Hoje avançámos um pouco num caminho que temos receado encetar. Pela primeira vez, penso, falou-se sobre a História Colonial, ainda por fazer verdadeiramente, no espaço considerado como sendo da democracia, a Assembleia da República, no dia da Comemoração da Revolução de 25 de Abril de 1974. E mais. Pelo Presidente da República, órgão máximo que a todos representa.
O início da guerra nas ex-colónias fez a 15 de Março sessenta anos, com a primeira incidência em Angola. Sabemos das perdas em vidas, tanto dum lado como do outro. Do sofrimento causado a quem foi obrigado a tomar parte nela, bem como às suas famílias.
Do que causou a guerra, do ultramar, colonial ou de libertação, nem todos sabem muito bem. Os motivos continuam a habitar um limbo de incertezas e pouca vontade de conhecer. Ignorância e incompreensão assumidas, em muitos casos.
Muito pouco tem sido publicado sobre o assunto. Espaços de discussão também raros. Abriu-se agora uma brecha. Aproveitemo-la para estudar, analisar, pondo nisso um interesse, diria, científico. A História, incluída na categoria das Ciências Sociais e Humanas, tem ferramentas que nos ajudam a comparar e a fazer análises críticas.
Para além disso, é fundamental que a sociedade fale do assunto, que se escreva sobre a temática, que se aproveitem testemunhos de pessoas ainda vivas. Sei que tem havido alguma iniciativa nesse sentido, mas nada que leve as pessoas a interessarem-se positivamente e de forma consistente.
As injustiças, a escravatura, a ocupação de terras, a aculturação imposta, a legislação humilhante para melhor implantação do invasor, tudo isto e muito mais deve ocupar, sim, um lugar relevante no presente para que nunca mais possa ser repetido.
Os erros e os danos são irreversíveis. Ir buscar ódios ao passado nada traz de bom. Mas atitudes diferentes, positivas, podem e devem ser adoptadas e postas em prática. A sua inclusão efectiva no sistema de ensino seria uma delas.
Houve um homem, político, filósofo e combatente, dotado de inteligência e visão fora do comum que preconizava o entendimento entre os povos. Na Assembleia da República uma deputada fez referência a esse grande Africano, Amílcar Cabral.
Tenhamos em mente as suas palavras e o caminho que tentou indicar aos homens do seu tempo:
"Como sabe, nós temos uma longa caminhada juntamente com o povo português. Não foi decidido por nós, não foi decidido pelo povo português, foi decidido pelas circunstâncias históricas do tempo da Europa das Descobertas ... Há essa realidade concreta! ... [§] Nós marchamos juntos e, além disso, no nosso povo, seja em Cabo Verde seja na Guiné, existe toda uma ligação de sangue, não só de história mas também de sangue, e fundamentalmente de cultura, com o povo de Portugal. [...] Essa nossa cultura também está influenciada pela cultura portuguesa e nós estamos prontos a aceitar todo o aspecto positivo da cultura dos outros" aqui=====
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