Blog: AmorAzul
ficam nas entrelinhas
os registos dos afetos".
Blog: AmorAzul
Blog: AmorAzul
Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida, descontente,
repousa lá no Céu eternamente
e viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueça daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
alguma* cousa a dor que me ficou
da mágoa sem remédio de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te
quão cedo de meus olhos te levou.
O soneto mais famoso de Camões. Parece ter sido também dedicado à morte de Dinamene. Dizia Machado de Assis que "tem a simplicidade sublime de um recado mandado ao Céu".
Inspirando-se em modelos italianos (Petrarca, Sannazzaro), o nosso Poeta excedeu-os a todos e soube, neste soneto, exprimir com a maior perfeição "o sentimento predominante da raça, a saudade" (Joaquim Nabuco).
In Líricas - Selecção, prefácio e notas de Rodrigues Lapa.
Pg 53
MUNDO ESCURO
====
No livro, a grafia: algua, com til sobre o u (impossibilidade de mantê-la com este teclado)
.Música do presente...
.Comemoração, neste ano, dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões
Neste ano comemora-se os 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões. É considerado o poeta maior da Literatura Portuguesa com a sua obra épica Os Lusíadas, na qual canta o "peito ilustre lusitano".
Tudo o que tinha sido realizado - os heróis antigos e a sua glorificação -, perdia o brilho porquanto uma nova estrela despontava no horizonte, suplantando os feitos extraordinários que vinham da antiguidade.
E assim, sem meias medidas, diz o Poeta:
Cessem do sábio Grego e do Troiano
AS navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
Esta é a terceira estrofe da proposição que logo é seguida da invocação às Tágides, pedindo-lhes um som alto e sublimado, um estilo grandíloco e corrente, uma fúria grande e sonorosa, para levar a bom termo o canto em que ele pretende sublimar os feitos dos portugueses.
E ele organiza a sua Obra épica a que dá o título de Os Lusíadas, composto de dez cantos, inspirando-se em Homero e Virgílio. Põe Vasco da Gama a fazer todo o relato da História portuguesa até D.Sebastião, a quem a dedica.
Uma das partes de Os Lusíadas de que mais gosto é do Canto III, em que o poeta insere a história dos amores de Pedro e Inês, referindo-se à morte desta e relatando de uma forma emotiva o seu assassinato mandado por D.Afonso IV, pai de Pedro.
Penso que sabemos todos esta estrofe de cor:
120 -
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
O que nos toca profundamente é a despreocupação em que Inês se encontrava, não adivinhando que lhe seria tirada a vida apenas porque amava o seu príncipe.
(Mas também conhecemos os jogos de poder que levaram a essa morte)
***
Bom feriado, meus amigos.
Abraços
Olinda
===
Os Lusíadas, Luis de Camões, pgs 69, 157
Imagem da net.
NO ABRAÇO SEM PALAVRAS
Tem sido muito difícil a vida das crianças. Desde sempre. E quando há guerras, contendas, cataclismos, são os seres humanos que mais sofrem. E isso porque não pediram para nascer e não têm ainda capacidade para se defenderem.
Nos últimos tempos, com as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, as notícias que nos chegam sobre crianças mortas pelo poder das armas e à fome levam-nos a descrer na humanidade. E as guerras surdas que se desenvolvem por todo o mundo, nomeadamente, em África, também nos trazem um atroz sentimento de impotência.
Cecília Meireles, aqui, num poema sobre o menino triste, que poderá abarcar a situação da Criança no mundo inteiro: