Essa é a luz do espírito, fria e planetária.
As árvores do espírito são negras. A luz é azul.
As ervas descarregam o seu pesar a meus pés como se eu fosse Deus,
picando-me os tornozelos e sussurrando a sua humildade.
Destiladas e fumegantes neblinas povoam este lugar
que uma fila de lápides separa da minha casa.
Só não vejo para onde ir.
A lua não é uma saída. É um rosto de pleno direito,
branco como o nó dos nossos dedos e terrivelmente perturbado.
Arrasta o mar atrás de si como um negro crime; está mudo
com os lábios em O devido a um total desespero. Vivo aqui.
Por duas vezes, ao domingo, os sinos perturbam o céu:
oito línguas, enormes confirmando a Ressurreição.
Por fim, fazem ecoar os seus nomes solenemente.
O teixo aponta para o alto. Tem uma forma gótica.
Os olhos seguem-no e encontram a lua.
A lua é minha mãe. Não é tão doce como Maria.
As suas vestes azuis soltam pequenos morcegos e mochos.
Como gostaria de acreditar na ternura...
O rosto da efígie, suavizado pelas velas,
É, em particular, para mim que desvia os olhos ternos.
Caí de muito longe. As nuvens florescem,
azuis e místicas sobre o rosto das estrelas.
No interior da igreja, os santos serão azuis,
pairando com os seus pés frágeis sobre os bancos frios,
as mãos e os rostos rígidos de santidade.
A lua nada disto vê. É calva e selvagem.
E a mensagem do teixo é negra: negra e silenciosa.
Sylvia Plath
(1932-1963)
Pela Água
(tradução de Maria de Lurdes Guimarães)
In: Poemário- Assírio e Alvim 2012
Imagem: daqui
Não conhecia esta poetisa. Obrigada pela partilha.
ResponderEliminarUm abraço
Querida Olinda,
ResponderEliminaraqui está um Poeta maior!
Beijinho
O poema é bom e eu não conhecia dada dessa poetisa.
ResponderEliminarBeijinhos!
Em suas garimpadas literárias você acerta em todas. Impressiona pelos fortes laços poéticos que as encontram.
ResponderEliminarMuito bom mesmo.
Gosto disso!
Já de volta do recesso carnavalesco.
Abraço
OI OLINDA!
ResponderEliminarUM TEXTO COMPLEXO, MAS, DE MUITA BELEZA.
BOA ESCOLHA.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Na cegueira da lua calva e selvagem
ResponderEliminarque reflete uma luz que não é sua.
E na pretensão do teixo que cresce
para a lua alcançar de forma sombria
mas também silenciosa...
surge o Homem, cego e ganancioso
que faz com que a noite tenebrosa
ofusque a beleza do dia...
Bjo*
Você nos traz poetas de linguagem rica, que nos fazem ler e reler para captar o sentimento que inspirou a escrita. Isso é muito importante. Bjs.
ResponderEliminarA lua sempre inspirando poetas/poetisas.Gostei muito.
ResponderEliminarDesejo que esteja bem.
Bom fim de semana.
Bj.
Irene Alves
Olinda, minha querida
ResponderEliminarA minha visitinha hoje é forçosamente rápida, porque estou a utilizar um portátil (não estou em casa), e isto não me dá jeito nenhum -:)
A tua escolha da poetisa Sylvia Plath foi, como já é norma desta casa... muito feliz.
Deixou-nos uma obra muito boa (não sei se leste o livro dela, que é também muito interessante).
Um FELIZ DIA DA MULHER, minha querida, e bom fim de semana.
Beijinhos