Sinto que tenho mil anos. Será que os não fiz já? Há tanto tempo que trilho por caminhos com que não sonhava sequer. O meu nascimento foi bastante conturbado, reconheço, talvez uma indicação de que aquilo que acabei por conseguir não seria fácil. Por onde terei andado? Faço um esforço. Depois de ter consolidado o meu próprio espaço à custa de trabalhos e canseiras, resolvi expandir-me um pouco. Nunca me passou pela cabeça ir para tão longe. Viajei por todos os continentes, atravessei oceanos, fiz coisas de que nem sempre me orgulhei, deixei e recebi influências.Durante esse tempo todo fiz alguma fortuna...que desapareceu na voragem do tempo. Depois, por força das circunstâncias voltei para casa, pode dizer-se que me recolhi ao lar. Para sobreviver, fiz alianças.Tudo parecia bem encaminhado e o rumo certo a tomar: Pertencer a um grupo com nome sonante, com moeda própria, com muitas e muitas promessas de permeio... Perguntar-me-ão se, depois de tanto tempo vivido, não tive filhos. Claro que tive. Muitos. Alguns deles para meu bem ou para meu mal desafiam-se no governo da minha casa. Um desafio em cujos resultados nem quero pensar. Mas, de nada me vale esconder a cabeça na areia. Maus negócios, dívidas e mais dívidas acumulam-se há já algum tempo. A somar a isso tudo a falta de visão dos meus parceiros, que não atinam com o caminho a seguir. Fazer o quê? Sinto-me com mil anos, mas ainda me faltam cento e sessenta e oito anos para os perfazer, mais coisa menos coisa. É isso, fui registado como independente e livre em mil cento e setenta e nove. Há quem diga que sou um jardim à beira-mar plantado e que na minha casa há um cabo onde a terra acaba e o mar começa...Será esta a solução? Fazer-me ao mar de novo?...