1
Ter à sua porta
o mar:
exportá-lo
2
Diz o vento
ao mar: sem mim,
não podes voar.
3
Velozes, as ondas
procuram a praia: regressam
a casa?
4
Os barcos
na areia: pássaros
em repouso.
5
Na crista das ondas
fazem ninho
as gaivotas.
6
Diz o vento
ao mar: sem mim,
não podes voar.
7
Ao luar, uma vela
é também
uma estrela.
8
Peixes: os sobreviventes
dos antigos
naufrágios.
9
Por que é que os peixes
dormem
de olhos abertos?
10
Algas: os cabelos
das rainhas do mar
destronadas.
11
Disse a terra
ao mar: cala-te,
quero dormir!
12
Faz do mar
a tua casa,
mas tira-lhe o sal e a espuma.
13
Há um navio
afundado
com todo o passado à proa.
Albano Martins
in:
DE FRENTE PARA O MAR, pgs. 12 a 23, Colectânea integrada por dez poetas portugueses e organizada por David Rodrigues que, no prefácio, nos diz, entre outras coisas:
A poesia haiku com a sua postura não didáctica, centrada no momento e no presente, frugal na expressão e ligada à Natureza constitui uma afirmação de valores que vão contra-corrente dos valores hodiernos da comunicação pessoal e social e da vida quotidiana das sociedades industrializadas. Assim, escrever haiku não é linearmente equivalente a escrever qualquer outro tipo de poesia: pressupõe - como dizia um dos seus maiores cultores, Matsuo Bashô - a procura de um conjunto de valores, uma via de transformação pessoal que aproxima o caminhante de uma visão do mundo da qual emerge a atitude e a escrita haiku. Um caminho pessoal de despojamento e de procura do essencial. (...)
NOTA: No citado livro os poemas não vêm numerados. Cada poema ocupa uma página.
Imagem: net
Bonjour et MERCI Olinda !
ResponderEliminarC'est SUPERBE !
Bises et bonne journée !!!