Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem
Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nenhum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarce,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.
António Gedeão
Como sábio, como alquimista – dos minérios e do verbo – vem
António Gedeão, com Movimento Perpétuo, em 1956; com Teatro do Mundo,
em 1958; com Máquina de Fogo, em 1961, superar o verdadeiro abismo que
existia (e afinal continua a existir, salvo raras excepções) entre esses dois
domínios. Os seus poemas lírico-didácticos, de constatação das coisas, de
explicação dos fenómenos conseguem a fusão das duas atitudes habitualmente
separadas; a sua viva inteligência, a sua palavra serena penetram a mecânica do
mundo físico e criam os seus correlatos no jardim das ideias e das sensações.
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Meu amigos, desejo-vos um excelente DIA DA LIBERDADE.
Abraço
Olinda
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A imagem foi retirada
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