sexta-feira, 29 de março de 2013

...mas Cristo é o deus do amor. Eu vejo Deus em cada pedra, em cada flor, em cada animal...


Assim falava Ruy de Carvalho num ano dos anos 60, salvo erro, quando a rádio ainda era um must e quem tivesse um aparelho de rádio era um privilegiado. Transmitia-se então a Vida de São Francisco de Assis, um jovem estranho, que viveu entre 1182 e 1226. Aparentemente da noite para o dia, este jovem despoja-se de tudo, escandalizando os pais, em especial o pai, os familiares, os amigos. Destes, alguns acabariam por segui-lo. A sociedade fica em choque, como é comum dizer-se agora. E o jovem Francisco segue impávido o seu destino, devotando-se a Deus de corpo e alma. Surge agora no firmamento um outro Francisco, de sorriso gaiato, cheio de simplicidade. Ora, este Francisco de que tanto se tem falado, fala ele próprio dos pobres, da pobreza, de como a igreja deve ser uma igreja dos pobres e, mais importante ainda, refere a importância da fratellanza. Sim, porque a fraternidade não é coisa que nasça por geração espontânea. É algo que tem de ser construído com a contribuição de todos para dar frutos. No Papa Francisco já é visível o despojamento de algumas insígnias, de alguns símbolos, de alguns privilégios, de alguns ritos e rituais considerados prestigiantes para a sua condição de mais alta autoridade eclesiástica. Mas, até onde poderá ele ir? A postura deste Papa faz-me lembrar, em certa medida, 'As sandálias do pescador', um livro de Morris West, vertido em filme, no qual o autor desenrola os fios intrincados do conclave onde é eleito papa um bispo da Ucrânia, Kiril Lakota. Entre várias iniciativas, ele subverte todo o protocolo, e começa a pensar seriamente em distribuir pelos pobres a riqueza da igreja. Será que na trama isto chega a acontecer? Já não me recordo... O certo é que os fundamentos da Igreja como instituição enraízam-se num tempo longo, demasiado longo, durante o qual foi acumulando dogmas, princípios, lógicas, coroando e descoroando reis e imperadores, assumindo convictamente o lado material da vida, com todas as suas consequências. Reverter a situação, recuando aos primeiros tempos, aos primeiros cristãos, mas tendo em conta as exigências da actualidade, não seria tarefa para a próxima década. Aliás, afigura-se conveniente que não se empurre para as suas costas toda esta responsabilidade, em nome de uma esperança de renovação ou de resolução dos problemas que afectam a instituição. A renovação da Igreja seria um trabalho de todos, de eclesiásticos e sociedade civil interessada, de todo o mundo católico, quiçá de toda a pessoa de boa vontade...


Meus amigos:

Desejo-vos uma Santa Páscoa. 
O dia está chuvoso e parece que a chuva vai ser uma constante durante este fim de semana. Cuidadinho nas estradas. E, lembrem-se, 'devagar se vai ao longe'...

:)

Abraços

Olinda



Obs: Uma ressalva em relação à citação constante do título, caso não estiver totalmente correcta. Ela chegou-me das brumas do tempo...

quinta-feira, 21 de março de 2013

A Palavra Seda

A atmosfera que te envolve
atinge tais atmosferas
que transforma muitas coisas
que te concernem, ou cercam.
E como as coisas, palavras
impossíveis de poema:
exemplo, a palavra ouro,
e até este poema, seda.
É certo que tua pessoa
não faz dormir, mas desperta;
nem é sedante, palavra
derivada da de seda.
E é certo que a superfície
de tua pessoa externa,
de tua pele e de tudo
isso que em ti se tateia,
nada tem da superfície 
luxuosa, falsa, acadêmica,
de uma superfície quando
se diz que ela é “como seda”.
Mas em ti, em algum ponto,
talvez fora de ti mesma, 
talvez mesmo no ambiente
que retesas quando chegas,
há algo de muscular,
de animal, carnal, pantera,
de felino, da substância
felina, ou sua maneira,
De animal, de animalmente,
de cru, de cruel, de crueza,
que sob a palavra gasta
persiste na coisa seda.


De:

João Cabral de Melo Neto

Poeta brasileiro, João Cabral de Melo Neto nasceu em 1920, no Recife, e faleceu a 9 de outubro de 1999. Diplomata, exerceu funções consulares em Assunção, Barcelona e Dakar. Pertenceu à Academia Brasileira de Letras. É de 1942 o seu primeiro livro de versos - Pedra de Sono, em que se deteta a influência de Carlos Drummond de Andrade. Depois, integrou-se na "Geração de 45", seguindo, no entanto, o seu próprio caminho. Eliminando das suas imagens resíduos sentimentais ou pitorescos, instaura um novo critério estético - o rigor semântico, fulcro da sua radical modernidade, assim afirmando uma nova dimensão do discurso lírico através de uma poesia que parte do concreto para atingir a pureza da abstração, querendo utilizar a linguagem conscientemente em vez de ser usado por ela. O geometrismo de alguns dos seus poemas corporiza esse movimento de "regresso ao real" empreendido por este poeta da sensação aguda dos objetos que delimitam o homem e a mulher modernos. Entre outros prémios, foi-lhe atribuído o Prémio Camões em 1990.

João Cabral de Melo Neto. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011.

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Este poema foi-me indicado por Canto da Boca e retirei-o de: Aqui 

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Vide aqui uma análise da poesia de João Cabral de Melo Neto.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Uma casa com lírios e histórias. Uma cadeirinha de arruar. Um começar de novo.

Já ninguém acredita nisto... Nesta quinzena que nunca mais acaba e que no final da qual seria revelado o mistério de tanta conversa. Vai na volta e nem há mistério nenhum. Mesmo assim restar-nos-ia o prazer de estarmos há já mês e meio neste convívio.

Bem, nesta linha, falo hoje de A Casa da Mariquinhas da nossa amiga Mariazita. Esta linda Casa fez cinco anos no dia 14 de Fevereiro, último. É o lugar de estórias de encantar e de lindas histórias de vida. Uma das últimas que eu li, A ti Masdé, ensina-nos que aquilo que damos aos outros contribui para a nossa felicidade. A Mariazita tem livro publicado e penso que ela está a preparar um outro.





Há um sítio onde eu gosto de me instalar, comodamente, para ler, ler encantada e deliciada. Trata-se de: Da Cadeirinha de Arruar da nossa querida Lúcia. E o que se passa por lá? Ali já aconteceu A saga de uma Família muito especial em que todos os seus membros têm ou tiveram algo a dizer ao nível da arte, da literatura, e em outras áreas da sociedade. Trata-se da sua família, da família da Lúcia. Esta nossa amiga mostrou nesse trabalho os seus grandes dotes de pesquisadora. Presentemente, traz-nos todas as semanas notícias das cidades do Ceará, desde as suas origens à actualidade. Da Cadeirinha de Arruar fez anos há dias. Dois aninhos (não é, Lúcia?), e já com tanto trabalho feito.



Começar de Novo



Para nos situar no centro do mundo, mostrando-nos que todos os dias é tempo de recomeçar, o Começar de Novo, das queridas amigas Emília Pinto e Hermínia Lopes. É onde revisitamos o optimismo e noções como a solidariedade e o respeito uns pelos outros. Saímos de lá com o espírito revigorado, acreditando que há um mundo de pequenas-grandes coisas, coisas simples, que dão sentido à vida. Também comemorou o seu aniversário há pouco tempo, no dia 10 de Fevereiro. Quatro anos... é obra!


PARABÉNS, Mariazita, Lúcia, Emília e Hermínia!

*****

Meus amigos:

Desejo-vos um excelente início de semana.

Abraço

Olinda



sexta-feira, 8 de março de 2013

A Mulher Inspiradora


Mulher, não és só obra de Deus; 
os homens vão-te criando eternamente 
com a formosura dos seus corações, 
e os seus anseios 
vestiram de glória a tua juventude. 

Por ti o poeta vai tecendo 
a sua imaginária tela de oiro: 
o pintor dá às tuas formas, 
dia após dia, 
nova imortalidade. 

Para te adornar, para te vestir, 
para tornar-te mais preciosa, 
o mar traz as suas pérolas, 
a terra o seu oiro, 
sua flor os jardins do Verão. 

Mulher, és meio mulher, 
meio sonho. 

Rabindranath Tagore 
in "O Coração da Primavera" 
Citador


Dedico a todas as mulheres este comentário de: 


Que todas nós nos recriemos, cotidianamente, e nos adornemos de protagonismos, e sejamos senhoras das nossas belezas e destinadas à felicidade, à generosidade, ao companheirismo; e que a violência contra nós mulheres, em todos os níveis, passe a ser apenas um dado maculado na história da humanidade... Havemos muito que caminhar, mas creio!

Obrigada, amiga!
Beijos
Olinda

sábado, 2 de março de 2013

Quando anoiteceu

Sol da Esteva






Fogem, entre os dedos, do relógio lento,
Os minutos duros, duma espera vã.
Fogem, flutuando, em meu pensamento
As esperanças caras, de hoje e de amanhã.

Apenas as mágoas tomam forma certa
Por entre a tristeza que minha Alma rói.
Eu não posso ter, assim, uma Alma aberta,
Porque jamais o destino se condói.

Mais remotas, as esperanças de te ter,
Por cada salto daquele contador;
E mais aceso se torna o meu querer.

E o fim do dia, que tanto prometeu,
Tornou-se a amarga tortura, ao meu Amor.
... Regressei sozinho, quando anoiteceu.



(Blog)


*****

Sol da Esteva! Um nome, um titulo, uma expressão que me atrai. Pode chover, ventar ou trovejar, há sempre este Sol que canta o Amor aliado à sua esteva, seja ele amor realizado, esperançoso ou infeliz. E fica-nos a certeza de que realmente o amor, este belo sentimento, existe. Poeta lírico, expressa-se em sonetos, emprestando um belo cunho rítmico às suas estrofes, de rimas cruzadas.

Quando chegamos ao blog, a porta é-nos franqueada ao som de excelente música. Demoro sempre uns bons minutos apreciando-a e relembrando, talvez, tempos idos ou tempos que hão-de vir, pelas suas características de música intemporal. 

Para o Sol da Esteva e para os meus amigos leitores, esta bela canção de Ray Charles, 

I Can't Stop Loving You 





Um bom fim de semana. :)

Abraço.

Olinda

Imagem: daqui-Agradecimentos