sábado, 17 de maio de 2025

Alegoria ao Sol




Naquela tarde havia sol, irmão ...
Sol
brincando às esquinas
colorindo as cubatas
enfeitando os olhares ...
Havia sol,
lrmão! ....

As crianças saltavam
na areia encarnada
correndo e brincando
fazendo bonecos
- bonecos de barro
entregues ao Sol
nessa tarde infinita
em que tu
irmão
olhavas nos olhos
da fiel companheira
um destino melhor.
Havia Sol, irmão ...
E as roupas secando
em acenos de paz
afastavam a dor
que na tua alma sem brilho
se fora acoitar.
As galinhas ciscavam
no pequeno quintal,
e as moças sem graça
entregues à noite
riam p'ro Sol
que nessa tarde infinita
havia.
irmão!
Havia Sol,
- Sol nessa tarde
Sol
a brincar às esquinas
a colorir as cubatas
a enfeitar os olhares
Sol
irmão!
Sol
que tu procuraste
erguendo as mãos
simplesmente tocar.

JOÃO ABEL


Nasceu em Luanda aos 6 de Julho de 1938. Obras publicadas: 
«Bom Dia» (1982) e «Assim Palavra de Mim» (2004).



MEUS AMIGOS:

VOU PASSAR UNS DIAS FORA.
AGRADEÇO A VOSSA PRESENÇA 
NO "XAILE DE SEDA" E OS VOSSOS
BELOS COMENTÁRIOS.
ATÉ PARA A SEMANA.
ABRAÇOS
OLINDA




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Poema aqui
Imagem: pixabay

Nota: Não encontrei mais nenhuma informação sobre o autor, para complementar a que se encontra acima.

segunda-feira, 12 de maio de 2025

A rua é das crianças

 



Ninguém sabe andar na rua como as crianças. Para elas é sempre uma novidade, é uma constante festa transpor umbrais. Sair à rua é para elas muito mais do que sair à rua. Vão com o vento. 

Não vão a nenhum sítio determinado, não se defendem dos olhares das outras pessoas e nem sequer, em dias escuros, a tempestade se reduz, como para a gente crescida, a um obstáculo que se opõe ao guarda-chuva. Abrem-se à aragem.
 
Não projetam sobre as pedras, sobre as árvores, sobre as outras pessoas que passam, cuidados que não têm. Vão com a mãe à loja, mas apesar disso vão sempre muito mais longe. E nem sequer sabem que são a alegria de quem as vê passar e desaparecer.

Ruy Belo





***

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

António Gedeão





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1º excerto:"Obra Poética de Ruy Belo-Vol.1 p.185 - aqui
2º excerto: Pedra filosofal - António Gedeão - aqui

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Mar de Canal




Este é o mar que temos de atravessar que, em dias de vento, se enche de carneiros, como diz o povo, com grandes e alterosas vagas. Nos dias de calmaria parece um lago imenso, nem uma aragem consegue empurrar os veleiros que se aventuram a calcorreá-lo

Isso era noutros tempos, na verdade. A corrente levava-os até não se sabe onde, por dias, a não ser que o vento resolvesse reaparecer. 

Na actualidade, já há navios que fazem a travessia, com música a passar, salas com bons assentos para os passageiros, saquinhos para quem se sinta mal-disposto, funcionários a dar assistência a quem se sinta menos bem...

Nesse clima de bonança, bem tento sair para o convés para contemplar a força da natureza que se apresenta aos nossos olhos. Mas debalde. Lembro-me do tempo em que isso nem me passaria pela cabeça. 

Realmente, de volta ao ano lectivo, de borco, quase me desfazendo no meio das maiores agruras, com a água a passar de um lado para o outro, em grandes castelos a abater sobre mim, mon Dieu!, lembra-me Vitorino Nemésio com o seu mau tempo no canal, ressalvando, bem entendido, a trama e toda a envolvência dessa grande obra.



Cesária Évora
-Mar de Canal-


Nota: Hoje, Dia da Língua Portuguesa.

Floreça, fale, cante, ouça-se e viva
A Portuguesa língua, e já onde for
Senhora vá de si soberba, e altiva.

Ver, aqui, no Xaile de Seda


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foto minha

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Salgueiro Maia - O Implicado

 


No Terreiro do Paço (Praça do Comércio)

Na madrugada de 25 de Abril de 1974, durante a parada da Escola Prática de Cavalaria (EPC), em Santarém, proferiu o célebre discurso: 

"Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!". 

Todos os 240 homens que ouviram estas palavras, ditas de forma serena mas firme, tão característica de Salgueiro Maia, formaram de imediato à sua frente. Depois seguiram para Lisboa e marcharam sobre a ditadura. aqui




As últimas palavras de Salgueiro Maia 
1ª parte



As últimas palavras de Salgueiro Maia 
2ª parte


O título desta publicação, Salgueiro Maio - O implicado, é o título do filme que vi há dias, no qual é descrito, em resumo, a acção deste militar que trazia em si a noção do dever e sentido pátrio. 

Nesta entrevista, em duas partes, ouvimo-lo descrever por palavras suas o que pensava sobre o 25 de abril de 1974 e o que fez para que isso acontecesse. 

É a primeira vez que falo sobre ele, mas sempre senti que me faltava algo, esse rosto, essa figura que concretizaria a Hora da Liberdade. Nestes últimos dias tive a oportunidade de fazer algumas leituras e de ficar a saber o que o movia.

Morreu a 4 de Abril de 1992.

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Citação: de aqui