domingo, 29 de dezembro de 2013

Consoada - Natal à Portuguesa

Bem escura, bem ventosa, bem fria e húmida surjas tu sempre, noite de 24 de Dezembro, que melhor então se avaliará pelo contraste a luz, o calor, o aconchego dos lares e mais íntimos se estreitarão os círculos da família em roda da ceia patriarcal.
"A Morgadinha dos Canaviais"
Júlio Dinis




Um romântico incorrigível este nosso Júlio Dinis, citado num livrinho que me chegou às mãos, há dias, e que fala do "Natal à Portuguesa", no qual são apresentadas receitas dos pratos que fazem a nossa tradição. A autora, Edite Vieira Philips, refere a definição específica e muito bela da ceia da noite de Natal, Consoada, e indica a sua raiz e significado: consonare, soar juntamente, ou seja, uma coisa feita em conjunto, em reunião. Também traz referências aos diversos usos e costumes de cada região. De entre as variadíssimas receitas destaco: bacalhau com todos, arroz de polvo, roupa velha, peru recheado, pato com arroz, arroz doce, leite-creme, rabanadas, filhós, coscorões, broas, bolo-rei, enfim tudo pratos e doces que conhecemos e muitos mais. 




Este ano resolvi voltar ao bacalhau com todos, pondo de lado outras experiências culinárias experimentadas nos últimos dois ou três anos. E, confesso, é como o bacalhau me sabe melhor, com batatas, couves, cenoura e grão, que não pode faltar, e tudo temperado com o nosso bendito azeite. No dia seguinte, a roupa velha, como não podia deixar de ser.

O arroz doce tem o seu lugar de destaque na minha mesa, feito à minha moda, isto é, aldrabado, o que envergonharia sobremaneira a minha avó, se fosse viva. Ainda me lembro de como ela descrevia os ingredientes indispensáveis a um bom arroz doce, o que, decididamente, colocaria o meu no final da lista se fizesse parte de algum concurso de culinária, desses que já tomaram conta das nossas vidas televisivas. Aliás, não há receita que não sofra transformações nas minhas mãos. E nem sempre bem sucedidas.

Outra iguaria natalícia que eu não dispenso: as fatias douradas ou rabanadas. Eu já sei que se não são comidas logo, acabadinhas de fazer, depois já não são saborosas porque ficam meio duras... mas, faço-as sempre e, claro, provo logo uma.

Porquê esta conversa agora que o Natal já passou e a Consoada já foi? Este post era para ter sido publicado, com o verbo no correspondente futuro próximo, no dia 23 ou 24, mas não tive oportunidade. É o que acontece com muitos tópicos que armazeno nos rascunhos e que depois acabo por não desenvolver e finalizar por falta de tempo e, consequentemente, não publicar. Mas como ainda estamos na quadra festiva, pareceu-me que este tema não estaria fora do tempo... 

 Imagens: recolhidas na Internet

domingo, 22 de dezembro de 2013

Do direito ao amor e à compreensão





Todos os dias são dias da criança e hoje ocorre-me trazer este tema, na certeza de que é um assunto de cariz universal, cabendo-nos ter presente a nossa obrigação para com seres que carecem de protecção e amor. E crianças são todas as crianças, sem distinção... crianças felizes, crianças maltratadas e sujeitas a abusos, crianças abandonadas. Qualquer que seja o ponto do mundo onde se encontrem. Elas deverão ser o nosso reflexo, aquele quê incomensurável para atingirmos a perfeição, a nossa elevação de espírito, a nossa redenção.





Na Declaração dos Direitos da Criança, de 20 de Novembro de 1959, proclamada pela Onu, lê-se:

Princípio VI - Direito ao amor e à compreensão por parte dos pais e da sociedade.
  • A criança necessita de amor e compreensão, para o desenvolvimento pleno e harmonioso de sua personalidade; sempre que possível, deverá crescer com o amparo e sob a responsabilidade de seus pais, mas, em qualquer caso, em um ambiente de afecto e segurança moral e material; salvo circunstâncias excepcionais, não se deverá separar a criança de tenra idade de sua mãe. A sociedade e as autoridades públicas terão a obrigação de cuidar especialmente do menor abandonado ou daqueles que careçam de meios adequados de subsistência.(...)

Princípio IX - Direito a ser protegido contra o abandono e a exploração no trabalho.
  • A criança deve ser protegida contra toda forma de abandono, crueldade e exploração. Não será objecto de nenhum tipo de tráfico.
  • Não se deverá permitir que a criança trabalhe antes de uma idade mínima adequada; em caso algum será permitido que a criança se dedique, ou a ela se imponha, qualquer ocupação ou emprego que possa prejudicar sua saúde ou sua educação, ou impedir seu desenvolvimento físico, mental ou moral.

Acredito que existe em todos nós uma chama benfazeja, capaz de dar grandes passos e de coisas maravilhosas. Deixemos que ela brilhe. Façamos nossas as palavras constantes do documento acima referido, e de tantos outros, demonstrando-o através de obras e atitudes.

Deixemos que o espírito natalício seja uma constante nas nossas vidas.

A todos um Bom Natal.






Abraço

Olinda


Excertos retirados de aqui
Pintura de Gustav Plimt

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Onde está o amor? José Ángel Valente sabe a resposta




O amor está no que lançamos
(pontes, palavras).

O amor está em quanto erguemos
(risos, bandeiras).

E no que combatemos
(noite, vazio)
por verdadeiro amor.

O amor está em quanto levantamos
(torres, promessas)

Em quanto nós colhemos e semeamos
(filhos, futuro).

E nas ruínas de quanto derrubamos
(usurpação, mentira)
por verdadeiro amor.


José Ángel Valente 
(1929 -2000)

Antologia de Poesia Espanhola Contemporânea (selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento). Pintura de Gustav Klimt retirada de: aqui

sábado, 14 de dezembro de 2013

A Lenda da Flor de Natal


Procurando lendas e contos de Natal para as minhas lides, encontrei esta com o nome, 'A lenda da Flor de Natal'. Sabem, aquela linda flor que trazemos para casa ou que alguém nos oferece pelo Natal e que desfalece passado pouco tempo? Pelo menos a mim acontece-me sempre. Em todo o caso, posso atribuir isso a alguma falta de jeito da minha parte para a acondicionar de modo a proporcionar-lhe um ambiente propício. Precisamente por isso e querendo conservá-la de algum modo trago-a para aqui e ofereço-vo-la, nesta quadra festiva, juntamente com a lenda, desejando-vos muitas felicidades.

E reza assim:

A Lenda da Flor de Natal

Diz a lenda, que uma menina chamada Pepita, sendo pobre, não podia oferecer um presente merecedor ao menino Jesus, na missa de Natal. Muito triste, contou o facto ao seu primo Pedro, que ia com ela a caminho da igreja. Este disse-lhe que ela não tinha que estar triste, pois o que mais importa quando oferecemos algo a alguém, é o amor com que oferecemos, especialmente aos olhos de Jesus. Pepita lembrou-se então de ir recolhendo alguns ramos secos que ia encontrando pelo caminho, para Lhe oferecer.

Quando chegou à igreja, Pepita olha para os ramos que colheu e começa a chorar, pois acha esta oferenda muito pobre. Mesmo assim, decide oferecê-las com todo o seu amor. Entra na igreja e, quando deposita os ramos em frente da imagem do menino Jesus, estes adquirem uma cor vermelha brilhante, perante o espanto de toda a congregação presente. Este facto foi considerado por todos o milagre daquele Natal.



Já não é a primeira vez que aqui transcrevo lendas e mitos. Fi-lo há algum tempo numa série que denominei, Semana da Lusofonia no Xaile, procurando neles o fiozinho invisível que liga as pessoas nas suas tradições. Talvez um resquício dos tempos em que a história de um povo era transmitida oralmente, pelos mais velhos. Neles vemos o maravilhoso aliado a uma inverosímil e singela linguagem, e parece que têm o condão de nos convencer a aceitá-los tal como se apresentam. Tal como a figura do Pai Natal na qual acreditamos e colocamos os nossos mais íntimos desejos e quando chega a idade em que as ilusões se desfazem, sentimo-nos defraudados.




Mas eu, meus amigos, voltarei a ser criança e a acreditar se, para isso, a esperança se conservar no meu e nos vossos corações.


A todos um Bom Natal.

Ainda é ceeedo - diz-me uma vozinha. Não faz mal - respondo eu - daqui a alguns dias desejarei o mesmo, ainda mais efusivamente.

:)


Abraço

Olinda  


Lenda transcrita-aqui     

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Peregrinos da Eternidade

Os Cristãos rondam ao longo dos séculos as terras do califado de Córdova. Aguentam de quando em quando as expedições punitivas dos Muçulmanos, às quais ripostam sempre que podem. No começo, podem pouco. O Islão constitui por estes dias, na Hispânia como fora dela, uma civilização poderosa, refinada e culta, uma espécie de tesouro encerrado num escrutínio refulgente, que os resistentes contemplam como alcateias cobiçosas. Comparados com os inimigos, os Cristãos não passam, durante grande parte deste combate  multissecular, de seres bisonhos e grosseiros, quase todos iletrados, enfermos da sonolência intelectual que neles provoca a ignorância supersticiosa. Ao invés, no Al-Andaluz, em redor da estrela que é Córdova prosperam outras cidades magníficas, onde abundam as mesquitas e os palácios esplendorosos, onde se guarda e germina o saber em bibliotecas, universidades e salões literários, onde se edificam hospitais e banhos públicos, onde se rasgam passeios marginados de correntezas murmurantes e de verduras cheias de viço que estimulam o galope aventureiro das ideias e dos sentidos.



Não aconteceu sempre assim. Durante os avanços iniciais os Muçulmanos evidenciaram apenas uma cultura singela e prática - a dos seus desertos de origem. Mas à medida que progridem nas conquistas apropriam-se por toda a parte do que há de melhor e mais elaborado nos países que se lhes rendem. Descobrem saberes antigos - de egípcios, de sumérios, de fenícios, de hebreus. Apoderam-se de sapiências gregas, persas, indianas, chinesas, bizantinas. Saqueiam, pesquisam, compram, traduzem, estudam, difundem. Absorvem conhecimentos, transformam-nos e emprestam-lhes, como no Al-Andaluz, uma feição peculiar, inconfundível, que modelará para sempre o espaço e as pessoas. E o que passa a brilhar na Hispânia islâmica é uma civilização que se revê, orgulhosa, numa activíssima  multidão de filósofos e médicos, de matemáticos e físicos, de astrónomos e músicos, de historiadores e arquitectos, de geógrafos e químicos, de prosadores e, sobretudo, de talentosos poetas, que exaltam em palavras eternas a guerra santa, a natureza, a mulher, o amor, a vida.


Este é um excerto de 'Peregrinos da Eternidade', de José Bento Duarte, que aborda a História da Península Ibérica, na Idade Média, de uma forma quase romanceada mas, sem pecar em relação aos dados históricos. Nele ficamos a saber de muitos episódios que a História dita oficial não nos conta. Das intrigas entre as cortes dos reinos em presença, isto é, de Portugal, de Castela, de Aragão, e, concomitantemente, nas suas relações e alianças com a Inglaterra e França, bem como do seu envolvimento nas guerras da reconquista cristã. E, ainda, da própria maneira de ser dos monarcas, da sua ética ou falta dela.

Da presença dos árabes quase que não se ouve falar nos nossos dias. Nos dias do Califado de Córdova (929-1031), Al-Andaluz, ou seja, a Península Ibérica, beneficiou de momentos esplendorosos como, aliás, nos é referido acima. Com a entrada dos árabes na Ibéria em 711 e a sua permanência até 1492, ano em que se deu a queda do reino de Granada, compreendo até que ponto o enraízamento já se tinha instalado e vislumbro o sofrimento daqueles que se sentiam parte integrante da terra, situação que, como é natural, se arrastou no tempo. Em 'A Mão de Fátima', de Ildefonse Falcones, (li-o em tempos), que decorre já no Sec.XVI, vemos como o personagem principal se debate perante o dilema/conflito entre os cristãos e os muçulmanos. Que lado escolher se se traz nas veias e no íntimo a marca dos dois lados?

Cruzamento de culturas que faz de nós uns eternos peregrinos. 

  
*****

Em tempo:

Meus amigos

O meu agradecimento pela vossa presença e comentários sobre o tema, o que veio valorizar a intenção posta na feitura deste texto, com o valioso contributo dos autores acima citados.

De sublinhar, estas informações e impressões que a São nos trouxe:


Li o livro em castelhano e dediquei-lhe um post. Também gostei muito do primeiro livro dele, que foca a construção de Santa Maria del Mar, em Barcelona.

Parece impossível como se fala exclusivamente da expulsão dos judeus e se esquece que em três dias os mouros foram obrigados a deixar tudo para trás, embarcados para o Norte de África e lá abandonados.

Toda a Ibéria tem marcas árabes e Alhambra (em Granada) e a Mesquita de Córdoba são fascinantes e belíssimas.

Carlos V afirmou ser criminosa a intervenção cristã no templo e eu concordo plenamente.

A interioridade e a sobriedade da Mesquita são afrontadas pela sobrecarregada exuberância e exterioridade da igreja católica lá implantada.

No entanto, a delicadeza e a beleza dos palácios nazarís de Alhambra também têm que se confrontar com o pesado palácio , símbolo da sua soberba, que o mesmo imperador lá mandou construir com o imposto especial que lançou sobre os mouros. Felizmente teve o bom senso de não destruir nada.

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Abraços

Olinda

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Em caracteres pretos, excerto de:
Peregrinos da Eternidade (crónicas ibéricas medievais) - José Bento Duarte
Pgs 51 e 52
Ver considerações sobre 'A Mão de Fátima', em http://www.lendonasentrelinhas.com.br
Imagens:internet

domingo, 8 de dezembro de 2013

Comamos, bebamos e amemos...

Foi filósofo, poeta, escritor, empresário, editor, comentador político, tradutor, inventor, astrólogo, publicitário, jornalista. Contou vidas que não viveu, escreveu cartas de amor 'ridículas', assinou com heterónimos como Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis, mas todos o conhecem pelo nome de baptismo, Fernando Pessoa.

Não gostava particularmente de comer, mas todos os dias sentava-se invariavelmente às 19 horas, na mesma mesa do Martinho da Arcada a comer a sopa do dia. O seu velho amigo Mourão, preocupado com a sua saúde, inventou uns ovos estrelados com queijo, que lhe punha na mesa sem que ele lhe pedisse. Sobre os comeres escreveu em tempos, "Comamos, bebamos e amemos (sem nos prender sentimentalmente à comida, à bebida e ao amor, pois isso traria mais tarde elementos de desconforto)".

Foi na África do Sul, que Pessoa apurou o paladar e descobriu temperos exóticos. Entre eles "curry", do indiano "kand'hi" (molho), talvez por isso um dos pratos que apreciava, fosse galinha com molho curry. Apesar de não saber nem estrelar um ovo, diz-se que apreciava cozido à portuguesa, leite creme e arroz doce. Mas a dobrada à moda do Porto parecia da sua predilecção, tanto que lhe dedicou um poema escrito, segundo consta no restaurante 'Ferro de engomar', em Benfica. Sabores de Pessoa, entre continentes e letras...

Este texto, que encontrei numa revista de culinária*, vem acompanhado das receitas dos pratos que, segundo aqui se diz, eram da predilecção de Pessoa. Vou transcrever a de galinha com molho curry, que o mesmo é dizer, galinha de caril de que gosto muito:



Galinha com molho curry - Ingredientes: 1 galinha grande, 1 maçã reineta, 1 cebola grande, 3 dentes de alho, 50g de coco ralado, 0,5 dl azeite, 2 colheres (sopa) de caril indiano em pó (curry), 1 folha de louro, salsa ou coentros q.b., sal e pimenta q.b.
Preparação:1) Arranje a galinha, corte-a em pedaços e tempere-os com sal e pimenta. Descasque e lave a cebola e os dentes de alho e pique-os finamente. 2) Leve um tacho ao lume com o azeite, deixe aquecer, junte os pedaços de galinha e deixe cozinhar até ficarem douradinhos de ambos os lados. Adicione depois a cebola, os dentes de alho e a folha de louro e deixe cozinhar mais um pouco até que tudo fique douradinho. Regue com 5 dl de água, junte o caril e o leite de coco, mexa e deixe ferver. 3) Descasque e rale a maçã reineta, adicione ao tacho e deixe cozinhar até que o frango fique macio e o molho apuradinho. Junte então o coco ralado, deixe ferver um pouco para engrossar, retire do lume e sirva polvilhado com salsa ou coentros picados. Acompanhe com arroz branco.

Esquisito ver o nome de Pessoa associado a receitas de culinária? Nem por isso, comer faz parte da vida. E sabemos que vários autores, de renome, da nossa cena literária diziam da sua justiça nesta matéria como, por exemplo, Eça de Queirós que interpela assim os seus contemporâneos:

"Onde estão os pratos veneráveis do Portugal Português, o pato com macarrão do século XVIII, a almôndega indigesta e divina do tempo das Descobertas ou essa maravilhosa cabidela de frango, petisco dilecto de D.João IV..." In:Gastronomias.com

E, ainda, este excerto de 'A Cidade e as Serras', aqui referido:

"Cheguei a Guiães. Ainda restavam flores nas mimosas de nosso páteo; comi com delicias a sopa dourada da tia Vicencia; de tamancos nos pés assisti a ceifa dos milhos. E assim de colheitas e lavras, crestando ao sol das eiras, caçando a perdiz nos matos geados, rachando a melancia fresca na poeira dos arraiaes, arranchando a magustos, sarandando à candea, atiçando fogueiras de S. João, enfeitando presépios de Natal, por ali me passaram docemente sete anos. (...) Do Jacintho recebia raramente algumas linhas, escrevinhadas à pressa por entre o tumulto da civilização. Depois, num setembro muito quente, ao lidar na vindima, meu bom tio Affonso Fernandes morreu, tão quietamente... A minha afilhada Joaninha casou na matança do porco. Andaram obras no nosso telhado. Voltei a Paris."

* A revista a que me refiro é a Teleculinária (Especial), de 30/09. Traz uma nota, quanto ao texto transcrito, sobre F.Pessoa: 'Pesquisa feita através do blogue de Lectícia Cavalcanti, coordenadora do caderno Sabores da Folha de Pernambuco'. A imagem da 'galinha de caril' não é a mesma da revista, mas tirada da Internet. Os meus agradecimentos a todos os que disponibilizaram estes dados.


Hanukkah - A Festa das Luzes

Termina hoje o Hanukkah, iniciado no dia um do corrente mês, a Festa das Luzes, celebrado pela primeira vez fora das portas da sinanoga, pela comunidade judaica de Belmonte. Essa sua expressividade pública indica como vão longe os terríveis dias de perseguição, de conversão compulsiva, de expulsão. Dias que foram séculos.

Mesmo assim há oitenta anos ainda se falava a boca pequena da sua existência ou ela própria não se dava a conhecer abertamente. É o que aqui se diz. A comunidade cripto-judaica de Belmonte foi revelada por um judeu polaco, chamado Samuel Schwarz, através de inúmeros artigos e entrevistas na imprensa judaica de todo o Mundo, que, por sua vez, deram lugar a visitas de individualidades importantes e novos relatos em livros e jornais. A sua principal obra "Cristãos-Novos em Portugal no Século XX" foi publicada em 1925, como separata da revista Arqueologia e História, da Associação dos Arqueólogos Portugueses, de que era membro.

Esses são alguns dos judeus que ficaram por cá e que foram obrigados a esconder as suas práticas, rituais e tradições, levando uma vida que não era a sua. Os que seguiram o caminho da Diáspora forçada, viram-se privados dos seus filhos menores de 14 anos e espoliados dos seus bens. Crianças sequestradas, umas entregues a famílias portuguesas cristãs e outras enviadas para povoar as ilhas de São Tomé e Príncipe, tendo morrido a maior parte com os rigores da viagem, do clima, das doenças. Esta circunstância vem referida na obra de Isabel Castro Henriques, 'São Tomé e Príncipe: a invenção de uma sociedade'.

Deste trabalho, de Esther Mucznik, recolho esta passagem relacionada com a situação dos judeus e com o pós-25 de Abril de 1974: 


Abrem-se os arquivos, surge à luz do dia a riqueza do contributo judaico, desde os primórdios da nacionalidade até ao decreto de expulsão, no sec. XV, mas, também, os horrores das conversões forçadas , a longa noite da Inquisição, as discriminações dos cristãos novos.
Portugal descobre-se e ao descobrir-se encontra-se com os seus judeus. O pedido de perdão simbólico de Mário Soares, então Presidente da República, em 1989, pelas perseguições que os judeus sofreram em Portugal e a Sessão Evocativa dos 500 anos do Decreto de Expulsão dos Judeus em Portugal, em Dezembro de 1996, no parlamento português, na qual foi votada, por unanimidade, a revogação simbólica do Decreto, marcam, de facto, um virar de página no relacionamento mútuo. 

Da Diáspora surgem-nos figuras de relevo, nomeadamente, nas letras e na medicina. Em tempos produzi aqui, no Xaile de Seda, alguns apontamentos sobre Amato Lusitano. Voltarei, em breve, com Baruch Espinoza (1632-1677) e Ribeiro Sanches (1699-1783) - homens que marcaram a sua época.    


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Desejo-vos um bom domingo.

Abraço

Olinda

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Viajando com o Tripping in Trips - Voucher de viagem

Vou sempre ao Tripping in Trips, porque é o sítio onde encontro belas sugestões de viagem, tanto no que diz respeito a roteiros, transportes, como a experiências na primeira pessoa. Além disso, encontro referências preciosas sobre restaurantes, hotéis, hostels e, ainda, sobre a própria movimentação nos destinos. Também e, sobretudo, a nível nacional. Tudo!

Fui lá no outro dia e encontrei um passatempo que confere ao vencedor o direito a um voucher de viagem, no valor de 25 euros. Bem bom para quem, nesta quadra festiva ou outra, pensar em ir arejar um pouco. Assim, resolvi trazê-lo ao vosso conhecimento.




Como agradecimento a todos os seguidores do Tripping in Trips, eis o primeiro passatempo do blog! O Tripping in Trips está a oferecer um voucher da Ryanair no valor de 25€ para utilizares em qualquer destino da companhia.Participa até 15 de Dezembro!

Prémio:
- Voucher de 25€ da Ryanair para usar em qualquer das 1500 rotas disponíveis.

Como participar:
1- Fazer like no facebook do Tripping in Trips: www.facebook.com/trippingintrips
2- Fazer uma partilha da publicação do passatempo no facebook.
3- Escrever uma frase criativa com as palavras: Tripping in Trips e Viajar e enviar para o email tripping.in.trips@gmail.com. Junto com a frase, enviem os vossos dados pessoais: nome, localidade e email.

Informações e Condições:
- Caso o procedimento de 'Como participar' não estiver completo, a participação não será válida.
- Todas as participações recebidas após 15 de Dezembro não serão contabilizadas.
- A frase e o nome do vencedor serão divulgados no blog e facebook no dia 20 de Dezembro.
- O vencedor será contactado por email e o voucher será enviado pela mesma via com o nome do destinatário.
- Os vouchers não são reembolsáveis e têm a validade de 1 ano após a emissão.


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Aproveitemos então esta oportunidade. Acho que não é de deitar fora... :)


Abraço

Olinda


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Desfeitos num rochedo ou salvos na enseada a eternidade é nossa





A secreta viagem

No barco sem ninguém, anónimo e vazio,
ficámos nós os dois, parados, de mão dada…
Como podem só dois governar um navio?
Melhor é desistir e não fazermos nada!

Sem um gesto sequer, de súbito esculpidos,
Tornamo-nos reais, e de madeira, à proa…
Que figuras de lenda! Olhos vagos, perdidos…
Por entre nossas mãos, o verde mar se escoa…

Aparentes senhores de um barco abandonado,
nós olhamos, sem ver, a longínqua miragem…
Aonde iremos ter? – Com frutos e pecado,
Se justifica, enflora, a secreta viagem!

Agora sei que és tu quem me fora indicada.
O resto passa, passa…alheio aos meus sentidos
—Desfeitos num rochedo ou salvos na enseada,
a eternidade é nossa, em madeira esculpidos

      (1927-1996)




O tema Viagem, em David Mourão-Ferreira, é aqui analisado por Helena Malheiro que nos dá a perspectiva de uma viagem que se situa simultaneamente em três corredores paralelos, no Tempo, no Espaço e em Eros. Da sua análise produziu o livro, «David Mourão ou 'A Secreta Viagem'».

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Meus amigos, nesta nossa viagem do quotidiano tenhamos nós dias luminosos e bons.

Abraço

Olinda  

Imagem:Internet

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

'O Mistério da Casa das Quatro Cabeças'




É uma casa quase encantada, lendária, com traçado arquitectónico da época moderna iniciado no século XV, mas, há quem diga que a data da sua construção é posterior ao terramoto de 1755, que destruiu o Bairro de Troino - Setúbal (esquina da rua de Fran Paxeco com a rua do Carmo). A porta mostra o nº 44, ao lado deste uma cabeça e em baixo a inscrição: Si Deus pro nobis, quis contra nos.


Diz a tradição que as cabeças serviriam para assinalar o local do atentado que deveria dar-se contra o Rei D.João II na sua passagem, a pé, na procissão de Corpus Christi, em Setúbal.

Três das cabeças representariam o rosto de D. João II ladeado pelos de D.Diogo, Duque de Viseu e de D. Lopo de Albuquerque, Conde Penamacor. Naquele local os dois teriam combinado deixar cair os bastões e baixando-se para os apanhar deixariam a descoberto a pessoa do Rei, a quem, um terceiro conjurado de dentro das casas, atacaria a tiro de arcabuz. 

Há muitas dúvidas sobre se o monumento teria alguma coisa a ver com um eventual atentado contra o rei, sobre se as cabeças teriam sido lá colocadas todas na mesma época, e mesmo, se a posição delas teria sido, originalmente, a que vemos presentemente.

Estas e outras polémicas são tratadas e resolvidas, segundo o autor, Rocha Souto, num trabalho intitulado, 'O Mistério da Casa das Quatro Cabeças'. Na conclusão, o autor sublinha a importância histórica do monumento, e alerta para a necessidade da sua inclusão entre os Monumentos sob a protecção do Estado.





E parece que é o que vai acontecer.

Li num jornal regional, em 12 deste mês, que a Câmara Municipal de Setúbal pretende acelerar a expropriação do imóvel. Este foi considerado património de interesse municipal e não tem sido possível contactar os donos da propriedade, não só para procederem à sua conservação como, agora, quando se trata da expropriação. Até nisto o mistério se mantém...


Notícia:
Diário da Região
Imagens: Internet

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

É nas minhas noites insones que elas me namoram, fugidias, voláteis

Sinto-as a entrar pé-ante-pé. Surgem de nenhures, ligeiras e afáveis prometendo descobertas, com um não sei quê de mistério. Um laivo de sabor a fruta, de perfume, de mil odores. Passam, e deixam o seu rasto. Sigo-as assim, ouvindo os seus sussurros, um risinho casquinado destaca-se. Oiço rumores da sua passagem. Subo escadas, desço escadas. Procuro nos cantos e recantos. Perscruto sombras, uma réstia de luz que distingo por entre as frinchas. A espaços, oiço o silêncio da noite. É um silêncio familiar que fala comigo. Já lhe conheço a cadência. Uma cadência que se vai alterando conforme a madrugada se anuncia. Também elas a adivinham. Saem para a brisa fresca, de sabor a sal. Vou-lhes no encalço. Vejo que a alvorada vai tingindo a linha do horizonte. Elas já menos irrequietas, menos ariscas, alinham-se. Os meus joelhos afundam-se na areia molhada e, com elas, começo a desenhar formas. Apercebo-me de uma onda que começa a formar-se. Uma coisa linda que me enternece. É um espectáculo para os meus olhos que, entretanto, se aplicam na sua tarefa. Elas ajudam, eu sei, mostram-se afáveis. E, a pouco e pouco, surge: 'Para ser grande sê inteiro'. Contente, contemplo a minha obra. Consegui por fim agarrá-las e construir uma ideia. Mas será que a ideia é minha? Há qualquer coisa de estranho que ecoa dentro de mim. Há um sentimento de impotência que se afirma. Debato-me com esta dúvida e também com a quase certeza de que já não há ideias novas. Fogem de nós a sete pés. Um marulhar fininho, sorrateiro, aproxima-se. É a onda que vem buscar o que lhe pertence. Espraia-se e cobre as palavras alinhadas na areia e leva-as...






Da querida Emília, o contraponto (comentário):

Mas...

Serão novas as ideias? Novas acho que nunca são; muitas já vêm do nosso passado, fruto das ideias dos nossos antepassados e do passado desse antepassados; são as mesmas as ideias, mas cada um as foi melhorando à sua maneira...cada um as foi transformando de acordo com as suas necessidades...de acordo com as suas perspectivas de vida...de acordo com os seus sonhos.E o dia chega...algumas das ideias são postas em prática, mas outras nem sequer nelas pensamos. Resta-nos esperar que a noite caia...que o sono chegue e que desta vez a insonia nos poupe a mais ideias. 

=====


Muito obrigada, amiga.

Beijinhos

Olinda



Imagem: Internet

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Canção - Alexandre O'Neill


Que saia a última estrela 
da avareza da noite
e a esperança venha arder 
venha arder em nosso peito

E saiam também os rios
da paciência da terra
É no mar que a aventura
tem as margens que merece

E saiam todos os sóis
que apodreceram no céu
dos que não quiseram ver
— mas que saiam de joelhos

E das mãos que saiam gestos
de pura transformação
Entre o real e o sonho
seremos nós a vertigem

    1924-1986

sábado, 16 de novembro de 2013

Rio-me sim rio-me do que fazem - Almada Negreiros

Rio-me, sim, rio-me
                            para ver se se solta a carne desta caveira
           coberta de simulacros de vida




Rio-me sim rio-me do que fazem
do que crêem, de tudo o que todos usam
e eu-mesmo o fiz e cri como qualquer
até que do asco me despeguei disso tudo
pra morrer de verdade, sem fingir.
Ri-me e espantei-me de me ter rido assim
ri-me por não poder suportar
sentir a morte em mim
Que a morte seja eu quem a mereça
e não o limite até onde eu possa suportar.
Por todos já morreu um há séculos
e repeti-lo é sempre por todos.
Por todos é no que não creio.
Morrer por todos é o que fazemos cada um
mesmo sem querer.
Mas morrer por cada um,
sobretudo se se é o próprio
é mais do que morrer por todos.
Admiro a renúncia mas não em mim
que renunciado nasci de herança.
Morro por mim.
Devo ao meu sangue aqueles dias
de que gerações inteiras se privaram.
Sou um exemplar daquela humanidade que hoje apenas a sabemos sonhar
uma lembrança viva de quando tudo era vivo até cada um.
Trouxeram-me clandestino através das tribos, das raças, de catacumbas e de catedrais
d’Impérios, de Revoluções, de guerras
e das mais maneiras que dizem respeito a todos.
A todos! eis o que me faz morrer.

A partida dos emigrantes, c. 1948, tríptico 
(paineis central e lateral direito), 

Por todos não fica ninguém há séculos e séculos
e os que parece terem deixado um nome
não deixaram senão renome
são de facto um cimo de todos,
o cadáver que ficou por cima na pirâmide dos mortos.
Tenho uma fé única: é cada um!
Cansado da humanidade creio só nas pessoas
naqueles que se levam consigo
e em nenhuma ocasião se perdem da sua própria mão
.

             1893-1970

*******

Um poema que mostra a força deste poeta. A mesma força dramática que se vê no Reconhecimento à Loucura . Almada Negreiros é visto como um autor polémico, aguerrido no panorama do futurismo em Portugal. Destacou-se em diversas áreas artísticas, da pintura, do desenho à dança, da escrita à crítica de arte, e deixou um vasto espólio vanguardista que ainda está a ser estudado pelos especialistas. Na semana passada, de 13 a 15, decorreu o Colóquio Internacional Almada Negreiros, na Fundação Gulbenkian, assinalando os 120 anos do seu nascimento e os 100 anos da sua primeira exposição, reunindo 50 investigadores.


A todos os que por aqui passarem desejo um excelente fim de semana.

Abraço

Olinda


Imagens: Internet

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Eu, Miguel Torga - O mais importante na vida é... vivê-la

Eu, Miguel Torga, é o título do livro escrito por José María Moreiro e prefaciado por Jorge Amado que, a dada altura, considera o livro uma longa entrevista, uma biografia, um estudo crítico, uma análise histórica, um tratado de poesia e tantas outras coisas. Um Torga que ora se mostra tímido e reservado como também se comove, de quando em vez, falando de si e do seu trabalho como escritor sem falsa modéstia. Jorge Amado põe a tónica na pergunta que Moreiro lhe faz, à laia de despedida:- A la altura de la suya, usted tiene que saber qué es lo mas importante en la vida, Torga.-Lo mas importante en la vida, Moreiro, es vivirla.





De facto, Miguel Torga (Adolfo Correia da Rocha), viveu a vida intensamente. A sua obra traduz uma grande rebeldia contra as injustiças e o seu inconformismo perante os abusos de poder, do mesmo passo que perpassa por toda ela o amor às suas origens. Também não esquece o tempo que passou no Brasil, numa idade em que tudo nos marca de forma indelével (dos 13 aos 18 anos). É assim que ele se refere à sua segunda pátria, em 1957, no seu livro Diário:

Pátria de emigração,
É num poema que te posso ter...
A terra - possessiva inspiração;
E os rios -como versos a correr (...)
Guardei-te como pude
Onde podia;
Na doce quietude
Da força represada da poesia.

E, no livro em apreço, Eu, Miguel Torga, na página 58, podemos ler em relação a Jorge Amado, o mais universal dos autores brasileiros de hoje: 

Almoço com Jorge Amado. Perdiz brava de Montesinho, posta mirandesa e tinto maduro do Doiro. Ementa a preceito, em homenagem à humanidade do escritor que na minha admiração parece ter aliado harmoniosamente, na vida e na obra, o calor da urbanidade baiana à grandeza da alma transmontana. A dizê-lo assim simplesmente, arrisco-me a ser mal interpretado, mas foi o que senti justificadamente durante aquelas três horas, íntimas, simples, fraternas, sem literatura, só gustativas, de preito e comunhão.




Ele é um homem de preitos, mas apenas em relação àqueles que mais admira. Vemos isso no seu pseudónimo em que, segundo consta, adopta o nome de Miguel em homenagem a Cervantes e Unanumo. E Torga? Uma plantinha, uma raiz de urze, talvez pela sua ligação à terra. Terra muito amada e cantada em versos, terra-mulher, terra-inspiração.



A terra

Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.
….
Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!
Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!
Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!






Muito há para dizer sobre Miguel Torga que, pela sua dimensão como autor e como ser humano, este pequeno post não consegue abarcar. Inicialmente era minha intenção abordar apenas o livro Eu, Miguel Torga, obra que encontrei nas minhas deambulações à procura de livros que não estão na berra, mas que comportam experiências de leituras muito interessantes. 

Mas as palavras são como as cerejas e eu não resisto em deixar aqui o prefácio que o próprio escreveu em relação à sua 'Criação do Mundo', onde ele se identifica como um Homem de palavras e, como sabemos, com elas construiu um mundo à sua e à nossa medida:

Todos nós criamos o mundo à nossa medida. (...) O meu tinha de ser como é, uma torrente de emoções, volições, paixões e intelecções a correr desde a infância à velhice no chão duro de uma realidade proteica, convulsionada por guerras, catástrofes, tiranias e abominações, e também rica de mil potencialidades, que ficará na História como paradigma do mais infausto e nefasto que a humanidade conheceu, a par do mais promissor. Mundo de contrastes, lírico e atormentado, de ascensões e quedas, onde a esperança, apesar de sucessivamente desiludida, deu sempre um ar da sua graça, e que não trocaria por nenhum outro, se tivesse de escolher. Plasmado finalmente em prosa — crónica, romance, memorial, testamento —, tu dirás, depois da última página voltada, se valeu a pena ser visitado. Por mim, fiz o que pude. Homem de palavras, testemunhei com elas a imagem demorada de uma tenaz, paciente e dolorosa construção reflexiva frita com o material candente da própria vida. Coimbra, Julho de 1984-Miguel Torga 




Este video é o registo primeiro de um ciclo de conversas promovido pela Casa-Museu Miguel Torga, onde vemos a filha do escritor, Clara Rocha.



Torga com a filha



Meus amigos, desejo-vos um excelente fim de semana.

Abraço

Olinda


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Poema : A Terra, na íntegra - aqui
Imagens: Internet