossa voz é a voz incorruptível
dos momentos de angústia sem voz
e dos passos arrastados nas velhas machambas.
E se cantam e nascem
os homens magros de olheiras fundas como eu
não pediram a blasfémia
de um sol que não fosse o mesmo
para uma criança banto
e o menino africânder.
Mas homens somos
e com o mesmíssimo encanto magnífico
dos filhos que geramos
aqui estamos
na vontade viril de viver o canto que sabemos
e tornar também uma vida
a vida de voluntário que não pedimos
nem queremos
e odiamos na ganga africana que vestimos
e na ração de farinha que comemos.
E com as sementes rongas
as flores silvestres das montanhas zulos
e a dose de pólen das metralhadoras no ar de Sharpeville
um xitotonguana azul canta num braço de imbondeiro
e levanta no feitiço destes céus
a volúpia terrível do nosso voo.
José Craveirinha
(1922-2003)
quinta-feira, 20 de outubro de 2022
E ela que não vem ...
Hummm...
O velho homem perscruta o horizonte. O Sol caminha para o ocaso, já com raios difusos a tingirem-se de cores de fogo. Mais um pouco e mergulharia atrás das rochas. O céu nessa parte tomaria então cores de malva, rosa, lilás, numa profusão de encantamento. Mas esses milagres não descerrariam o cenho ao velho homem. A sua procura era outra.
Cheirava o ar. Tomava a direcção do vento. Observava o voo dos pássaros. Em cada manifestação tentava adivinhar se a brisa vinha de norte ou de sul, dando a isso a respectiva significação.
Beem...
Cruzando as mãos atrás das costas encaminha-se pensativo para a beira-mar. Senta-se no antigo cais que vai mar adentro, mar inchado de vento, mostrando em toda a sua extensão várias cristas brancas. No céu começam a amontoar-se belas nuvens cinzentas, talvez prenhes de água. Mas a desconfiança toma conta do seu coração. Para quê apresentarem-se assim se o danado do vento as tomaria para si, levando-as para longe?
No lusco-fusco, hora mágica, pensamentos de bonança invadem a sua cabeça cansada de várias estiagens. A noite vai caindo e deixa-se estar. Despontam estrelas e consegue já ver a lua. Lua cheia. Afogada em água. Mas há um circulo alaranjado à volta dela que o preocupa. Talvez não seja nada. A Via Láctea está de feição.
As ondas embalam-no na sua cadência. Deixa descair os ombros e concentra-se nos anos da sua juventude nessa espera tantas vezes infrutífera. Quanto tempo teria ficado assim? De repente, sente uma carícia nesses mesmos ombros extenuados. Depois outra e outra e outra. Muitas. Frescas e cantantes.
Abre os olhos. Levanta-se.
Ei-la, bela e majestosa!!!
Num amplo abraço abarca o mundo.
E ri, ri, ri.
Boa quinta-feira, amigos.
Abraços
Olinda
segunda-feira, 17 de outubro de 2022
Se me quiseres conhecer
quarta-feira, 12 de outubro de 2022
Tempo - essa entidade mal-amada
E, em relação a pessoas de outras culturas, de outros costumes, de outras visões, lançamos a partir do conforto do nosso sofá laivos de solidariedade, cortamos os cabelos, rasgamos as vestes. Tudo no calor do momento, que se vai arrefecendo paulatinamente até nada mais restar.
Contudo, o tempo, essa entidade que leva com as culpas das nossas indecisões até chegarmos a um ponto de não-retorno, está a nosso favor. Todos os dias dá-nos a oportunidade de olharmos à volta a fim de procurarmos consertar o que está mal.
Mas não nos iludamos: ele acabará por nos faltar, infelizmente.
Nello spazio senza fine
Con gli amori appena nati
Con gli amori già finiti
Con la gioia e col dolore
Della gente come me
Boa semana, amigos.
Abraços
Olinda