sexta-feira, 24 de julho de 2015

Aquela jarra





É tão triste, a casa. Fica como a deixaram,
Afeita ao conforto dos últimos a partir,
Como que para os reaver. Mas, despojada
De gente a quem agradar, vai definhando
Sem alma para esquecer o roubo

E recordar outra vez o que era a princípio,
Um ensaio radioso das coisas como deviam ser,
Há muito malogrado. Bem se vê como foi:
É só olhar para os quadros e talheres.
As músicas no banco do piano. Aquela jarra.

Philip Larkin, "É tão triste, a casa"


Retirei este poema de um livro chamado NÓS, de David Nicholls, um livro que andei a ler e que acabei há já algum tempo. Fiz referência a ele num dos meus posts e disse que não sabia se iria gostar dele. Pois bem, gostei. A princípio um pouco maçador, mas com a continuação acaba-se por entrar na pele da personagem que relata a história.

Uma casa que definha à medida que vai ficando sem a alma que lhe deu vida. À vista desarmada apenas os vestígios: quadros e talheres, as músicas no banco do piano e...aquela jarra. Tanto pode ser a da imagem ou outra, com flores ou sem flores. O importante é a carga das recordações que poderá transportar.

Estive nos últimos dias impossibilitada de aceder ao blog por causa de problemas no portátil. Penso que ainda não acabaram mas, neste momento estão a dar-me uma pequena folga.

Desejo-vos um bom fim de semana.:)

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Imagem:aqui

sexta-feira, 10 de julho de 2015

A palavra mágica

Por vezes sinto que já está tudo dito, tudo escrito, tudo falado. Que nada que se diga irá desviar o mundo da sua rota. Que o ser humano preocupado consigo próprio não se ocupa da grande tarefa de tentar adivinhar os gostos e as preocupações do outro: Se está triste procurar saber o porquê e consolá-lo; se está alegre, congratular-se com isso. Mas, não poucas vezes encontro pessoas que me fazem crer o contrário e uma lufada de esperança me invade. Com efeito, no nosso quotidiano vislumbro as que conseguem renovar-se e renovar a língua e a linguagem, com um toque de génio, um sorriso, um olhar. E eu aí fico contente e admiro essas pessoas. Como quando passo por alguém que abranda o passo e me diz: "Como está? Hoje o dia vai estar bonzinho". Parece banal, não é? São as tais palavras que de tão repetidas parecem banais mas que são o motor do nosso relacionamento humano. Outras há que de tão escondidas no nosso íntimo parecem nem existir.



Atentemos nestes dizeres:

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira 
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura 
ficará sendo 
minha palavra.  

É A Palavra Mágica, de Carlos Drummond de Andrade, aquela que nos fará sublimes se nos dedicarmos a encontrá-la. A tal que desbloqueará conversações, negociações, mal-entendidos. E, como diz o Poeta, "É a senha da vida, a senha do mundo".

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Diógenes de Sinope, pintado por Jean-Léon Gérôme

segunda-feira, 6 de julho de 2015

A vitória nossa de cada dia



Olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceite o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gaffe. 
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingénuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer «pelo menos não fui tolo» e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.


Clarice Lispector
in: Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres

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Excerto trazido do Citador
Imagem: aqui

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Vamos à Arruada da Culsete?

Diz-se que vai haver livros com preços bonificados, encontros com autores e sessões com autógrafos e apontamentos musicais e de dança, de cinema, culinária e actividades infantis, enfim, um convívio de saberes e de culturas, nesta que é a III Arruada da Livraria Culsete, em Setúbal, de 03 a 12 deste mês.


Ademais, ouvi dizer que Setúbal está a ter um apetitoso revigoramento em termos de restauração com umas tasquinhas cujos petiscos fazem crescer água na boca, para além dos vinhos, engarrafados ou à pressão e sangrias, lá para os lados da Av.Luísa Todi. Não me esqueci do peixe, não. Há, por exemplo, um sítio ao pé do Quebedo onde vou comer umas belas sardinhas assadas, sempre que por ali passo. Para quem quiser pernoitar há uma série de hostels e afins. Das praias nem se fala... com a bela Tróia ali ao fundo.

Lá nos encontraremos. :)