como rompendo um demorado açude
na tua voz quis hausto que transmude
todo o cristal dos ímpetos consigo
Neste meu choro enevoado abrigo
pôs-me a palavra o peito em alaúde
que uma doce pergunta tua ajude
no sim furtivo que eu levei comigo
Mas a meu lábio lento em confessar-se
um mestre inda melhor o cunharia
A mão que a seu amigo hesita em dar-se
ele a tomou o que mais firme a guia
para que ao coração secreto amando
ao mundo todo em rimas o vá dando.
Walter Benjamin,
in "Sonetos"
=====
Marinha Portuguesa resgatou este mês mais de 100 migrantes no Mediterrâneo
Na madrugada de domingo, 22 de abril, a fragata da Marinha Portuguesa ‘D. Francisco de Almeida’, resgatou no mediterrâneo central uma embarcação com 79 migrantes tunisinos que tentavam alcançar a ilha Sicília, Itália.Os mesmos militares portugueses já haviam salvado na passada terça-feira, 17 de abril, 49 migrantes líbios junto à ilha de Lampedusa, informa a Marinha Portuguesa num comunicado.
“A embarcação, que se encontrava sobrelotada, afundou-se pouco tempo depois de todos os migrantes terem sido retirados para a fragata portuguesa”, lê-se no comunicado.
Os migrantes eram todos do sexo masculino, entre os quais 15 menores, e foram entregues às autoridades italianas no porto de Pozallo. Mais
Espanto-me. Ainda há migrantes no Mediterrâneo, em barquinhos sobrelotados arriscando a vida? É notícia que já não abre telejornais nem preenche primeiras páginas de jornais. Com efeito, do fluxo migratório dos martirizados do norte de África já não se fala, nem da tragédia latente no Mediterrâneo.
Parece estar já esquecida a procissão dos sobreviventes pelos gelados campos de concentração ou acolhimento. E a Itália com o ónus de uma situação cuja responsabilidade caberia à União Europeia. Mas, talvez haja aí um acordo entre as partes (?). Não sei, quem sabe se não é ignorância minha e está tudo resolvido.
Parece estar já esquecida a procissão dos sobreviventes pelos gelados campos de concentração ou acolhimento. E a Itália com o ónus de uma situação cuja responsabilidade caberia à União Europeia. Mas, talvez haja aí um acordo entre as partes (?). Não sei, quem sabe se não é ignorância minha e está tudo resolvido.
De louvar a acção da Marinha Portuguesa. Depreendo que esteja inserida numa política europeia, concertada entre todos, não? Mas, de qualquer maneira, sabe bem ver essa mão que se estende aos desamparados da sorte.
=====
Poema: Citador
Tradução: Vasco Graça Moura
Imagem: daqui