quarta-feira, 28 de março de 2012

Encontro

Meus amigos
A Hermínia e a Emília do ComeçardeNovo propoem um encontro na Gare do Oriente para a semana que vem. Portanto, quem estiver interessado poderá contactá-las através do email minalopes@gmail.com ou do blog. 


Ver mensagem na caixa de comentários.

terça-feira, 27 de março de 2012

Meninos de ouro


Quem diria que este país não é um país de matemáticos ou de futuros matemáticos? Ouve-se dizer que há um défice nessa área e que praticamente não há nada a fazer. Então que dizer destes jovens participantes da 30ª edição das Olimpíadas Portuguesas de Matemática, decorrido na Escola Domingos Sequeira, em Leiria? Pois, foram-lhes atribuídas nove medalhas de ouro. E, ao todo, foram distribuídas trinta e seis medalhas aos melhores alunos. Eu, que não me considero uma pessoa ligada aos números, sabem a nota que tirei num exame decisivo em determinada altura da minha vida? Não, não digo... Só vos digo que andava a marcar passo e naquele ano calhou-me um professor que apresentou a coisa com uma simplicidade tal que se fez luz na minha cabeça. Depois foi como se toda a vida eu tivesse navegado naquilo, naquele emaranhado de problemas, de fórmulas que acabaram por fazer todo o sentido. Tinha descoberto o caminho e nunca pensei que fosse tão simples. Como conclusão diria que o segredo poderá está na forma como é transmitida a matéria... Portanto, cherchez le prof... 

quinta-feira, 22 de março de 2012

Reconhecimento à Loucura

 




Já alguém sentiu a loucura
vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parece ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente
e ganhar-lhe, e ganhar-lhe
ao ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?
Tu só, loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais.
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem tas vier buscar.

Almada Negreiros
EMOÇOES - BLOG DA MARA

quarta-feira, 21 de março de 2012

As árvores e os livros

 

As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.


Jorge de Sousa Braga
         -1957-


Poema in:Instituto Camões - Imagem: os alinhavos da poesia 

segunda-feira, 19 de março de 2012

A juventude não se esquece de mim


Deixa-me estar
     E recordar
Deixa-me cantar
     E bailar
Deixa-me rir
     O riso do meu sorrir
      ...assim


A juventude não se esquece de mim
     Recordar é viver


Deixa-me cantar
Deixa-me bailar
Deixa-me poetizar
Deixa-me dedilhar


Deixa a minha guitarra gemer a escala do bordão
Deixa a surdina na sua escala chorar


Deixa-me rir
     O riso do meu sorrir
      ...assim


A juventude não se esquece de mim
     Recordar é viver


De:
A.L.S.
meu pai




Imagem:Google

domingo, 18 de março de 2012

Sem confiança...

Infelizmente, apesar das palavras portadoras de grandes verdades, aliás, já conhecidas de todos, a anáfora que as emoldura não têm o poder suficiente para empolgar este nosso país, rico em provérbios para todas as situações: palavras leva-as o vento. E o cepticismo a substituir a esperança não é coisa boa.

sábado, 17 de março de 2012

Dia da Poesia no D. Maria II

                                   


É este o título que retirei do Jornal Metro, noticiando algumas actividades poéticas que o dia 21, destinado a este tema, suscita e que diz assim:

O Teatro Nacional D.Maria II apresenta 'O Mistério e a Vertigem: Poesia para Eduardo Lourenço', no âmbito das Comemorações do dia Mundial da Poesia, que se assinala na próxima semana.Trata-se de uma leitura encenada de alguns dos principais poetas que, ao longo dos anos, são evocados no universo literário de Eduardo Lourenço, pensador, ensaísta e filósofo, que participará na leitura.
O ponto de partida da selecção  de textos foi 'Fernando, Rei da nossa Baviera', de Eduardo Lourenço, uma leitura sobre o 'destino que nos une na nossa solidão', de acordo com o próprio autor.Camões, Fernando Pessoa e os seus heterónimos, Camilo Pessanha são alguns do autores escolhidos por Margarida Lage, do Teatro Nacional. A coordenação de leitura é de João Grosso. A sessão realiza-se na véspera do Dia Mundial da Poesia, terça-feira, 20 de Março, às 19h00, no Salão Nobre do Teatro Nacional de D. Maria II, em Lisboa.

Eduardo Lourenço, nascido em 1923, homem de pensamento denso que numa entrevista de 2003, deixa transparecer de si próprio um outro eu:O que não aparece no que escrevi é o outro lado da pessoa que sou, que gosta do mundo e da vida, em estado de eterno enamoramento e com uma infinita curiosidade por tudo.

A sua OBRA é muito vasta sendo de realçar Tempo e Poesia, Poesia e Metafísica, entre tantas outras.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Na Ribeira de Deus

Concentrada, como estava, a ler Na Ribeira de Deus, de Teixeira de Sousa, quase dei um salto quando soou o telemóvel. Um pouco atabalhoadamente atendi e era um colega a convocar-me para uma reunião urgente. E disse-me: É para agoraBom, pensei eu, deve ter acontecido alguma coisa deveras importante, com este calor e essa pressa toda... Quando lá cheguei encontrei-os a todos com cara de caso e vi logo que eles também não sabiam de nada. Nisto, entrou o nosso prime. Dispôs-se logo a iniciar o seu discurso. Com a sua voz bem colocada e fisionomia de rapaz de palavra e bem comportado, começou por dizer: Meus senhores, sabeis tão bem como eu, o que me tem custado as medidas tomadas até agora, incidindo, quase exclusivamente, sobre o rendimento das famílias, cortando aqui e ali, especialmente a última que me cortou o coração, que foi o corte do subsídio de férias e de natal aos funcionários públicos e aos reformados sem contar com o aumento do imposto sobre o valor acrescentado na electricidade, no gás, em bens essenciais. Então, o que me tem tirado verdadeiramente o sono é ver como o resultado disto tudo não respeita nem as pessoas com parcos recursos...por este andar qualquer dia voltamos ao tempo das cavernas. E esperemos que a tal glaciação de que se fala há já algum tempo não aconteça durante a minha legislatura. O que eu tenho a comunicar-vos é de importância tal que convoquei os senhores da troika, logo a fmi, as agências de rating, os mercados, ou seja, os nossos credores, bem como representantes dos países que ditam as regras na união, porque este dia vai ficar na História. Aí, eu já estava em pulgas, tomando nota de tudo afanosamente, de tal modo que a esferográfica me escapou das mãos e foi parar aos pés do orador, o que distraiu, por momentos, os presentes da solenidade do momento... Mas, o nosso prime não é homem para se perturbar com tão pouco. Agarrando de novo na palavra, como só ele, comunicou que tinha encontrado uma fórmula infalível para a resolução total dos nossos problemas, ultrapassando assim os sacrifícios que tem vindo a anunciar, para o desgosto daqueles que dizem que ele tem uma atracção fatal pela austeridade. De seguida, accionou um painel electrónico, qual coelho saindo da cartola, no qual apareceram relatórios, com todos os passos discriminados, onde constavam os buracos todos em que temos caído, sucessivamente... Em cada um deles, miraculosamente, a palavra inexistente apareceu de forma iniludível. Todos, incluindo eu, bouche bée, deixámos escapar um AH! Agora, meus senhores prestai, por favor, muita atenção, porque vou explicar-vos, minuciosamente, como foi possível resolver da noite para o dia, o maior problema de todos os tempos deste querido país. Nisto, eu ouvi um som estridente, o telemóvel, a princípio não soube identificá-lo, depois um estrondo, era o livro que estava a ler rolando pelo chão e despertando-me definitivamente...


quarta-feira, 14 de março de 2012

Quântica

Existe alguém a disfarçar-se de mim
Existe um outro aos saltos
Mentais,
A sacudir-me a cabeça, a transtornar o centro
Da minha gravitação do amor
Em torno do universo.


Doem-me os nervos batidos num teclado
Por dedos intraduzíveis.
Repito ao meu pobre e solitário coração
O soneto que fiz tinha eu quarenta e dois anos:
Olha a teus pés o mundo e desespera, semeador de sombras
E quebrantos.


Olho a meus pés, ou a isso me força
A estranha natureza,
A inteligência que se substitui ao instinto,
E são múltiplas as formas de energia, um mistério aos saltos.
Afinal tudo é ou parece descontínuo.
A luz também cansa.


Falam pela minha boca
E eu semeio frente aos deuses a sombra tardia das ideias,
Nascidas quando o sol se punha
Em Vila do Conde,
Junto ao mar diverso do mar da Ilha, e choro,
Calado, o desespero da Terra.

Anthero, Areia & Água 

Armando Silva Carvalho 
-1938-
Poemário
Assírio & Alvim

terça-feira, 13 de março de 2012

Dias bonitos

Dos dias vividos, Joana resolve apenas recordar os dias mais bonitos. Estirando-se na varanda deixa que o sol lhe acaricie a face e, feliz, respira fundo. Folheia o livro que se propõe ler, mas os seus pensamentos atraiçoam-na. 
Viaja com um sorriso até os dias da sua infância. Ela e os irmãos. Ela, os irmãos e os amigos, colegas de escola. De manhã, as aulas com a professora, Dª Alice, que passava a maior parte do tempo a dormitar ou a fingir que dormitava. O certo é que na sala de aulas organizavam-se grandes festas, tudo em surdina até o dia em que eram irremediavelmente apanhados. Em consequência, grandes desafios que metiam contas, resolução de problemas matemáticos, coisa temida. De tarde, grandes romarias à beira mar, a apanha de lapas, a sua confecção no quintal da Dª Vininha, mãe de uma das amigas. Mas as brincadeiras não ficavam por aqui...à noitinha novo encontro, jogando à apanhada, ao anel que implicava severos castigos como aceitar beijinhos dos rapazes, confessar em altos gritos o seu amor por um deles, risinhos, risinhos. Até à hora em que a mãe os chamava para o jantar.

Mudando de posição, agora protegendo-se do Sol com um chapéu de palha, o livro a repousar ao lado, põe-se a pensar: Seria melhor ou pior que agora? Bem, os tempos são diferentes. Dantes era o que havia. Agora há tantos estímulos, tantas solicitações, tanta forma de as crianças e jovens ocuparem o tempo:jogos e mais jogos electrónicos, filmes, computadores, telemóveis, internet...o mundo à distância de um clique. Depois há o ballet, a escola de música, a natação, as aulas de inglês. Realmente não há comparação. Mas será que agora há tempo para serem tão somente crianças?


 


Imagem: Google      

domingo, 11 de março de 2012

Mulher


Um poema que a Lili Laranjo postou no seu blog no dia 8 e que teve a amabilidade de trazer até ao XailedeSeda:

Dia da Mulher

Mulher que foi criança...
Mulher que foi menina...
E que rápidamente cresceu...
E quando cresceu...
Tornou-se mulher...
E aí o ser que é...
Mulher... Mulher...
Mulher... Mãe...
Mulher... Avó...
Mulher... Gente...
Porque ser Mulher...
É canalizar tudo...
Tudo e todos...
E tudo gira em seu redor
E quase sempre...
Julga-se insubstituível...
No trabalho... na organização...
Na estrutura do lar...
E a Mulher... esquece-se tantas vezes...
Que também é gente...
Que precisa de ser ela própria...
De viver...
De gostar de si...
E quando consegue...
Que isto aconteça...
Ela é verdadeiramente... Mulher!...

Lili Laranjo
Stuart Carvalhais - mulher à chuva

Imagem:Google

quinta-feira, 8 de março de 2012

   Quem diz que em mulheres não há firmeza
não pode ter-vos, senhora, conhecido;
menos ainda o que diz terem nascido
de um só parto a crueldade e a beleza.


   Uma alma nobre, uma real pureza
num corpo de cristal têm ninho erguido;
convosco o próprio ser fica inibido,
e admirada de si a natureza.


   Firme sois e mulher, bem que contrários;
vosso peito hoje saia vencedor,
que ambos desfez, depois de ser sujeito.


   Bronze, jaspe, metal, mármore pários
o tempo rói; não o pode vosso amor,
que é alma de diamante em vosso peito.


Lope de Vega

Poemário
Assírio & Alvim

terça-feira, 6 de março de 2012

Alô, I.E.F.P. !

As listas de categorias, nos Centros de Emprego, deveriam ser actualizadas. Agora há outras áreas e nomenclaturas a serem contempladas, nomeadamente, técnicos e assistentes de comunicação e marketing, assistentes administrativos e comerciais, relações internacionais, engenharias várias, como sendo, engenharia ambiental, engenharia industrial, et caetera.

Mas, atente-se nisto:

Um jovem desloca-se a um Centro de Emprego de uma capital de distrito para se inscrever e candidatar-se a emprego. O funcionário, solícito e competente, entrevista-o, analisa o seu currículo e preenche a candidatura. A dificuldade apresenta-se quando ele pergunta ao jovem: Para que emprego se candidata? E o jovem responde: Para uma destas áreas, para que possuo perfil e experiência:comunicação e marketing, área comercial, relações internacionais em intercâmbio empresarial... O funcionário procura com afã alguma coisa que se lhe adeque tendo em conta a sua formação académica superior, domínio de três línguas e... Mas nada, a base de dados, obsoleta, não ajuda. De clique em clique lá consegue encontrar 'Escriturário, em geral'. E fica assim...
    
O resultado provável, será o seguinte: Quando uma empresa estiver à procura, nas inscrições da I.E.F.P., de candidatos a emprego com o perfil parecido ao do nosso jovem, não encontrará ninguém. Claro que não será por aí que se explica a taxa de 14,8% de desemprego no geral e de 35% em relação aos jovens. Mas lá que ajuda ao descalabro, ajuda...




I.E.F.P.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Ah, a Música

Quem terá deixado esquecida
esta música ouvida num canto da rua?
Ninguém de quem passa nela repara
No entanto— é ela — faltava
no dia de chuva
No meu dia de chuva?
Meu  seria decerto este  dia
pois por mais precário que eu seja
nenhuma chuva fora podia
cair se acaso em  mim não caísse
Cai   chuva   e   há   música   em   meu  coração
Era mera ilusão o dia de chuva


Ruy Belo
In: AQUELE GRANDE RIO EUFRATES
Casa Fernando Pessoa