Dos pontos que eu faço o que me parece mais sofisticado é o matiz. Aprendi a bordá-lo no Liceu com a minha professora de lavores, a Dª Angélica. E faço-o muito bem, o resultado parece uma pintura, passe a imodéstia. A minha irmã mais velha sabe todos os pontos dos mais simples aos mais complicados. Um que mais atraía a minha atenção era o crivo, talvez pela dificuldade que eu lhe adivinhava. Ela tinha uma saia branca toda bordada à volta. Bordava e cantava, nas horas vagas. E ainda canta, mas não tanto. Tem uma voz maviosa. Aprendi com ela "As saudades que eu já tinha da minha linda casinha" e muitas outras canções que ela aprendera com a nossa mãe, entre elas, muitos fados da Amália. E ela, com o seu ouvido apurado ensinou-me, a mim e ao Manel, irmão mais novo, a mudar as posições das notas da viola, conforme os tons, enquanto fazia sair das suas mãos autênticas obras de arte. Voltando ao meu pano, e partindo do crisântemo, resolvi bordar as outras flores percorrendo as cores do arco-íris. Os ramos, nos mais variados tons de verde. E apesar de gostar de estar aqui sentada à porta a apanhar o ar da manhã, hoje vou entrar mais cedo. O tempo promete chuva, graças a Deus. Venha ela mansa e benfazeja.
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Imagem: daqui
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Imagem: daqui