CREIO
Creio nos
anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.
in Sonetos Românticos
Amen.
Ao saudar este Ano de 2021 trago a extraordinária Natália Correia, mulher polémica na sua escrita e na sua postura, excessiva. Posições extremas na vida e com uma obra literária de respeito. Neste seu CREDO tomamos contacto com um léxico em que o maravilhoso toma assento e nos convida à descoberta da parte mais solidária da nossa visão do mundo.
E de facto andam anjos pelo mundo e é mister que acreditemos nisso. No meio da confusão que a nossa complexidade cria, em que sobressai especialmente o nosso lado lunar, não há dúvida de que aqueles que trabalham para o bem comum existem.
No nosso dia-a-dia há tanto por que agradecer a todos os que labutam para que a nossa vida seja o mais normal possível. Na saúde, no comércio, na restauração, na recolha dos nossos lixos, na agricultura e transporte de víveres, naqueles que nos vêm trazer a casa as compras que fazemos online ou por telefone, nos transportes públicos, nos voluntários que não conhecem distâncias e porfiam pelas ruas, pelos hospitais e demais instituições pelo bem-estar dos outros - aí, meus amigos, há que acreditar na ocupação do mundo pelas rosas. E é visível que coisas incríveis e assombrosas acontecem a cada instante.
No ano que acaba de nos deixar vemos sem dificuldade mulheres que em plena pandemia souberam elevar-se e trazer soluções válidas para as suas comunidades, como por exemplo Ursula von der Leyen(UE), Ângela Merkel, (Alemanha), Jacinda Ardern (Nova Zelândia), Tsai Ing-Wen (Taiwan). Tomaram nas mãos as suas responsabilidades, com lucidez, e mostraram como se faz.
Por cá, de entre um exército de gente anónima dedicadíssima, tenho a assinalar Marta Temido e Graça Freitas que sem informações concretas sobre o vírus, com a pressão insuportável vivida por todos, enfrentaram o seu dever de dar a cara e representar um ponto de apoio numa altura em que ninguém se entendia.
E confesso que creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes, em coisas que parecem transcender-nos, como a magia de crer num mundo capaz de momentos de glória e de superação. Com a nossa idiossincrasia, própria de humanos, habitamos as duas faces de uma mesma moeda, pairamos entre o lado brilhante do Sol e o obscuro. Mas com discernimento e livre arbítrio creio que temos a capacidade de proceder à leitura correcta do que poderá constituir a nossa felicidade e a dos outros.
Assim seja.
BOM ANO, meus amigos.
Abraços.
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Título do post retirado do poema transcrito
Até que foi Deusa, de Fernando Pinto Amaral,
artigo sobre Natália Correia