segunda-feira, 16 de junho de 2025

Aminimigos?





Ouvi há dias, na TV, não sei em que canal e em que contexto, este termo: aminimigo. Talvez em algum comentário, mas no momento não pude prestar atenção. Contudo, percebi que se tratava de amigo e inimigo aglutinados e lembrei-me de George Orwell no seu 1984, em que aborda a destruição das palavras na óptica de Winston (personagem renitente, mas que acaba por soçobrar) e de outro interveniente, Syme, que trabalha no ministério dedicado a essa função e que parecia ser a política vigente. 

Segundo a ideologia do Grande Irmão ou Big Brother a ideia era simplificar, criando uma novilíngua, com palavras que seriam perfeitamente compreensíveis sem se ter de acrescentar mais nada. Enquanto que uma palavra pode ter diversos significados na velhílíngua, nessa nova visão, crimepensar, duplopensar, imbom, e muitas outras seriam suficientes sem necessidade de haver sinónimos e antónimos. Assim sendo, um Dicionário estava a ser elaborado e até 2050 não haveria qualquer palavra obsoleta.

Sabemos que o termo aminimigo não foi criado agora. Aparece na imprensa em 1953 e parece querer descrever relações pessoais, geopolíticas e comerciais tanto entre indivíduos quanto entre grupos ou instituições. Este termo também descreve uma amizade competitiva.

Portanto, preparemo-nos. Temos abreviaturas, mas isso já vem desde a Idade Média. Engolem-se palavras, sendo eliminadas tanto da escrita como oralmente... Lêem-se textos com siglas e acrónimos de instituições que muitas vezes não conseguimos identificar. Temos a IA que pensa por nós, produz textos, activa conexões, cria imagens de acordo com as nossas instruções. Temos vozes que vêm do além e que contam as suas vidas...  robots que poderão fazer os trabalhos mais pesados ou porque a tecnologia tem de avançar e sempre é mais cómodo...

Enfim, os pobres continuarão pobres, a guerra e a fome continuarão a fazer estragos. A falta de compaixão e as intrigas permanecerão.

Eu sei. 
Pareço o Velho do Restelo.


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Aminimigo

Imagem: pixabay

18 comentários:

  1. Tienes toda la razón. Te mando un beso.

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  2. Há relações tóxicas em todos os contextos.
    Não serão as palavras que irão mudar o mundo, mas as acções que tardam em chegar.

    Abraço

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  3. Boa abordagem com 1984 em referência. Há sempre uma preocupação provocação sobre as palavras que se atrelam a uma aversão a outras línguas.Assim que tivemos um Policarpo Quaresma de Lima Barreto defendendo uma língua Tupi Guarani. Mas as palavras se encolhem diante a ganância e a eterna exploração do mais forte. Um belo texto para reflexões Olinda.
    Um terno abraço e feliz semana com paz e harmonia.

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  4. Uma palavra que no mínimo estranheza causa!
    E temos que estar prontos pra tudo!!!Cada uma ! beijos, linda semana! chica

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  5. A falta de compaixão e as intrigas permanecerão.
    Acabei de fazer um post onde fui desaguar à importância de combater estes males que estão a crescer na sociedade e cujo nível de perigosidade continua a ser constantemente ignorado pela sociedade e pelas leis.

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  6. Não pareces, não, Olinda ! Eu às vezes fico pasmada com termos que ouço é não consigo perceber. O tal do expectável ( temos sempre de ir atrás do inglês, uma língua tão pobre )... O fazivel , o nadismo etc, etc. Concordo que a língua seja viva, mas não exageremos. Se te consideras o " o velho do Restelo" .então cá está mais um. Ainda teria mais algumas palavras que me surpreendem, mas, agora não me lembro. Beijinhos, Amiga e uma boa semana, com saúde para todos vós
    Emília 🌻 🌻

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  7. Lembrei de outra " aberração ". Os achismos, já para não falar da tal cabala tão na moda e eu sem saber o que significa realmente. Será que consta do dicionário? Beijinhos
    Emilia

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  8. Estaremos a ficar obsoletos...?
    Tudo contribui para a mudança, nossa e do mundo em geral, para melhor e para pior.
    As gerações futuras vão ter grandes dores de cabeça. Porque as mudanças estão a ser vertiginosas.
    Mas a maior dor de cabeça será o aumento da população. Chegará a uma altura em que os recursos serão insuficientes. E os pobres serão os primeiros a morrer para equilibrar o sistema...
    Magnífico post, gostei de ler e pensar acerca do assunto.
    Boa semana.
    Um abraço.

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  9. Nunca mais esqueci o "1984" de George Orwell. Realmente a invenção de uma nova língua dava jeito àquela ditadura. Espero que a IA não se ponha a inventar palavras sem sentido.
    Não gosto de tudo o que se está a passar.
    Uma boa semana, minha Amiga Olinda.
    Um beijo.

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  10. Nunca tinha ouvido falar dessa expressão. Gostei de conhecê-la.

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!

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    Até mais, Emerson Garcia

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  11. Excelente crônica, Olinda!
    1984 parece profético!
    E não é que se estão a criar novas palavras não "preconceituosas"? Aqui no Brasil começou uma imposição por alguns da palavra "todes" em substituição a "todos" que significam, evidentemente, todos: homens, mulheres, crianças, etc. Mas os militantes das nova língua, dizem que "todos" não é "inclusivo"...ora, pelo contrário, nada mais inclusivo que o "todos"....rs
    Mas parece que a onda não pegou - graças aos deuses da gramática!

    Quanto ao termo "aminimigo" , curiosamente, reflete bem como é o convívio entre países que sempre defendem seu próprios interesses.

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  12. Querida amiga Olinda, ainda bem que nós duas não somos e nunca fomos aminimigas. Ufa! Estou longe de gente assim, graças a Deus!
    Temos desafios inúmeros, por ora, conseguimos acompanhar tudo... netos ajudam no processo, duas gerações adiante da nossa...
    Vamos esperar os bisnetos... se pudermos conhecer ainda.
    A situação que aborda dos pobres é real e até os mais favorecidos ( classe média) corremos riscos pelo aumento da população e idosos...
    Já se fala em panes de muita coisa. A linguagem seria a menor pane mundial.
    Nunca tinha lido nos blogs tal tema, excelente!
    Vamos em frente, Amiga!
    Xo, aminimigos!
    Tenha uma semana abençoada e feliz!
    Beijinhos fraternos de paz e bem



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  13. Boa tarde. Desconhecia esta palavra, grata pela partilha nos ampliano com suas informações. Mudanças atuais velozes e assustadoras me faze ficar preocupada com a futura geração. Apreciaria um investimento mais voltado para igualdade e justiço social. Enfim, aqui estamos e vamos nos posicionando. Bjsss Norma

    Participando das propostas das amigas Chica e Rosélia desta semana,;
    https://pensandoemfamilia.com.br/blogagem-coletiva/dois-em-um-4/

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    Respostas
    1. Olá, Norma
      Não consegui entrar no seu blogue.
      Hoje já tentei por duas vezes.
      Recebi a sua mensagem sobre a resolução
      do problema. Aguardemos.
      Beijinhos
      Olinda

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  14. A falta de compaixão é muito triste. Infelizmente os pobres continuarão ser pobres, Olinda boa semana bjs.

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  15. A sua conclusão é brilhante e estou de acordo com ela.
    Um abraço.

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  16. Qué hermoso homenaje a la amistad, tan esencial en nuestras vidas. Es un recordatorio dulce de la importancia de cultivar esos lazos que nos sostienen y alegran el día a día.

    Con cariño,
    Daniela Silva
    💜 https://alma-leveblog.blogspot.com
    Te invito a visitar mi blog.

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  17. Amiga Olinda, um bom dia! Sabia, ave alguma cantou para mim hoje. As aves se afastaram da minha janela, me deixaram dormir até mais tarde. E agora, então, vim deliciar-me com a sua crônica, com o seu texto, sempre bem escrito, a desafiar-me a pensar. Como é difícil pensar logo depois que me acordo. O pretexto é a palavra aminimigo e os rumos da sociedade, as transformações que experimentamos, que nos lembram a Revolução Industrial, usando como pano de fundo 1984, de George Orwell. O que fazer? A verdade é que há pontes por onde não se passa. Atravessá-las exige esforço, resiliência, energia. E assim caminha a humanidade esquecida dos pobres, deixando que Benjamin Netanyahu faça o que tem feito em nome da paz segundo seus princípios.
    Beijinhos, admirada velhinha do Restelo!

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