De há uns anos a esta parte somos levados a reflectir sobre a realidade que as designações do título nos sugere. E hoje, com o que se passa entre a Polónia e a Bielorrússia, esta reflexão se torna mais premente.
Afinal o que são essas pessoas, as que abandonam as suas casas, as suas famílias, as suas raízes para se aventurarem por mar, por terra ou pelo meio de transporte que conseguirem? O que as move? Certamente não será a vontade de passar mal, de enfrentarem línguas desconhecidas, de serem concentradas em campos sem as menores condições de vida, com bebés de colo, criancinhas pequenas, velhos e novos, em climas adversos, numa salgalhada que só eles próprios poderão aquilatar.
São estrangeiros, disso não há a menor dúvida. Aliás, somos todos estrangeiros na terra de outrem, com maiores ou menores possibilidades de sobrevivência, de conformidade com as nossas posses e desejo de ali permanecer. Seremos emigrantes em relação ao nosso país de origem e imigrantes quanto ao de chegada. Seremos migrantes quando nos deslocamos dentro das nossas fronteiras, com a intenção de vivermos num outro local e fixarmos residência.
Contudo, a palavra migrante tem sofrido alterações, em termos de significação, ao longo do tempo. Tanto é vista como deslocações intra-muros como também com as que se fazem no plano internacional, identificando-a com as pessoas que referi acima, que abandonam tudo, sem documentos, apenas com a roupa que trazem no corpo, para enfrentarem sabem lá o quê. Pessoas que fogem de guerras, da violência, da miséria, perseguidas por causa das suas posições políticas.
Mas essas não seriam de inserir no estatuto de refugiados?
É que os refugiados têm direitos bem definidos, por convenções internacionais, nomeadamente a de Genebra. Direito ao acolhimento e a serem tratados como seres humanos que são. Direito a um tecto. Direito ao trabalho. E enquanto durarem as situações de perigo que originaram a sua fuga, as instituições devem prover ao seu bem-estar com o contributo dos próprios à sociedade que os acolhem.
Mas dir-me-ão, nem todos serão refugiados, no meio poderá haver elementos que aproveitam esse êxodo por motivos outros. De acordo. Para separar o trigo do joio é que existe um Alto Comissariado para os assuntos relacionados com migrações e refugiados, além de outras instituições, no sentido de avaliarem a situação de cada um. Não é tudo ao molho e fé em Deus como que à espera que as coisas se resolvam por si.
As notícias (e imagens) que correm sobre os milhares de migrantes/refugiados entalados entre a Bielorrússia e a Polónia é sinal de que alguma coisa corre muito mal neste mundo a que pertencemos. E no meio do conflito a nossa União Europeia. Não vou analisar aqui de que lado estará a razão até porque me faltaria o engenho e a arte, e além disso salta à vista que estamos perante um jogo de poder.
A 16 de Novembro de 1940, os nazis erigiam um muro cortando o acesso ao gueto de Varsóvia e segregando os judeus que ali foram metidos. Quererei com isso dizer que a Polónia deveria franquear, tout court, as portas do seu território às pessoas que se encontram na sua fronteira? Claro que não, porque os tempos são outros, as motivações outras e os meandros do poder também outros.
Isto é só para não esquecermos a História. Talvez se lhe prestarmos mais atenção consigamos fazer uma leitura melhor do que se passa no nosso tempo. E tomarmos as decisões devidas. E aplicarmos soluções que gostamos muito de propalar mas que chegado o momento ninguém apresenta.
Haverá negociações em cima da mesa, certamente, mas despachem-se.
As pessoas ali em evidente sofrimento, Senhores, até quando aguentarão essa morosidade e jogo de interesses?
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Queira ler, aqui,
matéria de interesse.
2ª imagem daquiLeia no Xaile alguns
apontamentos sobre o
Mediterrâneo e os
migrantes/refugiados.