segunda-feira, 29 de maio de 2023
Da calma e do silêncio
sexta-feira, 26 de maio de 2023
POVO
segunda-feira, 22 de maio de 2023
Ainda sobre o: “Manual de Estudo da Língua Cabo-verdiana e Projecto de Gramática para o Ensino do Kriol a Estrangeiros”
sexta-feira, 19 de maio de 2023
Clarinho, clarinho...
Um dia, os babilónios levantaram-se do chão, roubaram o fogo dos deuses e gravaram na pedra: - nenhum poder sobre a Terra é superior ao império da Lei...
E, entre eles, nomearam um Conselho de Sábios, para que assim vele...
Hammurabi, o legislador, não se conforma e proclama - Babilónicos, a lei sou eu!...
Obsequioso, o Conselho de Sábios: Grande Hammurabi, teu poder é imenso e sábia a tua lei desde que se conforme com a Lei maior que nós velamos...
E devolve uma, duas, três vezes as leis de Hammurabi. Que agreste barafusta, investindo: aclarem vossas decisões - quando não, serão todos escrutinados!...
E culpa o Conselho de Sábios pelo afundamento do barco...
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E um velho, cego e dando-se ares de profeta, murmura: clarinho, clarinho que até um cego vê!... E exorta: Babilónicos, não queiram ser escravos, nem bestas - o Povo é quem mais ordena!...
Manuel Veiga, in"Notícias de Babilónia e outras Metáforas"- pg 16
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Que livro é este? Publicado em 2015, ele é composto de textos de crítica político-social nos quais se reconhecem os intervenientes por estarmos a viver, na altura, a realidade neles descrita.
Entre os referidos textos, aparecem estas sátiras, tomando Babilónia, os babilónios e Hammurabi como protagonistas. A cereja no topo do bolo é uma entidade diferente em cada situação que, no fim, profere as suas exortações ou sentenças.
Presentemente, se não temos crises, inventamo-las. E assim passamos os dias em discussões estéreis, no diz-que-diz, em recriminações, em posturas deprimentes de personalidades institucionais que deviam estar a trabalhar para o bem comum.
Bom fim de semana, meus amigos.
Abraços.
Olinda
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Imagem:nunca foram encontradas evidências arqueológicas
segunda-feira, 15 de maio de 2023
A Concha
Segreguei-a de mim com paciência:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta ao vento, as salas frias.
A minha casa. . . Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.
(Poesia, 1935-1940)
sábado, 13 de maio de 2023
AVE-MARIA
À minha Mãe
AVE-MARIA
Schubert
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No dia 14/5 festeja-se o "Dia das Mães" no Brasil.
Associo-me, nesse dia, aos amigos
brasileiros que visitam este Xaile.
Abraços
Olinda
terça-feira, 9 de maio de 2023
Ala dos Namorados
Ala dos Namorados
SOLTA-SE O BEIJO
Sigo as pegadas de luz
Peço ao gato "xiu" para não me denunciar
Dá horas à cusquice das vizinhas e eu
Confesso às paredes de quem gosto
Elas conhecem-te bem
Deixo-me ir nos trilhos traçados
Pela saudade de te encontrar
Ainda onde te deixei
Sei o teu cheiro mergulho no teu tocar
Abraças a guitarra e voas para além da lua
Espero que me sintas para me entregar
A cadeira, as costas, o cabelo e a cigarrilha
A dança do teu ombro...
É o bater do coração
Fecha-se a porta
Pára o relógio
As vizinhas recolhem
Tu olhas-me...
Sei o teu cheiro, mergulho no teu tocar
Abraças a guitarra e voas para além da lua
Espero que me sintas para me entregar
A cadeira, as costas, o cabelo e a cigarrilha
A dança do teu ombro...
É o bater do coração
Fecha-se a porta
Pára o relógio
As vizinhas recolhem
Talentosos todos!
João Gil, Manuel Paulo e João Monge. Mais tarde, José Moz Carrapa. A banda, criada em 1992, descobre Nuno Guerreiro num espectáculo de Carlos Paredes.
Aqui estão eles num dos seus melhores momentos. O seu nome, Ala dos Namorados, remete-nos para a História Pátria, mais precisamente para a Batalha de Aljubarrota (1385).
Com o exército dividido em alas, a dos Namorados era composta pelos combatentes mais jovens. Sabemos que a táctica do quadrado, idealizada por D. Nuno Álvares Pereira e posta em prática naquela batalha, dita a vitória sobre os castelhanos, debelando a crise de 1383-1385. E a Dinastia de Avis com o seu primeiro rei, D.João I, aclamado nas Cortes de Coimbra, dura até 1580. A partir dessa data também sabemos o que se seguiria, ou seja, a saga dos Filipes por sessenta anos.
Na actualidade brincamos às crises, como baratas tontas.
Boa semana, meus amigos.
Abraços
Olinda
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"Solta-se o Beijo"Música: João Gil
Letra: Catarina Furtado
Vozes: Sara Tavares e Nuno Guerreiro
Imagem: Painel de azulejos pintado por Jorge Colaço (1922) representando um episódio da batalha de Aljubarrota. No Pavilhão Carlos Lopes, Lisboa, Portugal.
domingo, 7 de maio de 2023
Cantiga de Maio
Ó mãe, que és mãe de Deus, que és mãe de mim e mãe de Antero e de Camões, e mãe de quem lhe faltam as palavras como se faltasse o ar. E são assim uma espécie de filhos de ninguém. Abre o teu ventre, mãe. Acorda. Vem parir-me. E vem sofrer a minha dor uma vez mais. Morrer de amor por mim. Vem impedir-me o medo. Ensinar-me a amar a luz dos animais.
Ó mãe, ó minha mãe. Ó pátria. Ó minha pena. Que me pariste, assim, temperamental. Mãe de Ulisses, de Guevara e mãe de Helena. E mãe da minha dor universal.
Joaquim Pessoa
sexta-feira, 5 de maio de 2023
Senhora vá de si, soberba e altiva*
A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade.
Velha Infância
quarta-feira, 3 de maio de 2023
O Reino das Casuarinas