Doravante
gritarei no alto dos montes a minha ode ardente, a minha hossana à mãe-natureza. Nos braços do vento, nas ondas do mar, na brisa acariciante, na frescura da água cantarei, vibrarei.
Procurarei beleza no macadame, no barulho da cidade, nos carros que passam, nos escapes que fumegam. Nas torres de cimento, nas máquinas que rugem, na tecnologia obcecante, no burburinho, buscarei e encontrarei amor...
Doravante
deixarei a minha pena correr, livre e enlouquecida, afiada, de ponta em riste, louvando isto e aquilo. No bolo de
arroz acariciando o palato de uma figura de Rubens, na obesidade de um Adónis, verei graça e encanto. Na Messalina perdida que oferece seus favores, na Vénus desnuda de seios palpitantes, verei sinal de missão. Do status quo retirarei apenas e só o inefável. Da vida vivida o suco. Da realidade a aparência.
Qual
Fénix renascerei.
Dinola Melo
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso.
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Exagero meu no que te diz respeito, Dinola.
Mas de exagero, exagero excessivo, sabe Álvaro de Campos.
Quanto ao resto, uma pálida amostra.