Aqui há uns três anos fui a uma festa do primeiro aniversário de uma sobrinhita e os pais tiveram a ideia de fazer a tal festa numa garagem. Quando assim é, tudo é mais rústico porque parece que isso é moda, regressar ao tradicional, enfim. O almoço foi servido numa mesa comprida, improvisada, ladeada por uns bancos compridos daqueles, já se sabe, sem espaldar. Bom. Estivemos umas quantas horas ali sentados... Quando resolvi levantar-me, além de ter de pedir licença a umas quantas pessoas para poder sair dali, descobri que não conseguia dar um passo sequer.
Velhos e novos acercaram-se de mim a oferecer o braço, o sorriso, palavras amigas, solidariedade. Mas eu a todos arredei e preferi que me trouxessem o cabo de uma vassoura que vislumbrei a um canto. Naquele momento, parecia-me que só eu é que poderia calcular o instante exacto em que a minha estrutura óssea me permitiria mexer um músculo. Então, foi um exercício hercúleo entre respirar fundo, concentrar-me e contar, mentalmente, um, dois, três até conseguir dar o primeiro passo e depois outro e mais outro, muito lentamente. Para entrar no carro foi outro Deus nos acuda.
Quando cheguei a casa, para subir os dois lanços de escada do primeiro andar foi um espectáculo, um pé num degrau e mais o outro pé no mesmo degrau, mais concentração, mais contagens mentais até que consegui chegar à porta, com os familiares atrás de mim com o credo na boca. Foram dias em que não podia estar sentada, nem deitada, nem de pé. Tinha uma inflamação na região lombar, felizmente não se tratava de nada de que não me pudesse recuperar, com fisioterapia e muita paciência ficaria boa.
Mas, a partir daquele dia comecei a prestar atenção às pessoas que me rodeiam, a outras que vejo de quando em quando, ou que encontro pela primeira vez, com o corpo curvado, ou andando de lado, ou coxeando, especialmente pessoas idosas. Destas, muitas desistem de andar porque custa muito, e ficam muito tempo sentadas e não têm ninguém para as incentivar. E assim, com o tempo, o corpo vai ganhando o jeito, a mesma posição para compensar a dor, até que deixa de cumprir as suas funções.
Ontem, dia 1 de Outubro, algumas associações lembraram o Idoso e a sua realidade, o que é meritório porque serviu para chamar a atenção para esta faixa etária e as suas limitações. São vidas de muitas carências (especialmente afectivas) e de muitas enfermidades. Há pessoas idosas que vivem sozinhas, outras que vivem em lares esquecidos dos familiares e que vêem os dias a passar sem um sorriso ou um sinal de carinho. E ainda outras com a sua capacidade de locomoção muito comprometida e que já não conseguem tratar da sua vida diária.
Eis um assunto que nos diz respeito a todos. Cada um no seu bairro, na sua aldeia, na sua cidade, poderá fazer a diferença colaborando da maneira que melhor entender e lhe for possível.