Os mesmos olhos no futuro, vêem O que não pode ver-se.
Por que tão longe ir pôr o que está perto — A segurança nossa? Este é o dia, Esta é a hora, este o momento, isto É quem somos, e é tudo.
Perene flui a interminável hora Que nos confessa nulos. No mesmo hausto Em que vivemos, morreremos. Colhe O dia, porque és ele.
Ricardo Reis
in "Odes"
Ricardo Reis, ao lado de Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Bernardo Soares, é um dos heterônimos do escritor português Fernando Pessoa.
Influenciado pelos ideais filosóficos greco-latinos, sobretudo pelo epicurismo e pelo estoicismo, Ricardo Reis criou uma poesia em que a harmonia, a clareza, as boas formas de viver, o prazer, a serenidade e o equilíbrio são os principais temas. Recebeu também forte influência do poeta Alberto Caeiro, heterônimo de Pessoa considerado um mestre para os demais. Sua poesia defende o ideal do “carpe diem”, frase do poeta Horácio popularmente traduzida como “aproveite o momento”. Por meio de seus versos, Ricardo Reis procurou atingir a paz e o equilíbrio sem sofrer, considerando a vida como uma viagem cujo fluir e fim são inevitáveis. aqui
Este é o título da reflexão que a Amiga Rosélia nos propôs tendo em vista a comemoração do 12º aniversário do seu blog "ESPIRITUAL-IDADE", amanhã dia 23 do corrente mês.
Neste ano e meio tanta coisa aconteceu e continua a acontecer que convocar tudo de modo a fazer-se uma análise objectiva torna-se tarefa hercúlea...porque dói. De vez em quando falamos sobre um aspecto ou outro, de modo a tentarmos exorcizar um pouco as dificuldades que temos experimentado.
Aqui, no Xaile de Seda, fui abordando essas dificuldades da forma como as interpretava, sendo de grande relevo para mim o trabalho e dedicação dos Profissionais da Saúde, todo o sacrifício a que foram sujeitos pelas terríveis circunstâncias que a doença apresentava; também os Voluntários, essas figuras quase invisíveis que só se dá por elas quando andamos desesperados, à toa num hospital, e nos levam pela mão; o trabalho relâmpago dos Cientistas na descoberta de uma vacina para debelar este flagelo, quando se pensava que isso levaria o tempo de estarmos já todos mortos; os confinamentos e restrições sucessivos levando muita gente com pequenos negócios para a miséria e muitos mais para o desemprego.
Todos temos bem presente a primeira fase da notícia do aparecimento do vírus, os tempos de dúvida em que a comunidade científica não sabia o que fazer, tentando apanhar aqui e ali um sintoma, que medicamentos prescrever, todos vestidos da cabeça aos pés, protegendo-se, e com motivos para isso... As imagens da desinfecção das ruas com pessoas que pareciam extra-terrestres, as notícias que nos chegavam dos milhares que sucumbiam à doença, as recomendações contraditórias de uso ou não uso de máscara... além da desinfecção das mãos, distanciamento social que impedia o toque tão necessário ao ser humano.
Parece que estamos a viver isto há uma eternidade. Conseguimos agora respirar um pouco mais à vontade. Contudo, sabemos que a vacina não resolve tudo. O vírus continua aí, tomando novas formas.
Tive Covid em Janeiro bem como os meus familiares mais chegados, inclusivamente o benjamim da família de oito meses. Foram dias de grande aflição. Levámos agora a vacina, a segunda dose, pois consideram que quem já teve a doença não precisa da primeira...
Muitos parabéns, minha amiga Rosélia, pelo seu blog e por congregar todos numa acção introspectiva, contando as suas experiências neste momento crítico da Humanidade.
Boa semana, meus amigos.
Abraços.
====
"Ressonâncias"
O nda de carinho
L iberdade nas amizades
I nteligente
N ada esnobe
D ádiva no virtual
A miga muito leal
Grata pelas suas gentis palavras, querida amiga Rosélia.
Preocupa-se com a missão que lhe deram e quer levá-la até ao fim com uma estratégia bem definida, seguindo, obviamente, as indicações técnicas da DGS e de quem de direito. Diz-se dele que seguindo o clássico de Sun Tzu, soube atrair o inimigo para o seu campo de batalha e aí dar-lhe luta. Pré-agendamentos, Casa Aberta, foram a guerrilha que Gouveia e Melo mobilizou para emboscar a Covid. Neste momento temos 70% da população vacinada antes da data prevista.
Quem é este militar catapultado para a vida civil? Com um Currículo invejável, com várias condecorações, ex-Comandante Naval, actualmente Adjunto para o Planeamento e Coordenação do Estado-Maior General das Forças Armadas, em acumulação com o cargo de Coordenador da Task Force para o Plano de vacinação contra a COVID-19 em Portugal, como bem sabemos. O melhor é ler tudo aqui ...
Traja-se com fardamento de campanha o que a nós nos parecia esquisito e algo despropositado. É o único uniforme que é comum aos três ramos das Forças Armadas. (...) Lembra-me todos os dias que estou aqui numa função crítica e que tem de ser feita com todo o esforço necessário”, refere aqui.
Com o tempo, esse militar já faz parte do panorama invulgar que estamos a viver e sentimo-lo mais familiar depois dos resultados obtidos e de ter sido apupado por meia dúzia de desinformados, tendo reagido com fleuma e bom senso.
O que virá a seguir? Terceira dose? O futuro o dirá.
Cada batalha a seu tempo, nesta guerra sem quartel.
Real Barraca ou Paço de Madeira. Perturbado com a violência do terramoto (1755) que destruira o sumptuoso Paço da Ribeira, D. José I não quis arriscar. Preferiu mandar construir um Palácio em que não entrasse pedra e cal, o qual viria a servir de residência da Corte por três décadas, até à data da sua completa destruição por via de incêndio, já no reinado de D. Maria I. O interessante é que no rescaldo descobriu-se que afinal havia alvenaria a suportar o segundo andar.
Pormenor da Real Barraca
O Palácio Nacional da Ajuda ou de Nossa Senhora da Ajuda seria construído em substituição da referida Real Barraca, com início em 1795. O projecto inicial de estética barroca tivera profunda alteração em 1802, de inspiração neo-clássica, da autoria dos arquitectos Francisco Xavier Fabri e José da Costa e Silva. Funcionou como Paço Real com o rei D. Luis I (1838-1889), que aí se instalou definitivamente a partir de 1861. No vestíbulo, merecem destaque as 47 estátuas assinadas por artistas portugueses.
É hoje, em grande parte, um museu, estando instalados no restante edifício a Biblioteca Nacional da Ajuda, o Ministério da Cultura, a Galeria de Pintura do rei D. Luís I e a Direção Geral do Património Cultural. O Palácio e o Museu são geridos pela Direção Geral do Património Cultural e pela Presidência da República.
Lembro-me de, em 2008/09, ter lugar na Galeria do Rei D. Luís a exposição "Arte e Cultura do Império Russo nas Colecções do Hermitage, de Pedro o Grande a Nicolau II", exposição essa que tive o prazer visitar e apreciar.
O Palácio foi sujeito a obras de requalificação, contando com nova Ala, inaugurada a 7 de Junho deste ano, pronta a acolher o futuro Museu do Tesouro Real que abrirá ao público em Novembro próximo futuro. Uma requalificação que incluiu a Calçada da Ajuda, totalizando 31 milhões de euros, a maior parte viabilizada pelo Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa. Previstos ainda a recuperação do pátio, das fachadas e dos espaços exteriores.
Diz-se que foi posto um ponto final na maldição relacionada com várias interrupções, redução das suas dimensões originais, várias tentativas de remate ao longo de 200 anos:
Citado pela Lusa, aquando da cerimónia de inauguração da nova Ala do Palácio Nacional da Ajuda, o arquiteto João Carlos Santos comentou, desta forma, a conclusão da obra: “Após mais de dois séculos do lançamento da primeira pedra, em novembro de 1795, pelo príncipe regente, D. João, e depois de várias vicissitudes na história trágica da construção do palácio, finalmente deu-se a coincidência de um grupo de personalidades ter tido a coragem de acabar com a maldição que sobre ele se abatia”. aqui
E como não há bela sem senão na semana passada veio a público, como sabemos, uma notícia insólita. Contrastando com a pompa e circunstância da inauguração da referida Ala do Palácio, temos na Calçada da Ajuda portas a metro e meio do chão, para gaúdio de nacionais e turistas... aqui e aqui
Mas diga-se, em abono da verdade: Consta que as casas estão desabitadas e que a GNR que as utiliza pontualmente entra pelas traseiras e que as respectivas portas vão ter a devida atenção até Novembro, de modo a poderem ser galgadas devidamente...para não se transformarem, permanentemente, numa realbarraca, ou seja, numa grande anedota arquitectónica.
Há quem diga em relação ao Palácio e, já agora, à area envolvente: O que torto nasce, tarde ou nunca se endireita.
Tanto gentil e tão honesto é o ar da minha dama, quando aos mais saúda, que toda a língua de tremor é muda, e os olhos não se atrevem de a fitar.
E ela perpassa, ouvindo-se louvar, vestida de humildade e tão sisuda, que se diria que, do céu transmuda, à terra veio milagres comprovar.
E é graciosa tanto a quem na mira que dá dos olhos tal ternura ao seio, que entendê-la não pode o que a não sente.
E é como se em seus lábios fora ardente um espírito suave e de amor cheio que, sem dizê-lo, às almas diz: — Suspira.
(Encontrará aqui várias outras traduções do soneto, contando-se entre elas uma de Vasco Graça Moura. Veja de qual gosta mais.)
Dante Alighieri, 1265-1321, foi um escritor, poeta e político florentino. É considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, definido como il sommo poeta. Disse o escritor e poeta francês Victor Hugo (1802-1885) que o pensamento humano atinge em certos homens a sua completa intensidade, e cita Dante como um dos que "marcam os cem graus de gênio". E tal é a sua grandeza que a literatura ocidental está impregnada de sua poderosa influência, sendo extraordinário o verdadeiro culto que lhe dedica a consciência literária ocidental. Leia mais aqui
Consta que Beatriz de Folco Portinari teria sido a grande musa de Dante na construção de La Divina Commedia, a sua epopeia teológica.
Boa semana, meus amigos.
Abraço
====
Poema: in 'Poesia de 26 Séculos, Jorge de Sena'
Imagem:
"Dante e Beatrice no jardim", 1903, obra de estilo pré-rafaelita
A loja está apinhada de gente, acotovelando-se quase. E eu ali com o bebé de um ano ao colo, aliás, enfiado num suporte no meu lado direito. De repente, tenho um baque, sinto-me estranha e desconfortavelmente leve desse lado. Já em pânico, verifico o que temia. Tinham-me tirado o menino. Olho à volta meio perdida e vejo que muitos dos rostos são conhecidos. O que estariam ali a fazer? Pergunto se viram quem me tinha levado o bebé e noto desinteresse e indiferença. Sinto que aquilo não tinha acontecido por acaso. E dá-me a impressão de alguém estar a dizer baixinho: eles vão tratá-lo bem. Saio a correr desorientada pela rua do Conde Redondo acima. E agora o que é que eu faço? O que é suposto fazer-se num caso destes? Ah, já sei, vou à Polícia. Começo por perguntar a um homem que vinha a descer a rua onde era a esquadra, pôs-se a esbracejar, afastando-se rapidamente. Encontro um rapaz e uma rapariga a quem faço a mesma pergunta, mas debalde. Encolhem os ombros pura e simplesmente. Seriam estrangeiros? Devo estar com ar tresloucado. Atravesso a rua e vou de roldão por ela abaixo. Não quero ligar para casa, não quero causar alarido nem preocupações, mas que remédio? Paro por instantes, abro a mala, está vazia, telemóvel e documentos, carteira, nada. Entro numa lojinha, vejo outra cara conhecida. E peço: por favor, deixe-me ligar do seu telemóvel, estou numa aflição. Num gesto moroso que dura uma eternidade, estende-me o aparelho. Ligo o número, nem um som sequer. Volto a ligar. O mesmo resultado. E digo-lhe: o telemóvel não dá, veja se pode ligar para este número. Com os mesmos vagares, ela pega num cabo, liga-o ao telemóvel e diz-me: é que convém não ficar registado...e pisca-me um olho cúmplice. Dos confins da terra oiço a voz da minha filha: Mãe, o pequeno-almoço é às nove. Abro os olhos, cansada, extenuada, esbaforida e ... vejo-a com o bebé ao colo. Uff!!!