Homens que são como lugares mal situados
Homens que são como casas saqueadas
Que são como sítios fora dos mapas
Como pedras fora do chão
Como crianças órfãs
Homens sem fuso horário
Homens agitados sem bússola onde repousem
Homens que são como fronteiras invadidas
Que são como caminhos barricados
Homens que querem passar pelos atalhos sufocados
Homens sulfatados por todos os destinos
Desempregados das suas vidas
Homens que são como a negação das estratégias
Que são como os esconderijos dos contrabandistas
Homens encarcerados abrindo-se com facas
Homens que são como danos irreparáveis
Homens que são sobreviventes vivos
Homens que são como sítios desviados
Do lugar
Poema que confirma o génio de Daniel Faria e de uma maturidade assombrosa para um jovem poeta. Revelador da sua visão mística e visceral, é ainda de um perfeito domínio formal aliado a uma poesia que ilumina, numa incessante busca e contemplação e numa serena exaltação dos mistérios do homem, intensificando-os, deixando-os no lugar.
Cláudia R. Sampaio - aqui
Daniel Faria, Poeta que morreu com apenas vinte e oito anos. Dir-se-à que perdemos muito do que ele teria ainda para nos dar, a dádiva da sua Poesia. E é verdade. Mas verificamos que mesmo nesse pouco tempo de vida deixou a marca da sua passagem de forma indelével.
Neste Poema verificamos a força da sua observação do mundo. Ontem e hoje, a nossa humanidade está sempre a ser posta em causa. Parecemos seres sem poiso e sem vontade de alcançar níveis de pensamento que nos dignifiquem.
Pairamos algures, amorfos, na maior parte das vezes, sem tomar posição em favor do outro. O outro é sempre o outro. Não nos atinge o que possa sofrer desde que não seja connosco.
Contudo, creio no ser humano. Há momentos em que desperta e mostra que afinal continuamos por cá. E é bom sentir que temos ainda alguma noção de solidariedade e de amor universal.
Bom fim de semana, meus amigos.
Abraços.
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