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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Il faut cultiver notre jardin

Há cinco anos arranquei da boca de Candide, logo, do seu contexto, esta expressão, Il faut cultiver notre jardim, para me servir de lema, com o sentido de que o nosso jardim é o vasto mundo mas também o nosso pequeno-grande mundo, a nossa aldeia, o nosso bairro, a nossa rua, a nossa casa, aqueles que nos rodeiam.



Sem me preocupar com as polémicas filosóficas que tal expressão implica, no que ao tempo de Voltaire diz respeito, inseri a citação neste blog para me orientar num caminho escolhido logo de início: o de cuidarmos uns dos outros. Não sei se terei alcançado tal objectivo. Devo dizer que senti sempre o vosso apoio, chegando-me aqui, ao longo do tempo, as vossas palavras calorosas e a vossa amizade, com uma constância benfazeja.

Houve muitos e bons momentos de franca camaradagem em que as palavras se soltaram loucas e, também, com algumas gralhas da minha parte, em "Poesia louca", um fim-de-semana mesmo de loucos, em que procurei corresponder às vossas talentosas provocações, quando responderam gostosamente ao meu apelo brincalhão. 




Da mesma forma, foi um belo corrupio, um escorrer de leite e de mel aqui pelas franjas do Xaile quando pedi contributos da vossa produção literária ou de autores de que gostassem para assinalar o primeiro aniversário. E eu, numa maratona em que quase ficava sem fôlego, publiquei tudo, tudinho. 

Mas houve outras maratonas com publicações megalómanas como as quinzenas de amor e de afectos, ciclos dedicados a alguns autores, O ano do Brasil em Portugal e outras, e ainda instantes com algumas reflexões minhas. Foram, deveras, ocasiões deliciosas aquelas com que marcaram a vossa presença neste espaço, enriquecendo-o com as vossas prestações.

Para assinalar este fim de ciclo, transcrevo o meu primeiro post, datado de 22 de Janeiro 2011:


DESASSOSSEGO

Inquietude é o que eu sinto quando a palavra desassossego me vem ao espírito. Também me atrai. Dá-me vontade de fazer coisas, saltar do sofá, ir à janela e espreitar o mundo, decidir coisas, isso, tomar decisões, fazer escolhas… O tempo é de decisões, qual delas a mais difícil. Por isso mesmo já decidi. Está na hora de ler “O Livro do Desassossego” e não confiar apenas em citações e passagens fora de contexto. Ver in loco o que Bernardo Soares teria querido dizer com:
 “Ah! Como eu desejaria lançar ao menos numa alma alguma coisa de veneno, de desassossego e de inquietação. Isso consolar-me-ia um pouco da nulidade de acção em que vivo. Perverter seria o fim da minha vida. Mas vibra alguma alma com as minhas palavras? Ouve-as alguém que não sou só eu?” 




Os meus agradecimentos por tudo o que aprendi convosco.

E aproveito para vos comunicar que, por motivos de força maior, vou dobrar o XailedeSeda por algum tempo. Entretanto, estarei atenta aos vossos blogs.


Um grande, grande abraço.


Olinda




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1ª imagem - aqui
2ª imagem - aqui
3ª imagem - aqui
  

domingo, 15 de novembro de 2015

Onde se situará a cura para o fanatismo?

O fanatismo é para a superstição o que o delírio é para a febre, o que é a raiva para a cólera. Aquele que tem êxtases, visões, que considera os sonhos como realidades e as imaginações como profecias é um entusiasta; aquele que alimenta a sua loucura com a morte é um fanático.

Pequeno excerto de um grande texto de Voltaire, onde ele prevê e aconselha a cura para essa doença detestável através da assumpção do espírito filosófico, devidamente difundido, para adoçar a índole dos homens. Ele refere que as leis e a religião não não suficientes para a cura dessas almas doentes, aliás, a religião longe de ser para eles um alimento salutar, transforma-se em veneno nos cérebros infeccionados.

Ele recorda  o fanatismo dos burgueses da noite de São Bartolomeu e o massacre ocorrido, bem como o fanatismo de juízes que condenam à morte aqueles cujo único crime é não pensar como eles, de convulsionários que, falando dos milagres de S. Páris, sem querer se acaloravam cada vez mais; os seus olhos encarniçavam-se, os seus membros tremiam, o furor desfigurava os seus rostos e teriam morto quem quer que os houvesse contrariado.

São os velhacos que conduzem os fanáticos -diz elee que lhes põem o punhal nas mãos. Assemelham-se a esse Velho da Montanha que fazia - segundo se diz - imbecis gozarem as alegrias do paraíso e que lhes prometia uma eternidade desses prazeres que lhes havia feito provar com a condição de assassinarem todos aqueles que ele lhes apontasse.

E ele coloca esta questão fulcral:Que responder a um homem que vos diz que prefere obedecer a Deus a obedecer aos homens e que, consequentemente, está certo de merecer o céu se vos degolar?

E assim estamos nós como na noite dos tempos, como se nascêssemos agora, não com aquela pureza própria da infância, mas velhos por dentro sem nada termos aprendido sem nada para dar. Andamos às arrecuas, vazios, estupefactos, interrogando-nos sobre o porquê das coisas. Nós que já pensávamos ter chegado a um estádio tal de evolução que não era preciso mais nada, teremos agora de rever tudo e voltar ao princípio de tudo.




Talvez assim a minha Paris, a minha bela cidade, se revigore depois desta tragédia. Talvez assim nos reencontraremos num domingo de manhã numa esplanada a conversar, sem medos, gozando este sol outonal vindo dos céus. Meu Deus, o que será preciso fazer para que se instale a paz nos nossos corações? Será o espírito filosófico, no sentido de nos interrogarmos de modo a encontrarmos respostas para os nossos males, o suficiente? 

Uma coisa é certa: há que não baralhar situações. Há os fanáticos que atacam e matam indiscriminadamente e há aqueles que precisam do nosso apoio e da nossa solidariedade. Estou a falar dos refugiados, como é natural. Se conseguirmos distinguir isso, nesta confusão de sentimentos que nos assola, então poderemos dormir descansados, na certeza de que, afinal, esses séculos vividos sempre serviram para alguma coisa. 

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Ler o texto em itálico, na íntegra, aqui 

domingo, 1 de novembro de 2015

Poème sur le désastre de Lisbonne - Voltaire. - E "Se a terra tremer amanhã (hoje, 06/11) às 11.06... Sabe o que fazer?"

O malheureux mortels ! ô terre déplorable !
O de tous les mortels assemblage effroyable !
D’inutiles douleurs, éternel entretien !
Philosophes trompés qui criez : « Tout est bien » ;
Accourez, contemplez ces ruines affreuses,
Ces débris, ces lambeaux, ces cendres malheureuses,
Ces femmes, ces enfants l’un sur l’autre entassés,
Sous ces marbres rompus ces membres dispersés ;
Cent mille infortunés que la terre dévore,
Qui, sanglants, déchirés, et palpitants encore,
Enterrés sous leurs toits, terminent sans secours
Dans l’horreur des tourments leurs lamentables jours !
Aux cris demi-formés de leurs voix expirantes,
Au spectacle effrayant de leurs cendres fumantes,
Direz-vous : « C’est l’effet des éternelles lois
Qui d’un Dieu libre et bon nécessitent le choix ? »
Direz-vous, en voyant cet amas de victimes :
« Dieu s’est vengé, leur mort est le prix de leurs crimes ? »
Quel crime, quelle faute ont commis ces enfants
Sur le sein maternel écrasés et sanglants ?
Lisbonne, qui n’est plus, eut-elle plus de vices
Que Londres, que Paris, plongés dans les délices :
Lisbonne est abîmée, et l’on danse a Paris.
Tranquilles spectateurs, intrépides esprits,
De vos frères mourants contemplant les naufrages,
Vous recherchez en paix les causes des orages :
Mais du sort ennemi quand vous sentez les coups,
Devenus plus humains, vous pleurez comme nous.


Excerto do poema de Voltaire, escrito em 1756, sobre o terramoto de 1755, ocorrido em Lisboa no dia 1º de Novembro. Poderá lê-lo na íntegra, aqui.
Voltarei com este tema, em breve.

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Bem. Nos últimos dias estive sem Internet. E quando às 9h00 de hoje, 06/11, pensei que tinha vindo de vez, falhou-me de novo. Então o que eu tinha escrito para complementar este post desapareceu, ficando apenas o título que acrescentei ao que já existia. Neste momento são 10h55.

Se a terra tremer amanhã (que é hoje) às 11.06... Sabe o que fazer?, é um título de ontem do Diário de Notícias, online. E antes que isto me desapareça de novo, vá até lá. O tempo urge. Voltarei. Como vêem, este post está a ser feito aos solavancos...




06/11 - 18h45

Quem tiver lá ido terá verificado que se tratava de um exercício promovido pela Protecção Civil. Às 11.06, era preciso fazer os três gestos recomendados: baixar-se, proteger a cabeça procurando abrigar-se e aguardar até que a terra deixasse de tremer.

Por agora fico por aqui, mas tenho mais algumas palavras a dizer sobre o tema deste nosso post, consubstanciado no poema de Voltaire. Talvez mais logo ou amanhã.

07/11

Depois de cerca de uma semana de testes e mais testes telefónicos, da vinda de dois técnicos cá a casa, da substituição de cabos e modem, parece que é desta.
Pois bem, acreditando nisso, vou finalizar este post e partir para outra.

Ainda me lembro de que falava de Voltaire, François Marie Arouet, e do seu famoso poema sobre o terramoto de 1755. Acrescentei, em dado momento,(coisa que desapareceu) que esse tremor de terra abalara o mundo, matara muita gente e  intensificara as superstições, isto é, de que era castigo de Deus. Por outro lado levara a fina nata da intelectualidade da época, os filósofos, a discorrer sobre as contingências da vida e aí temos o nosso Voltaire a clamar contra os defensores de "Tout est bien". Sobre isto falaremos mais tarde. Aliás, este grande senhor vai ser uma quase constante, aqui no Xaile, de agora até Janeiro. Adivinhem lá porquê!

Entretanto, desejo a todos um excelente fim de semana.

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Imagem de aqui