terça-feira, 31 de julho de 2018

A Criança do Lapedo

Um pouco ausente do blogue, por assistência a familiar, agradeço a todos os que por aqui têm passado, neste ínterim. Não queria deixar passar este mês (na verdade, daqui a pouco já é Agosto) sem fazer referência a uma notícia que li logo no seu início, não porque nos faça alguma diferença para o nosso quotidiano, mas, sim, no sentido de que nos permite conhecer mais do nosso passado, das nossas origens, dos cruzamentos a que, provavelmente, ao longo dos tempos fomos sujeitos e que de alguma forma terão influenciado a nossa sobrevivência.

Trata-se de um achado arqueológico de Dezembro de 1998, no Abrigo do Lagar Velho do Vale do Lapedo - Leiria - o esqueleto fossilizado de uma criança com a idade compreendida entre os quatro e cinco anos, datado no tempo com 24500 a 25000 anos, enterrada com cuidados que fazem supor que era amada e que viveria no seio de uma comunidade. Na verdade foi designada de "Menino do Lapedo", embora não se saiba se é menino ou menina. (Há textos que dizem peremptoriamente que é do sexo masculino)*. 




O espanto para os especialistas reside no facto de estar datado o desaparecimento ou extinção dos Neandertais em 28000 anos e essa criança apresentar na sua estrutura óssea influências do Homo Sapiens Sapiens e do Homo Neandertalensis. Então, uma série de questões se coloca: Em que condições ter-se-á processado o cruzamento entre eles? Os neandertais terão sido absorvidos pelo homem moderno? Ter-se-ão verificado confrontos entre eles e em que medida? Enfim,  há controvérsias e polémicas a perder de vista.

Por mim, creio que nada se extingue sem deixar rasto, por mais ténue que seja. Muito há para descobrir ainda e penso que não será nos nossos dias que ficaremos a saber de que se compõem esses mistérios ou se chegaremos ao seu âmago. 

Talvez com o fito de se procurarem mais respostas e em comemoração dos 20 anos do referido achado arqueológico, no passado dia 23 de Julho, em Leiria, recomeçaram-se as escavações arqueológicas e há um programa afim durante o ano de 2018, que inclui uma exposição na Croácia: O Museu de Arqueologia de Zagreb (Croácia) vai receber em dezembro uma exposição sobre o Menino do Lapedo, projeto que envolve a autarquia de Leiria, o Ministério da Cultura e o Museu Nacional de Arqueologia, entre outros.





Diz aqui que:

Assinalar os 20 anos da descoberta do Menino do Lapedo é reconhecer a sua importância e a relevância do Abrigo do Lagar Velho, no Lapedo, no âmbito científico e pedagógico, na área da arqueologia e paleontologia mundiais, mas sobretudo dar-lhes a devida projeção enquanto património cultural de extraordinária relevância nacional e internacional... (Vereador da Cultura da Câmara de Leiria)


QUEIRA ACEDER A ESTE INTERESSANTE



Boa semana.

Abraço.


=====

Leia mais: aqui, aqui, aqui 
Imagens: daqui

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Procuro-te

Procuro a ternura súbita, 
os olhos ou o sol por nascer 
do tamanho do mundo, 
o sangue que nenhuma espada viu, 
o ar onde a respiração é doce, 
um pássaro no bosque 
com a forma de um grito de alegria. 

Oh, a carícia da terra, 
a juventude suspensa, 
a fugidia voz da água entre o azul 
do prado e de um corpo estendido.


Procuro-te: fruto ou nuvem ou música. 
Chamo por ti, e o teu nome ilumina 
as coisas mais simples: 
o pão e a água, 
a cama e a mesa, 
os pequenos e dóceis animais, 
onde também quero que chegue 
o meu canto e a manhã de maio. 

Um pássaro e um navio são a mesma coisa 
quando te procuro de rosto cravado na luz. 
Eu sei que há diferenças, 
mas não quando se ama, 
não quando apertamos contra o peito 
uma flor ávida de orvalho. 

Ter só dedos e dentes é muito triste: 
dedos para amortalhar crianças, 
dentes para roer a solidão, 
enquanto o verão pinta de azul o céu 
e o mar é devassado pelas estrelas. 

Porém eu procuro-te. 
Antes que a morte se aproxime, procuro-te. 
Nas ruas, nos barcos, na cama, 
com amor, com ódio, ao sol, à chuva, 
de noite, de dia, triste, alegre — procuro-te. 

in "As Palavras Interditas"

Encontrei, há dias, Eugénio de Andrade no blog Raraavisinterris. Lembrei-me que há já algum tempo que ele não visita o meu Xaile de Seda. Fui à procura de poemas seus e, claro, a dificuldade esteve na escolha. Acabei por optar por este: "Procuro-te". 

Há sempre algo que procuramos na vida e penso que as palavras deste magnífico Poeta traduzem na perfeição o que nos faz avançar estrada fora, aos mais profundos recantos ou dentro de nós próprios: a procura do sentido da Vida.

======

Poema:  Citador
Imagem: Pixabay