terça-feira, 31 de janeiro de 2023

É hora!...



Sim, mais daqui a pouco abriremos a época de "caça" ao amor, nas palavras do bom amigo, Manuel Veiga. E assim será ao longo de uma quinzena que terá a duração que tiver. Quinze, vinte, trinta dias? Quem sabe? Mesmo com o mês de Fevereiro a pautar-se com vinte e oito dias, apenas. Subvertamos os calendários que não são mais do que convenções. Enquanto me chegarem poemas, textos, citações, aqui estaremos com o xaile aberto.

E não esqueceremos que há quem sofra horrores no seu quotidiano. Uma palavra ao povo Yaomani, que me chegou aqui através de um comentário de José Carlos Sant Anna. Só agora o mundo se deu conta do seu sofrimento, quando na verdade já vem de longe. Carência de tudo. E do mais básico para a sua sobrevivência.

E o amigo Jaime Portela disse aquando da remessa do seu poema:
Falar de amor é o que o mundo mais precisa neste tempo de guerra...

Com efeito, os senhores do mundo estão cada dia mais imprudentes, brincando já não com armas de fogo tradicionais, mas com armamento do mais sofisticado e perigoso. E os mais fracos e desprotegidos é que pagam com a vida.

Guerras, violência, fomes! E nós num quase recreio, aparentemente. Na realidade, buscamos a essência desse sentimento que deve habitar o coração de toda a Humanidade: O Amor.



Rimando e dançando
É o que fazem estes dois


Haja a alegria possível nessa busca.

Até já.

Grande abraço a todos.
Olinda

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"É a hora!" 
Últimas palavras do poema "Nevoeiro" - Mensagem - F. Pessoa

Imagem: pixabay

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Falemos de amor...



Como é já hábito aqui no Xaile de Seda, todos os anos edito a "Quinzena do Amor", que decorre de 01 a 15 de Fevereiro, festejando assim o Dia dos Namorados, o qual se verifica a 14 de Fevereiro. Peço sempre aos meus amigos leitores a sua contribuição com poemas, textos, seus ou de poetas e prosadores da sua preferência. 

Assim, na referida quinzena aproveitamos para falar do amor em todas as suas manifestações, seja romântico, fraterno, filial, parental, sem esquecer o amor universal que tanta falta nos faz. O mesmo é dizer que nunca é demais chamar para a nossa beira este belo sentimento e que esta nossa peregrinação pelas palavras inspiradas que existem no coração e na voz de poetas e prosadores saltem cá para fora e façam eco deste nosso desejo.

Lá no blog da Emília, Eugénio de Andrade diz-nos: É urgente o amor!!

E continuando nessa linha, transcrevo a seguir, "Coração Habitado", do mesmo autor:

Coração Habitado

Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.

Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.

Alguns pensam que são as mãos de deus
— eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.

Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece.


Eugénio de Andrade
in "Até Amanhã"


Marisa Monte
"Ainda Bem"

Portanto, caros amigos, aqui vos espero. 

Deixem, por favor, as vossas palavras no espaço dedicado aos comentários e dali os levarei para os posts que penso fazer ao longo dos primeiros quinze dias do próximo mês de Fevereiro.



Vai um cafezinho?
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Grata, desde já.

Abraços

Olinda



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Poema - in Citador

Imagens - Pixabay

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Amílcar Cabral - o homem que sonhava com a concórdia

 



POEMA

Quem é que não se lembra
Daquele grito que parecia trovão?!
– É que ontem
Soltei meu grito de revolta.
Meu grito de revolta ecoou pelos vales mais longínquos da Terra,
Atravessou os mares e os oceanos,
Transpôs os Himalaias de todo o Mundo,
Não respeitou fronteiras
E fez vibrar meu peito...

Meu grito de revolta fez vibrar os peitos de todos os Homens,
Confraternizou todos os Homens
E transformou a Vida...

... Ah! O meu grito de revolta que percorreu o Mundo,
Que não transpôs o Mundo,
O Mundo que sou eu!

Ah! O meu grito de revolta que feneceu lá longe,
Muito longe,
Na minha garganta!

Na garganta de todos os Homens

   (1924-1973)


"Nós, em princípio, o nosso problema não é o de nos desligarmos do povo português. Se porventura em Portugal houvesse um regime que estivesse disposto a construir não só o futuro e o bem-estar do povo de Portugal mas também o nosso, mas em pé de absoluta igualdade, quer dizer que o Presidente da República pudesse ser de Cabo Verde, da Guiné, como de Portugal, etc., que todas as funções estatais, administrativas, etc. fossem igualmente possíveis para toda a gente, nós não veríamos nenhuma necessidade de estar a fazer a luta pela independência, porque todos já seriam independentes, num quadro humano muito mais largo e talvez muito mais eficaz do ponto de vista da História. ..."



Africa Tabanka
Eneida Marta


Amílcar Cabral foi assassinado a 20 de Janeiro de 1973.


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Veja, se lhe interessar, outros momentos em que se falou deste Homem, e de outros poetas que fazem parte do grupo que produziu a chamada "Poesia de Combate", aqui no Xaile.
Poema - daqui

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Mais um ano...

Com efeito, mais um ano cumprido neste "Xaile de Seda", que assinalará o seu 12º aniversário no próximo dia 22.

Daqui, muito se tem observado do mundo que roda sem parar, nem sempre seguindo o sentido pré-estabelecido, metaforicamente falando. Nos seus efectivos movimentos de rotação e translação, com a sucessão dos dias e das noites, e dos anos, respectivamente, a terra cumpre o seu desígnio, ora mansamente ora mostrando como a maltratamos. E, assim, também saímos prejudicados, fruto das nossas más decisões.

Da minha parte, no que concerne a este blog existe a decisão, boa ou má, de publicar temas que se tornam extensos, reconheço. Quando iniciei este espaço disse para comigo:
 
"Vou fazer textos curtos. As correrias de hoje em dia não dão tempo para grandes leituras, ainda por cima se o assunto não for apelativo". 

Mas, estes meus bons propósitos foram por água abaixo. Privilegiando antes de mais autores que escrevem em língua portuguesa, existe em mim uma certa curiosidade em anotar as alterações que este idioma vai tendo ao longo dos tempos nas suas múltiplas viagens. E tenho reparado que as várias latitudes, os climas, o modo de estar, a transmissão de ideias, vão circulando e deixando a sua marca.

Para além disso, faço uma ou outra incursão em assuntos que nos saltam à vista no quotidiano, mesmo que a nossa voz não seja relevante para os casos intrigantes que se sucedem E, tendo em conta que todos os nossos posicionamentos na vida social têm um cariz político, a acreditar no que nos dizem os clássicos, donde vem a raiz da nossa cultura, é mister que neste Xaile apareçam algumas palavras em relação ao que se passa no mundo...e neste nosso cantinho à beira-mar plantado.


"Il mondo"

Haverá, então, motivos para festejar? Sem dúvida, digo eu. Quanto mais não seja em relação a tudo quanto a vida nos traz de positivo.

Agradeço a todos os leitores que me têm acompanhado durante estes anos, uns mais que outros, mas sempre mostrando compreensão e simpatia. 




Bom fim de semana, amigos.

Grande abraço.
Olinda

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Pétalas de Alquimia

Do meu coração,

Saltam pétalas acetinadas,

Despencam alquimias,

Desgrudam poções mágicas
..."

Assim começa o poema que a amiga Rosélia dedica ao "Xaile de Seda", homenageando-o pelo seu 12º aniversário. Além de um belo poema de Herberto Helder. E a compor ainda mais o post, Flores e mais Flores das mais belas. E música de encantar.
Fiquei emocionada pelo seu belo gesto, minha amiga
TUDO BELO E ENCANTADOR!
Muito obrigada.
Beijinhos
Olinda

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Imagens: Pixabay
3ª imagem-trazida do blog da Rosélia


quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

o mar não se vê: nele nos vemos nós

 


   O navio faz-se ao mar e, por um momento, parece-me que quem se movimenta é o continente. Não será num barco que viajaremos. Navegaremos como sempre se viaja: através de lembranças e sonhos. Mas eu já não lembro nem sonho. Tenho quinze anos. Vou para longe de mim, sem bagagem e sem documentos. Mas levo comigo o meu filho, o princípio da minha eternidade.

   A meio da noite, Dabondi e eu somos chamadas ao camarote do comandante Jaime Leote do Rego. À entrada, Dabondi toma nas suas mãos os braços do militar. É raro uma das nossas mulheres dar-se a esses avanços. A rainha, porém, simpatizou com o branco de barba grisalha. A afeição é recíproca: o tenente fita a rainha como se lhe estudasse o rosto. Perfeito, é ela quem eu queria, confirma ele com entusiasmo.

   Ao fundo do camarote está uma tela suportada por um cavalete. Sobre uma cadeira estão pousados dois pincéis e uma paleta onde combinam diferentes tons de azul. Quero pintar o mar, confessa. Foi por isso que exigiu a presença de Dabondi. No cais, diz ele, escutei esta mulher. Diz-lhe que volte a cantar!

- Não sou eu que canto - argumenta Dabondi. Outros usam a minha voz.

- Diz a essa mulher que não estou habituado a pedir.

   A rainha sorri e responde: Pergunta a esse homem se recebe ordens para sonhar.

   Com a ponta dos dedos Dabondi afaga a tela com delicadeza. Acredita que está perante um tear e que o comandante é um tecelão. Com gestos redondos, como se falasse com os braços, o português apresenta a obra por começar: o mar não se vê: nele nos vemos nós. Depois acrescenta: Eu vi o oceano quando escutei  esta mulher a cantar no cais.

   Oferece um cálice de aguardente à rainha. Dabondi vaza o cálice de um trago. Acena o copo vazio reclamando por uma segunda dose. Se me escutou cantando, este branco não pode ser um inimigo, diz ela. E acrescenta: A bebida é boa, vou fazer-lhe a vontade. Depois a rainha solta a voz. O comandante cerra as pálpebras e, lentamente, as águas do mar inundam o seu camarote.

  Com o braço direito soerguido, os passos afinados com a canção da rainha, o comandante Jaime Leote do Rego avança na minha direcção e pergunta:

- Já alguma vez dançaste com um  homem branco?

Excerto, pgs. 106/107, O Bebedor de Horizontes, 3º volume da Trilogia, "As Areias do Imperador" - Mia Couto

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Fala de Imani que em conjunto com o Sargento Germano de Melo nos dão a conhecer esta parte da História de Moçambique, desenvolvendo uma narrativa epistolar. O sargento é uma personagem fictícia e em relação a Imani penso que se passa o mesmo. Não consegui encontrar qualquer referência como sendo real. 

Mas ambos no desenrolar dos três livros têm a sua própria história. Uma história de vida. Íntima. E trágica. Espelho de outras vidas, talvez.

Jaime Leote do Rego, militar e oficial da marinha portuguesa, é comandante do navio onde seguiam, para o exílio, Ngungunyane, as suas sete mulheres, o filho Godide, o tio Molungo, o rival Zixaxa e as suas três mulheres. Para além de outros presos.

Dabondi é uma das sete mulheres do imperador.


O mar, esse, é uma entidade temida pelos vátuas. 
Um pavor, quando tiveram de o enfrentar, embarcados 
para destino desconhecido.



Elma Uamusse
Uma voz poderosa


Ao escritor foi atribuído o Prémio Jan Michalski, pela edição francesa da obra. O júri reconheceu “a excecional qualidade da escrita” de Mia Couto, que conjuga, “subtilmente, oralidade e narração literária e epistolar, contos, fábulas, sonhos e crenças, no seio da realidade histórica de Moçambique, no final do século XIX, na luta contra a colonização portuguesa”.*

Já Carlos Maria Bobone diz, em relação à Trilogia, que a obra não faz jus ao tema. Segundo ele: Mia Couto não podia ter escolhido melhor tema para a sua trilogia; e pior do que não ter feito um bom romance é ter conseguido fazer de um bom tema um mau romance.**

Poderá ver no "Xaile", dois posts sobre o assunto, Ngungunyane I, Ngungunyane II. Neles faço referência a:

Ungulani Ba Ka Kosa, que escreveu dois livros, "Ualalapi" e "As mulheres do Imperador", condensando-os num só volume,

e a:

Mia Couto, sobre o primeiro volume desta Trilogia que contém os seguintes títulos: I Mulheres de Cinza; II A Espada e a Azagaia; III O Bebedor de Horizontes.

Cingindo-se aos factos históricos, Mia Couto apresenta-os imprimindo-lhes o seu cunho peculiar, inconfundível.

Boa quinta-feira, meus amigos.

Abraços
Olinda


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Leia, se lhe interessar:
Prémio Jan Michalski*
Artigo de Carlos Maria Bobone**

Imagem: pixabay

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Se não estivesses

 

 


Se não estivesses,
se a concha dos teus dedos
não fizesse vibrar em mim,
gota a gota,
a tua voz,
se não esticasses os braços
sobre um qualquer
espaço
que nunca será nosso,
se o teu sorriso
agora distendido
não se mostrasse todo
nos gestos do amor,
se a tua mão não procurasse
a minha, ou os meus dedos
não pudessem, ainda
que ao de leve,
tocar a ponta frágil dos teus cabelos
escuros,
se eu não encontrasse
em ti o meu olhar,
às vezes,
quando finjo que não vejo
o teu olhar
em mim,
se os dias não fossem
confortados
com a ideia de que existes
sensivelmente existes,
e que, por isso, de alguma
forma, eu sou em ti
a minha forma de existir
– estas palavras, as frases
que as expõem, o poema
em que tudo se articula, no íntimo
sentido que só existe
dentro do poema, tudo o que
é
e, ainda,
o que possa caber em nós, secretamente,
seria uma triste passagem
pelo que resta
e nem os meus olhos, e nem as minhas
lágrimas
diriam o que dizem;
porque a mão que escreve, o seu último
argumento, está
na concha dos teus dedos
e no gemido que atraiçoa
a tua voz.

António Mega Ferreira
     (1949-2022)


António Mega FerreiraRomancista, ensaísta, poeta e jornalista, licenciado em Direito. "O fervilhante fazedor que sonhou e realizou", como li algures, faz lembrar, mutatis mutandis, o primeiro verso do poema "O Infante" de Pessoa, em Mensagem, Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.  Tido como o mentor da Lisboa contemporânea, é visto como um vibrante realizador de tudo quanto a que metia ombros.

De entre as mais de três dezenas de obras publicadas só constam dois livros de poemas. Para ele a Poesia:

"É a arte da decantação. Digamos que em relação à poesia o meu grau de exigência é obsessivo, quase patológico. Não estou em paz com a minha poesia, e não estando em paz, o melhor é não publicar porque já sei o que me vai acontecer (...). A poesia é, de facto, a disciplina suprema (...). É conseguir chegar abaixo do osso de qualquer coisa que não é osso", disse quando lhe perguntaram da exigência da escrita." 
Ver mais aqui




Et si tu n'existais pas



Bom fim de semana, amigos.

Abraços
Olinda


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Poema: daqui

domingo, 1 de janeiro de 2023

Equality/Equity

 



Sobre a expressão que empreguei no post anterior como um dos desejos para 2023, "Mais igualdade", alguém próximo enviou-me esta imagem, não discordando mas pondo a tónica na equidade. No quadro a relativização das situações é notória.

Eis a minha leitura:

Se, por exemplo, falando em termos comezinhos, três pessoas recebem um aumento de 10% na sua remuneração, mas mantendo o desequilíbrio inicial está bem de ver que ele se mantém.

Mas escalando essa benesse, tendo em conta que o primeiro e o segundo já estão na mó de cima, talvez aí se chegue à equidade.

Contudo, há uma coisa melhor que se chama justiça, em que o importante é esbater os obstáculos, i.e., os problemas que impedem que estejamos todos nas mesmas condições.

Talvez assim, possamos todos ver o jogo que está a ter lugar, conforme o exemplo dado, o mesmo é dizer que a nossa sociedade terá encontrado aquele ideal do melhor dos mundos.

O pensam desta teoria?




FELIZ ANO DE 2023, meus amigos.

Mais Abraços
Olinda


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Imagem: by Carina