sexta-feira, 8 de abril de 2016

Marroio - encontrareis esta plantinha sobretudo em zonas ensolaradas

Do livro das mulheres de Hélène Jans
Marroio (Marrubium vulgare)

"Interrompo aqui as receitas, por muito boas que me pareçam, porque às vezes na vida é necessário parar-se e pôr as ideias em ordem antes de continuar a viver. E acabo de me lembrar do enorme valor do marroio, uma planta mágica que cresce nas matas e dá umas pequenas flores brancas. São muitos os seus poderes porque é capaz de ser algo diferente do que parece e, como muitas pessoas não são capazes de se controlar perante uma situação de que muito esperam, a mata de marroio engana-nos com o seu humilde aspecto de planta agreste e selvagem, pouco habitual num jardim monumental, para depois nos surpreender ao libertar um forte aroma a maçã. Porque na Natureza, como na vida, nada é o que parece, e nem as flores do marroio são maçãs nem há pomares de maçãs que cheirem tão forte e intensamente como o marroio. Encontrareis esta plantinha sobretudo em zonas ensolaradas, e por isso creio que estimula os apetites e melhora os processos digestivos quando é tomada em infusão, que preparareis fazendo ferver uma chávena de água e acrescentando duas colheres de flores bem moídas. Melhorará a dor de estômago, limpará o fígado e aliviará os rins. Eu uso-a também como contacto, aplicando-a como droga para as feridas, porque entontece a pele e adormece as dores, tornando menos penosos certos dias das mulheres. Para muitas, que não só sangram pelo útero, como pela alma, ferida de cura difícil, esta droga costuma ser tão mágica como o seu aroma promete, porque maçã e mulher combinam bem e por vezes têm tecido grandes remédios contra o aborrecimento." Pg.47



Este excerto é o capítulo 16 de um livro que estou a ler intitulado, Erva-do-diabo, de Teresa Moure, que se refere a si mesma assim:
Gosto de livros, dos filmes de Humphrey Bogart, de beijos, de rir, da revolução, da poesia, do jazz, dos armários bem arrumados, dos quadros de Magritte, de morangos e da utopia. Mas do que mais gosto, é de virar o mundo de pernas para o ar. Para que os tópicos não criem raízes e nem eu mesma acredite que é verdade tudo o que digo.
Lê-se na contra-capa que Erva-do-diabo toma como pretexto a figura de Descartes, em que três mulheres são testemunhas privilegiadas das andanças do grande filósofo: a rainha Cristina da Suécia que o hospedou no seu castelo poucos meses antes de morrer, a sua amante holandesa Hélène Jans e Inês Andrade uma estudante actual empenhada em revelar o perfil mais íntimo de Descartes, um homem que não soube amar  e viveu nesse triste vazio cavado pela paixão mal vivida.

Bem. O que posso dizer do livro? Neste momento estou precisamente na página 47 ( já lá vão alguns dias desde que comecei a lê-lo) e sei que a história ainda não me agarrou, ou seja, a maneira de escrever da autora. Ela tem falado da rainha Cristina ao mesmo tempo que intercala esses capítulos com excertos do tal livro de Hélène Jans. Não sei se já vos disse que gosto muito de romances históricos em que os autores misturam factos reais com ficção, produzindo diálogos que quase nos fazem entrar na vida das personagens. Com Teresa Moure isso ainda não me aconteceu. Mas tenhamos paciência...

Segundo Manuel Rivas: "Erva-do-diabo é um sortilégio, uma obra do desejo, um feitiço revolucionário que redime o leitor e a literatura."

A ver vamos. 

Para já, uma infusão ou cataplasma de marroio haveria de me aliviar ou entorpecer as fortes dores da luxação que fiz num joelho .

Nota: Não sei ainda o que será "erva-do-diabo" no contexto do livro.

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Veja aqui as propriedades e as contra-indicações do marroio. 

Primavera da Poesia - Recitais de poesia e música lusófona

Regressaram à Biblioteca Municipal D. Dinis, em Odivelas, a 2 de abril, os recitais de poesia e música lusófona. Esta sessão, dedicada a Angola, contou com a participação dos artistas Aminata Goubel, Ana Paula Tavares, Betinho Feijó e Lopito Feijó, neste que foi o segundo encontro da iniciativa «Primavera da Poesia».
Até ao dia 7 de maio, todos os sábados às 17h, a Biblioteca Municipal D. Dinis continuará a ser palco destes recitais, sempre pela voz de escritores, poetas, músicos e atores lusófonos.

Os próximos encontros vão contar com a presença de artistas de Moçambique (9 de abril), Cabo Verde (16 de abril), São Tomé e Príncipe (23 de abril), Guiné Bissau (30 de abril) e Brasil (7 de maio). É o que se lê aqui 

Pela minha parte trago-vos este poema de Ana Paula Tavares, poeta que já tivemos a honra e o prazer de ler aqui, em outro momento:

Canto de nascimento

Aceso está o fogo
prontas as mãos

o dia parou a sua lenta marcha
de mergulhar na noite.

As mãos criam na água
uma pele nova

panos brancos
uma panela a ferver
mais a faca de cortar

Uma dor fina
a marcar os intervalos de tempo
vinte cabaças deleite
que o vento trabalha manteiga

a lua pousada na pedra de afiar

Uma mulher oferece à noite
o silêncio aberto
de um grito
sem som nem gesto
apenas o silêncio aberto assim ao grito
solto ao intervalo das lágrimas

As velhas desfiam uma lenta memória
que acende a noite de palavras
depois aquecem as mãos de semear fogueiras

Uma mulher arde
no fogo de uma dor fria
igual a todas as dores
maior que todas as dores.

Esta mulher arde
no meio da noite perdida
colhendo o rio
enquanto as crianças dormem
seus pequenos sonhos de leite

Ana Paula Tavares
(O lago da lua 1999)

Desejo a todos um bom fim de semana.

Abraço

Poema retirado de: aqui