É no poema Além da Terra, Além do Céu* que Carlos Drummond de Andrade nos coloca perante o nosso destino maior que é Amar. E sempreamar e pluriamar, razão de ser e de viver. Estes seus versos são conhecidíssimos, mas temos sempre a tentação, a necessidade, a vontade de os dizer, de os ler, de os declamar. E, embora já constem de um post aqui no Xaile, apresento-vos este excerto, só porque sim:
vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.
Mas não ficamos por aqui. Encontrei um outro poema sob o signo do Amor, que vou mesmo transcrever, onde encontramos a definição do nosso destino com todas as letras:
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.
E está dito. Não há alternativa para nós senão AMAR, AMAR E AMAR. E escusem os donos do mundo de dizer o contrário, declarando guerras e desestabilizando as criaturas deste nosso universo, porque se todos nós o quisermos amar-nos-emos apesar de todos os pesares. Bastará que o queiramos.
Utópico isto? Pois que o seja. Paremos com as malquerenças e os actos que nos levam a desastres humanitários de que somos todos vítimas, em especial os inocentes.
A propósito. Dizem-nos que hoje é dia da poupança. Bem bom. E é bom que poupemos em desperdícios, poupemos na água, bem escasso, releguemos o consumismo para um plano que nos seja inacessível. Mas esbanjemos em Amor, e com urgência.
Voltando a Drummond de Andrade, aqui encontrareis 25 dos seus melhores poemas, e a respectiva análise, aliás, uma análise das várias que têm havido sobre a sua obra. Contudo, apraz-me acrescentar o seguinte, retirado de aqui:
Voltando a Drummond de Andrade, aqui encontrareis 25 dos seus melhores poemas, e a respectiva análise, aliás, uma análise das várias que têm havido sobre a sua obra. Contudo, apraz-me acrescentar o seguinte, retirado de aqui:
Quando se diz que Drummond foi o primeiro grande poeta a se afirmar depois das estreias modernistas, não se está querendo dizer que Drummond seja um modernista. De fato, herda a liberdade linguística, o verso livre, o metro livre, as temáticas cotidianas.
Mas vai além. "A obra de Drummond alcança — como Fernando Pessoa ou Jorge de Lima, Herberto Helder ou Murilo Mendes — um coeficiente de solidão, que o desprende do próprio solo da história, levando o leitor a uma atitude livre de referências, ou de marcas ideológicas, ou prospectivas", afirma Alfredo Bosi (1994).
Aproveito para indicar, a seguir, links de alguns dos poemas/contos de Drummond de Andrade, que na vossa companhia tive o prazer de ler e de trocar impressões:
E agora, José? - poema
Maneira de amar - conto que a Emília me trouxe
A Máquina do Mundo - post Centro do Mundo
Além da Terra, Além do Céu, post Do verbo amar
A Palavra mágica - poema
Tempo agora para relembrar um grande clássico: Beethoven. Fiquemos com a sua nona sinfonia dedicada "À Alegria", numa deliciosa encenação por parte do maestro, intérpretes, público, elementos imprescindíveis para que a obra de um compositor ganhe alma:
Maneira de amar - conto que a Emília me trouxe
A Máquina do Mundo - post Centro do Mundo
Além da Terra, Além do Céu, post Do verbo amar
A Palavra mágica - poema
Tempo agora para relembrar um grande clássico: Beethoven. Fiquemos com a sua nona sinfonia dedicada "À Alegria", numa deliciosa encenação por parte do maestro, intérpretes, público, elementos imprescindíveis para que a obra de um compositor ganhe alma:
E, já agora, gostaria como o amigo Pedro Luso que o Dia da Poesia no Brasil tivesse continuado a homenagear a data do nascimento de Castro Alves.
Continuação de um bom dia.
Abraço.
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04/11/2019
E VEJAM O MEU CÉU NO BLOG DA CHICA
Obrigada, Amiga :)
Beijinhos
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Nota sobre o Dia da Poesia no Brasil:
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Veja se lhe interessar:
Modernismo no Brasil
*Além da Terra, Além do Céu - também título da
Antologia de Poesia Brasileira Contemporânea –Vol III
Continuação de um bom dia.
Abraço.
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04/11/2019
E VEJAM O MEU CÉU NO BLOG DA CHICA
Obrigada, Amiga :)
Beijinhos
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Nota sobre o Dia da Poesia no Brasil:
Inicialmente comemorado a 14 de Março, data do nascimento de Castro Alves, foi posteriormente instituído o dia 31 de Outubro, assinalando o dia do nascimento de Drummond de Andrade.
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Veja se lhe interessar:
Modernismo no Brasil
*Além da Terra, Além do Céu - também título da
Antologia de Poesia Brasileira Contemporânea –Vol III