Não há muito tempo escrevi o prefácio para a edição de um Livro dedicado ao Crioulo de São Vicente, Cabo Verde, da autoria de Manuel R. Melo Santos.
É um Livro composto de duas partes, a que o autor deu o título de "Manual de Estudo da Língua Caboverdiana e Projeto de Gramática Caboverdiana para o Ensino do "Kriol" a Estrangeiros".
Sendo destinado a Estrangeiros, são na verdade 3 livros, especificamente,
"Kriol/Português (Barlavento-variante São Vicente)"
"Kriol/Francês (Barlavento-variante São Vicente)"
"Kriol/Inglês (Barlavento-variante São Vicente)"
O lançamento deste Livro será efectuado no próximo dia 4 de Maio, pelas 18.30, no Centro Cultural do Mindelo, pelo que apresento o Convite a quem puder estar presente e quiser embarcar nesta aventura.
A apresentação estará a cargo da Doutora Dora Oriana Pires - Docente universitária; foi Vice-Reitora da UNI/CV em São Vicente; Doutora
em Ciências Linguísticas, especialidade em ensino da língua materna – FLUO,
Santiago de Cuba.
Atualmente é Deputada Nacional pela bancada do partido UCID e Presidente
da Assembleia Municipal – em São Vicente.
Acabou de lançar, em Santo Antão, a sua obra: “O CABOVERDIANO, LÍNGUA
MATERNA DA REPÚBLICA DE CABO VERDE, E SUA INTRODUÇÃO NAS ESCOLAS
DO PAÍS”, e já havia feito o mesmo, neste espaço, a 18 de outubro de 2022;
Coadjuvada pelas Professoras aposentadas do ensino secundário:
Lóide Rocha – Licenciada em Estudos Cabo-verdianos e
Portugueses – pela UNI/CV – Pólo do Mindelo. Professora de Língua
Portuguesa.
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Filomena Lima – Mestre em História – Relações Internacionais e Cooperação,
pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto – Portugal. Professora de
História e Cultura Caboverdiana.
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Muitos Parabéns a Manuel R. Melo Santos por este seu trabalho e votos do maior sucesso.
No ano em que foi atribuído o Prémio Camões a Chico Buarque de Hollanda, 2019, referi esse acontecimento cultural, aqui, no Xaile de Seda, com muito regozijo.
O facto desse prémio lhe ter sido entregue a 24/04/2023, na véspera das comemorações da Revolução de Abril de 1974, marcará indelevelmente, essa data, creio eu, e estreitará ainda mais os laços de amizade com o Brasil.
E o cheirinho a alecrim junta-se ao dos cravos vermelhos tornando o perfume mais intenso e o desideratum de que caminharemos na senda da tão amada Liberdade.
Hoje não trago a canção que deixo entrever acima,mas esta, Meu Caro Amigo, interpretada com muita espontaneidade e alegria.
Este é o ano do 49º Aniversário da Revolução de Abril de 1974. E, neste ano, resolvi ir à procura da canção que serviu de primeira senha ao arranque das tropas comandadas por aqueles que ficaram conhecidos como "Capitães de Abril".
Segundo li, esta canção por não ter pendor político não chamaria a atenção da PIDE, embora posteriormente se tente encontrar outras explicações. Acabadinha de ganhar o XI Festival da Canção da RTP, a 07/03/74, portanto muito em voga e no ouvido.
A segunda senha para a movimentação foi, como sabemos, "Grândola, Vila Morena", de Zeca Afonso.
Onde estaríamos nós nessa altura? Muita água já correu debaixo da ponte. Uma eternidade. Até parece que sempre vivemos em Liberdade. Mas não, houve tempo em que ela andou arredada das nossas vidas.
Por isso, é bom que a amemos e a valorizemos.
E que nunca mais tenhamos de ouvir comunicados como o que se segue:
“Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas. As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma”. Foi com este texto, lido aos microfones do Rádio Clube Português pelo locutor de serviço Joaquim Furtado, que às 4 da manhã do dia 25 de abril de 1974 o povo português tomava conhecimento de que uma revolução estava em marcha, e que a ditadura do Estado Novo terminava. (...)"
Madruguei demais. Fumei demais. Foram demais todas as coisas que na vida eu emprenhei. Vejo-as agora grávidas. Redondas. Coisas tais, como as tais coisas nas quais nunca pensei.
Demais foram as sombras. Mais e mais. Cada vez mais ardentes as sombras que tirei do imenso mar de sol, sem praia ou cais, de onde parti sem saber por que embarquei.
Amei demais. Sempre demais. E o que dei está espalhado pelos sítios onde vais e pelos anos longos, longos, que passei
à procura de ti. De mim. De ninguém mais. E os milhares de versos que rasguei antes de ti, eram perfeitos. Mas banais.
Os dias e nenhum foi o primeiro. A frescura da água na garganta De Adão. O ordenado Paraíso. O olho decifrando a maior treva. O amor dos lobos ao raiar da alba. A palavra. O hexâmetro. Os espelhos. A Torre de Babel e a soberba. A lua que os Caldeus observaram. As areias inúmeras do Ganges. Chuang Tzu e a borboleta que o sonhou. As maçãs feitas de ouro que há nas ilhas. Os passos do errante labirinto. O infinito linho de Penélope. O tempo circular, o dos estóicos. A moeda na boca de quem morre. O peso de uma espada na balança. Cada vã gota de água na clepsidra. As águias e os fastos, as legiões. Na manhã de Farsália Júlio César. A penumbra das cruzes sobre a terra. O xadrez e a álgebra dos Persas. Os vestígios das longas migrações. A conquista de reinos pela espada. A bússola incessante. O mar aberto. O eco do relógio na memória. O rei que pelo gume é justiçado. O incalculável pó que foi exércitos. A voz do rouxinol da Dinamarca. A escrupulosa linha do calígrafo. O rosto do suicida visto ao espelho. O ás do batoteiro. O ávido ouro. As formas de uma nuvem no deserto. Cada arabesco do caleidoscópio. Cada remorso e também cada lágrima. Foram precisas todas essas coisas Para que um dia as nossas mãos se unissem.
Jorge Luís Borges casou-se já no final da vida com Maria Kodama, a mulher que o acompanhava havia anos, fosse como leitora (assim começou, ao que parece, a sua relação, pois Borges cegara bastante cedo), fosse como uma espécie de secretária (era ela que organizava a sua agenda).
(...)Maria Kodama morreu no final de Março e ninguém encontra o seu testamento. Deste testamento constariam certamente os nomes das pessoas para quem seriam transmitidos os seus bens, nomeadamente os direitos de autor das obras de Jorge Luis Borges. Se o documento não for encontrado, a propriedade será transferida para o Estado argentino, (...)
Excerto de um texto in "Horas Extraordinárias", intitulado
Benignos são os deuses e serenas as águas Depois de os rios transbordarem. Aceitemos, por isso, Lydia, o destino Das coisas perecíveis. Sem indagar da Mentira Ou da Verdade A distância.
Apenas o perfume E a glória de ser…
E sejamos!... Entre o espinho E a rosa apenas um suspiro breve E o devir do tempo. E o fluir leve De nossos passos.
E o bordado de teus dedos Entrelaçados. A desenharem sinfonias E afagos. Harpejo de poeta Soltando maduros bagos e Pétalas no carmim De teus lábios…
"Num tom leve, em jeito de história, José Saramago evoca as palavras primeiras que deram nome a Lisboa, conduzindo-nos ao passado longínquo anterior à chegada dos Romanos até ao topónimo por que é reconhecida nos nossos dias.
Tempo houve em que Lisboa não tinha esse nome. Chamavam-lhe Olisipo quando os romanos ali chegaram, Olissibona quando a tomaram os Mouros, que logo deram em dizer Ascchbouna, talvez porque não soubessem pronunciar a bárbara palavra. Quando, em 1147, depois de um cerco de três meses, os Mouros foram vencidos, o nome da cidade não mudou logo na hora seguinte: que aquele que iria ser o nosso primeiro rei enviou à família uma carta a anunciar o feito, o mais provável é que tenha escrito ao alto Aschbouna, 24 de Outubro, ou Olissobona, mas nunca Lisboa. Quando começou Lisboa a ser Lisboa de facto e de direito? Pelo menos alguns anos tiveram de passar antes que o novo nome nascesse, tal como para que os conquistadores Galegos começassem a tornar-se portugueses…
Estas miudezas históricas interessam pouco, dir-se-á, mas a mim interessar-me-ia muito, não só saber, mas ver, no exato sentido da palavra, como veio mudando Lisboa desde aqueles dias. Se o cinema já existisse então, se os velhos cronistas fossem operadores de câmara, se as mil e uma mudanças por que Lisboa passou ao longo dos séculos tivessem sido registadas, poderíamos ver essa Lisboa de oito séculos crescer e mover-se com um ser vivo, como aquelas flores que a televisão nos mostra, abrindo-se em poucos segundos, desde o botão ainda fechado ao esplendor final das formas e das cores. Creio que amaria a essa Lisboa por cima de todas as cousas.
Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória. Memória que é a de um espaço e de um tempo, memória no interior da qual vivemos, como uma ilha entre dois mares: um que dizemos passado, outro que dizemos futuro. Podemos navegar no mar do passado próximo graças à memória pessoal que conservou a lembrança das suas rotas, mas para navegar no mar do passado remoto teremos de usar as memórias que o tempo acumulou, as memórias de um espaço continuamente transformado, tão fugidio como o próprio tempo. Esse filme de Lisboa, comprimindo o tempo e expandindo o espaço, seria a memória perfeita da cidade."
José Saramago, in O Caderno, Lisboa, Caminho, 2009'
Nesse repositório de memórias do passado que se arrastam até ao presente, a partir do Sec. XV, como nos faz saber Isabel Castro Henriques, através do seu "Roteiro Histórico de uma Lisboa Africana", 2021, ou num estudo mais abrangente, "A Herança Africana em Portugal", 2007, contributos externos são trazidos pelos navegadores para este lugar que alberga no seu seio histórias de mil e uma cantigas.
Voltarei, muito em breve,
a estas obras e a esta autora.
Abraços
Olinda
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Texto trazido de: Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, aqui Série de textos: contributo para a Língua Portuguesa de: José Saramago, Mia Couto, Germano de Almeida
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/idioma/palavras-para-uma-cidade/2452 [consultado em 17-11-2022]
Estive uns dias ausente como referi em devida altura. Foram dias de muito rebuliço, sem parar, de muito riso e festa com pessoas da família e amigos. Do muito que se andou e festejou trago algumas imagens do mar, do sol, das rochas, do artesanato.
Pôr-do-sol no Mindelo, captado do Rooftop do
Hotel Terra Lodge
Onde se comeu um belo cuscuz.
Ao fundo o Monte Cara.
Sempre o Monte Cara, monte icónico, que
nunca falta em bilhetes postais ou fotografias,
ou em qualquer outra publicação que pretenda
dar a conhecer as especificidades da ilha.
Do espaço de lazer do Mansa Hotel.
Do mesmo lugar.
Vêmo-lo de entre os cortinados, o Monte Cara.
A cara de um homem moldado na pedra,
pela natureza.
De mais perto distinguem-se todos os
contornos.
No MartiniSunset. Para ali chegar segue-se
por uma estrada tortuosa, a subir...
Piscina que, de determinado
ângulo, parece suspenso, quase a
despenhar-se.
Bar mais à direita, e bonita esplanada
Praia da Laginha
Ao fundo o Ilhéu dos Pássaros
onde começa a Baía de S.Vicente.
Digamos que o Canal, com mar revolto em dias de muito
vento, fica para lá do ilhéu.
Mais ao longe o vulto imenso da
Ilha de Santo Antão,
nha terra.
Aqui, uma nesga de mar da Baía do Calhau.
Mas, descendo um pouco mais, onde estou sentada, :)
deparamo-nos
com dois vulcões extintos e no sopé água azul
num doce marulhar.
A vinte minutos da cidade do Mindelo, o Calhau é
ideal para a prática de surf e pesca entre a
Praia Grande e a Praia de Sargaça.
Restaurante Sabor
Viemos comer uma pizza a pedido do mais novo.
Acabámos por provar de tudo...e apreciar a
bela linha do horizonte que daqui se desfruta.
E a ilha de Santo Antão ao longe,
envolta na bruma.
Artesanato na Praça Estrela
Há roupa africana de todas as cores,
padrões e feitios.
Dizem-me que os vendedores são do Senegal
Há também lojas na cidade com artigos
que vão descobrir motivos às origens
Uma rua da cidade de Mindelo.
Nesta cidade
encontram-se modernos edifícios de
vários andares
a par de casas térreas em estilo colonial ou outro.
Um pormenor da Praia da Laginha,
praia que se encontra no centro da
cidade de Mindelo.
Em tempo de praia, que é quase o ano todo,
é possível, à hora de almoço,
dar uma fugidinha e tomar um banho
de mar, ir almoçar a casa e voltar para
o escritório
A alguns quilómetros da cidade encontra-se
a Baía das Gatas. No acesso, temos rochas nuas de
ambos os lados, com o Monte Verde a dominar a
paisagem.
Este é um passadiço feito recentemente.
À direita uma quase piscina de água tépida.
No Verão realiza-se no local um
grande festival musical
No regresso da Baía das Gatas, esta vista
espectacular, que se completa mais à esquerda com
ondas espumosas a espreguiçarem-se na areia,
Divisa-se a Santa Luzia ao longe, ilha
actualmente desabitada. Já albergou uma pequena
comunidade de agricultores, no Sec.XVIII.
Com os ilhéus Branco e Raso constituem
uma reserva natural.
Réplica centenária da Torre de Belém, ao fundo.
Alberga o Museu do mar.
Aqui perto, na rua de Praia, situa-se o Plurim de Peixe,
diz-se que é de visita obrigatória
O interessante, para mim, está fora do mercado nos
As fotos que constam deste post é uma ínfima parte do que se viu e se registou. Nelas não há pessoas por respeito à sua privacidade, mas digo-vos que é um fervilhar que dá gosto. Seja no Porto Grande com barcos que chegam diariamente das outras ilhas com passageiros e cargas ou nas ruas, restaurantes e lojas.
Pequenos flashes sobre a ilha de São Vicente, em Cabo Verde, uma das ilhas do Arquipélago a que Basil Davidson chamou de Ilhas Afortunadas. Ou num plano mais alargado, serão asIlhas Afortunadas da mitologia grega juntamente com a Madeira, os Açores e as Canárias, não esquecendo um pequeno enclave na costa africana. E, no seu conjunto, compõem a Macaronésia.