sábado, 31 de outubro de 2020

Sonhe com as estrelas

Sonhe com as estrelas,
apenas sonhe,
elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento,
ele precisa correr por toda parte,
ele tem pressa de chegar, sabe-se lá aonde.
As lágrimas?
Não as seque,
elas precisam correr na minha,
na sua, em todas as faces.
O sorriso!
Esse, você deve segurar,
não o deixe ir embora, agarre-o!
Persiga um sonho,
mas, não o deixe viver sozinho.
Alimente a sua alma com amor,
cure as suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias,
deixe-se levar pelas vontades,
mas, não enlouqueça por elas.
Abasteça seu coração de fé,
não a perca nunca.
Alargue seu coração de esperanças,
mas, não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-as.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!

Circunda-se de rosas, ama, bebe e cala.
O mais é nada.

Fernando Pessoa



Ouvi, há dias, este Poema de 
Fernando Pessoa dito por  António Fagundes
recitando a parte que assinalo em bold.
 
E, já se sabe, fui à procura dele, Poema. 
E aqui estou eu a partilhá-lo convosco.



E comigo, Maria Bethânia com "Louvação à Oxum".


NOTA:
Hoje, Dia Nacional da Poesia no Brasil, diz-nos a MAJO aqui


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Meus amigos:

Sobre a autenticidade deste poema atribuído a Fernando Pessoa, queiram ver os comentários das amigas Majo e Elvira.

Bom domingo :)

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Poema daqui

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

INSTANTE




Algures entre o céu e a terra, gorou-se para sempre o Instante, nó górdio jamais desfeito, evadido para a esfera do nada, levado, sufocado em si mesmo, ornado de gâmetas infecundos.

Lentamente a vida se escoa enlaçada na trama imparável, ira de um deus que rejeitou todo o ensejo de, por um instante, eleger a minha alma gémea.




Bom fim de semana, meus amigos.

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Imagem: daqui

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Evolução

Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...

Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo...

Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...

Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.

Antero de Quental, 
     in "Sonetos"






Antero Tarquínio de Quental (Ponta Delgada, 18 de abril de 1842 – Ponta Delgada, 11 de setembro de 1891) foi um escritor e poeta português do século XIX que teve um papel importante no movimento da Geração de 70.
 Antero de Quental dedicou-se à poesia, à filosofia e à política. Deu início aos seus estudos na cidade natal, mudando-se para Coimbra aos 16 anos, ali estudando Direito e manifestando as primeiras ideias socialistas. Fundou em Coimbra a Sociedade do Raio, que pretendia renovar o país pela literatura.
Em 1861, publicou os seus primeiros sonetos. Quatro anos depois, publicou as Odes Modernas, influenciadas pelo socialismo experimental de Proudhon, enaltecendo a revolução. Nesse mesmo ano iniciou a Questão Coimbrã, em que Antero e outros poetas foram atacados por António Feliciano de Castilho, por instigarem a revolução intelectual. Como resposta, Antero publicou os opúsculos Bom Senso e Bom Gosto, carta ao Exmo. Sr. António Feliciano de Castilho, e A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais. aqui







Veja :

Bom fim de semana, meus amigos.

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Poema -citador

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

A Virgem Guerreira

Entretanto o criador dos homens e dos deuses, altamente sentado no cimo do Olimpo, não observa o espectáculo com olhos indiferentes. O Pai instiga ao cruel combate o tirreno Tárcon, e mediante poderosos aguilhões anima a sua cólera. Por isso é que Tárcon investe sobre o seu cavalo e no meio da carnificina e das colunas que cedem; com ditos de toda a espécie ele encoraja as alas, interpelando cada um pelo seu nome e reconduzindo ao combate os soldados vacilantes: "Que medo, ó tirrenos insensíveis à vergonha e sempre indolentes, que cobardia invadiu os vossos corações? Uma mulher desbarata-vos e faz os vossos esquadrões voltar as costas? Para que serve este ferro?, estes dardos inúteis que trazemos nas mãos? Não éreis tão indolentes com Vénus e as suas lutas nocturnas, nem quando, ao sinal dos coros de Baco dado pela flauta recurva, correis para os manjares e as taças que enchem a mesa. Eis o vosso amor, eis os vossos gostos, felizes, contanto que o aruspício favorável anuncie o sacrifício, e que uma gorda vítima vos chame ao fundo dos bosques sagrados."

VIRGÍLIO, in "A Eneida", pg.205 3ª edição, Europa-América


Pois é de Camilla que se trata, a aguerrida mulher de quem fala
 o tirreno Tárcon,
 jovem e bela, itálica, rainha dos Volscos, no combate aos enéades
Mas também cruel e um tanto irresponsável ao lidar com os inimigos.
Teve um triste fim, já fadado desde o seu nascimento.
  



Excerto da "Eneida", a última obra de Virgílio, que nunca a deu por terminada. Perfeccionista, ainda procurava no fim da vida, em 19 a.C., a palavra justa para cada verso, ao ponto de ter pedido aos amigos para queimarem o manuscrito.

Virgílio é para os latinos o que Homero é para os gregos e a Eneida é um clássico, na verdadeira acepção da palavra: tornou-se paradigma poético, e foi nela que tantos grandes poetas se olharam - entre eles, Luís Vaz de Camões e mais notavelmente na Divina Comédia de Dante, em que Virgílio aparece como guia de Dante pelo inferno e purgatório.

Em Junho último, apareceu uma nova tradução da "Eneida", desta feita por Carlos Ascenso André, em verso, no sentido de manter a proximidade ao original e permitir compará-la com o texto virgiliano.

Esta tradução é a primeira feita em verso livre por um especialista em Literatura Latina e, também, poeta; nesse sentido, segue-se à de Agostinho da Silva e à que foi feita por professores da Faculdade de Letras de Lisboa, mas em prosa. aqui

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Daqui vos saúdo, meus amigos.
Desejo-vos dias luminosos.
E boas leituras. 

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Veja aqui "Camila, a virgem guerreira", João Manuel Nunes Torrão, Universidade de Coimbra
Imagem daqui ; Ver: Nova tradução da Eneida - a grande epopeia de Virgílio - aqui
Carlos Ascenso André - entrevista


segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Sinto o Amor florir




Visto-me floridamente...
Serei outra flor? Hein?
Ponho melhor perfume,
Ou absorvo o odor delas?

Visto-me com veste colorida...
Serei mais animada! Ah!
Ponho rosas no cabelo,
Ou sintonizo com a cor delas?

Visto-me brilhantemente...
Serei revestida de luz! Oh!
Ponho brilho no olhar,
Ou assimilo a claridade delas?

Roselia Bezerra



Poema airoso e belo. 
Sente-se no ar o perfume das flores e a luminosidade da Primavera.
 
Serei outra flor? 
Serei revestida de luz?
Ponho brilho no olhar,
Ou assimilo a claridade

Tudo isso, sim, amiga Rosélia e muito mais. De louvar a inspiração ao produzir este poema harmonioso, e o conjunto da publicação onde se encontra inserido, pleno de luz, com apelo ao amor em todos os quadrantes da vida, nos tempos difíceis que vivemos. 




MORNAS DO B.LÉZA - COMPOSITOR

-Bela Rapsódia-



-Pôr-do-Sol da Rosélia-


Boa semana a todos.


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Rosélia Bezerra