domingo, 27 de janeiro de 2013

Sabedoria



Nos dias em que nada vale a pena,
E em que as árvores amigas
São iguais e estão vistas,
A vida é tão parada e tão serena
Que afinal já não há que contar mais,
E prevejo com olhos anormais,
As coisas imprevistas…
Nos dias em que são cinzentos os meus céus
- O de dentro e o de fora –
E é vaga esta noção de um velho Deus,
Que me não manda embora
Deste espectáculo estafado
Em que de cor sei dizer
O que me foi ensaiado
E o que todos vão fazer,
Tenho inveja dos homens convencidos
Que nem sequer sonharam
Que poderia haver paraísos perdidos,
Ainda não decifraram
Esta charada em que andam envolvidos
E pensam que, vivendo, triunfaram
Da Vida em que os que sonham são vencidos.

Francisco Bugalho

In: 'Canções  de entre Céu e Terra'. Ver :'o poeta que pintou a natureza'
Imagem:Paraíso perdido - net

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Flor Formosa

Recebi agora, por email, o endereço deste video, com a seguinte informação: Música Cabo-Verdiana tocada fora de CV. Trata-se de 'Flor Formosa', de Antoninho Travadinha.

Fui ver quem são os intérpretes: Ensemble Conductus. Gostei muito, tanto do arranjo como da interpretação. A música, na verdade, esbate fronteiras.

Ora apreciem:




E, como não podia deixar de ser, pesquisei alguns dados sobre Antoninho Travadinha, que indico abaixo. Também encontrei 'Flor Formosa', tocada pelo próprio. Um mimo! E não há dúvida, Travadinha foi um músico e intérprete de primeira água.

Infelizmente não consegui importar o video. Mas poderão ouvi-lo clicando aqui. Travadinha, lui-même.

****

De seu nome verdadeiro, António Vicente Lopes, o violinista Antoninho Travadinha foi um dos maiores músicos autodidactas de Cabo Verde, originário de Janela na Ilha de Santo Antão. Começou a tocar nos bailes populares quando tinha apenas nove anos, mas só alcançou a fama já nos seus quarenta anos, quando empreendeu, em 1981, uma tournée por Portugal. Para além do violino, Travadinha tocava também maravilhosamente bem viola (guitarra de 12 cordas), cavaquinho e violão. Travadinha interpretava géneros musicais tradicionais de Cabo Verde, tais como mornas e coladeiras.
Faleceu em 1987 no auge da popularidade.Wikipédia

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

As palavras do poeta




Damascos caídos nos íntimos peitos
do sortilégio,
ânsia irrespirável,
as palavras.

Uma escapa-se
com as abelhas.
Gravita sobre a essência insubmissa,
secreta poisa
no aquoso mistério.

As que ficam
têm remendos nas calças, bebem
vinho nostálgico
nas solitárias, mediterrânicas
tardes do verão.

Juntas, são areia fina:
escorrem entre os dedos,
troçam de mim
com três rios nos olhos.

Se as toco escondem-se
sob o luar nas dunas,

atiram-me uma rosa ferida
pela luz que se ausenta.

Poema de:
Eduardo Bettencourt Pinto
in: um dia qualquer em junho

Imagem:Internet

sábado, 12 de janeiro de 2013

A origem do termo Brasil

Retomando o fio do meu contributo, em termos de apontamentos históricos, para o Ano do Brasil em Portugal, hoje fala-se aqui de onde terá surgido a palavra Brasil, para denominar a grande terra brasileira. 

Sabemos que as primeiras terras avistadas foram chamadas de Monte Pascoal, Terra de Vera Cruz ou Ilha de Santa Maria. Posteriormente, passou a ser conhecida por Brasil e, normalmente, este termo é conotado com a existência e comercialização de uma árvore tintureira chamada pau-brasil. Aliás, a exploração desta árvore foi a primeira actividade levada a cabo pelos portugueses, até 1530.




Mas a ideia é dar voz, o mais possível, a posições e interpretações provenientes do outro lado do Atlântico, da Terra Brasilis, ou de quem, por cá, se interesse pelo assunto. Para já, apresento-vos um texto de Rainer Gonçalves Sousa, que nos dá uma perspectiva diferente da acima referida, mergulhando no tempo, onde aparecem notícias de uma terra com características místicas e/ou paradisíacas, uma terra abençoada.

A origem do termo Brasil

Qual é a origem do nome do nosso país? Essa parece ser uma pergunta muito simples, mas que suscita uma série de teorias completamente discordantes. De fato, o termo “brasil” nada tem a ver com algum termo originário da cultura indígena. Para descobrirmos a origem do termo, devemos nos recorrer a tantos escritos já produzidos na Antigüidade.

Em uma obra do pensador grego Platão, chamada “Timeu e Crítias”, há uma menção da existência de terras a oeste do Estreito de Gibraltar. Para alguns pesquisadores, este seria um forte indício sobre a descoberta do continente americano. Outras fontes cartográficas dessa época indicavam a existência de uma ilha chamada “Brazil” ou “Breasil”.


Essa ilha era localizada a oeste, em uma região intermediária entre a Irlanda e o meio do Oceano Atlântico. De acordo com alguns textos, essa ilha tinha características místicas e/ou paradisíacas. Dessa forma, podemos vislumbrar que o povo europeu já arquitetava a busca por algum tipo de terra onde as dificuldades seriam inexistentes. Por isso, o desejo por novas terras era muito anteriores ao empreendedorismo marítimo ibérico.

Havia uma lenda irlandesa onde se falava de uma ilha conhecida como “Hy Brazil”, que possivelmente significava “terra abençoada”. O desconhecimento desse local paradisíaco era explicado por uma densa neblina que deixariam essas terras escondidas. A terra, que ficaria visível uma vez a cada sete anos, teria sido encontrada pelo monge irlandês São Brandão, por volta de 565.

Alguns filólogos apontam que o termo “brazil” vem da língua gaélica, que significaria “afortunado” ou “encantador”. Outra teoria diz que a origem vem da expressão irlandesa “Uí Breasil”, que significava os “descendentes do clã Breasal”. Uma outra pesquisa tenta vincular a palavra a um termo fenício conhecido como “barzil”. Segundo estes estudiosos, o termo referia-se a um local rico em metais.

Entre tantas explicações nota-se que o termo sempre serviu para o desígnio de algum local repleto de benesses, riqueza ou abundância. Dessa forma, percebemos que os portugueses, ao nomearem as terras brasileiras, retomavam um antigo mito que circulou no imaginário europeu séculos a fio.


Por Rainer Gonçalves Sousa
Fonte: aqui

"Terra Brasilis", 1519, mapa por Pedro Reinel e Lopo Homem, Atlas Miller, 

Biblioteca Nacional de Paris - wikipedia


Imagem: internet


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A velhice pede desculpas

Tão velho estou como árvore no inverno,
vulcão sufocado, pássaro sonolento.
Tão velho estou, de pálpebras baixas,
acostumado apenas ao som das músicas,
à forma das letras.

Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético
dos provisórios dias do mundo:
Mas há um sol eterno, eterno e brando
e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir.

Desculpai-me esta face que se fez resignada:
já não é a minha, mas a do tempo,
com seus muitos episódios.

Desculpai-me não ser bem eu:
mas um fantasma de tudo.
Recebereis em mim muitos mil anos, é certo,
com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras.

Desculpai-me viver ainda:
que os destroços, mesmo os da maior glória
são na verdade só destroços, destroços.

Cecília Meireles
In ‘Poemas 1958’ (Citador)

****


E assim vamos nós contando os dias do nosso descontentamento, enfrentando escolhos em forma de relatórios, de palavras refundadas, de atitudes titubeantes daqueles que governam os nossos destinos. E a coisa vai chegando aos poucos, gota a gota, hoje é isto, amanhã é aquilo, não se vislumbra um planeamento, uma visão global dos estragos e do que é preciso fazer para repará-los.

O que nos abala é termos a sensação de que os sacrifícios exigidos não servirão de nada, de que nunca chegaremos lá, de que nunca veremos o fundo ao tacho da tal dívida soberana. E a tónica incide sobre determinada faixa etária e determinado grupo profissional, como fontes de toda a despesa pública como se não houvessem outras despesas a suprimir. 

Que o Estado deve ser repensado, disto não há qualquer dúvida. No entanto, medidas tomadas em cima do joelho, segundo parece, sem ter em conta que elas terão um efeito em cascata, isto é, não havendo poder de compra, emprego e com a economia estagnada, tudo acabará por se desmoronar e parar completamente.

Pensemos, pensemos... Acredito que haverá por este país fora boas cabeças capazes de pensar e encontrar soluções para o bem comum.


Assim seja...


sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Mundo Escuro - Come back. Come back...

Este som é dedicado à nova emigração, a todos aqueles que saíram do seu país à procura de uma vida melhor! O sentimento é único e tão português: SAUDADE!
Todos nós nos identificamos com esta mensagem, por isso, passa a palavra e partilha este vídeo!





Mais uma intervenção dos Mundo Escuro, grupo atento ao que se passa na sociedade e que procura deixar a sua marca na interpretação das incongruências do mundo actual.


Em itálico: mensagem no Facebook
Clicar em Mundo Escuro

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O Sol é bom e eu gosto...

Hoje está um dia maravilhoso. O Sol convida-nos a passear e se não fossem os afazeres este é um dos dias mais-que-perfeitos para andar à beira-mar, pés descalços na areia molhada, brisa fresca quase gelada a bater-nos no rosto. 

Revigoramente garantido, com o mar a servir de reflexo a um céu azul, com uns leves tons de cinzento. 

E tudo isto está à nossa disposição, talvez à tarde, talvez à noite, quem sabe, alguns de nós possamos aproveitar desta riqueza que é este clima abençoado.




Também partilhá-lo com os outros, com aqueles que, praticamente, durante todo o ano vivem enfiados em nevoeiro, debaixo de chuva e ventania. 

É, na verdade, aquilo que já parece um lugar comum, uma mais-valia, um termo que toda a gente emprega por tudo e por nada mas que, neste caso, tem a sua razão de ser, penso, ainda que não fazendo jus à sua real definição.




Pois, trata-se realmente de vender, vender o que temos de melhor. E é um bem de que podemos continuar a beneficiar, uma dádiva da natureza. Que bom!


Imagens:internet

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Mais uma guinada à letra da lei?

Anda tudo ao contrário. Se se tem dúvidas, pelo sim pelo não, põe-se a roda em movimento e depois logo se vê. Se formos de encontro a um iceberg, olhe, temos pena. Pergunta-se depois o que era aquilo. Sem querer pôr em causa as decisões do homem do leme desta conjuntura, o facto é que a ordem das coisas não é esta. Lembro-me de umas certas perguntas feitas a posteriori relacionadas com uns certos subsídios e o resultado foi um ajustamento por baixo de que estamos agora a ver o resultado, um resultadão. Até temos a impressão de que saímos beneficiados. Então não? A embolsar duodécimos de cinquenta por cento de um subsídio e de cinquenta por cento de outro, que dão para pagarmos taxas de esforço e impostos e aumentos vários e ainda nos sobra dinheiro na carteira... Eu até já estou convencida disso. Para os funcionários públicos e reformados o tal esforço ainda fia mais fino.




O importante é saber fazer as coisas e convencer a plebe de que é para o seu bem. Porque o ajustamento, isto é, o programa de ajustamento ainda agora começou. Aliás, quando se trata de programas, e quando se trata de nós, o objecto dos programas, as etapas poderão ser incontáveis neste ano de 2013. O tsunami da tsu parece já longínquo. Aquele frisson, aquela paixão, puf... evaporaram. De uma coisa podemos ter a certeza: o nosso idioma sai disto tudo enriquecido, fortalecido, com palavras importadas e outras que já existem no nosso léxico e que vão tomando outros sentidos, vestindo novas roupagens, arrecadando novas qualidades. Até já há glossários, para quem quiser conferir...



imagem:distribuiçãohoje - net 

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Mandei-lhe uma carta...

mandei-lhe um cartão...
mandei-lhe um recado...
mandei fazer-lhe um feitiço...
ofertei-lhe isto e aquilo...
e... ela disse que não...
tocaram uma rumba dancei com ela...
olhei-a nos olhos...pedi-lhe um beijo...
na..ra...narara...na...ra
e ... ela disse que sim...

Ai, o Amor!


Viriato Cruz e Sérgio Godinho - Dupla perfeita.





NAMORO

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com a letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar e dando calor ao sumo das mangas.
sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
tão rijo e tão doce - como o maboque...
Seu seios laranjas - laranjas do Loge
seus dentes... - marfim...
Mandei-lhe uma carta
e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o Maninjo tipografou:
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou.
Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.
Levei à avó Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.
Esperei-a de tarde, à porta da fábrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficamos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.
Andei barbado, sujo, e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
" - Não viu...(ai, não viu...?) Não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.
E para me distrair
levaram-me ao baile do sô Januário
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso às moças mais lindas do Bairro Operário

Tocaram uma rumba dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim!"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.

Viriato Cruz

*****



A TODOS DESEJO:


UM ANO DE 2013 COM MUITO AMOR!



*****


O amigo Antônio Lídio Gomes deixou-nos este lindo poema, em comentário.
Obrigada, Caro Poeta.

Divino Afeto

Que seja bem-vindo o amor supremo
No coração mais puro dos devaneios
Amor bendito, sagrado e dos anseios
Irradiando n’alma um fervor extremo

Creio que esse doce mistério do amor
É a sublimação, e uma joia da alma
A emanação etérea, aquilo que salva
Que cura as feridas, e extingue a dor

Creio que todo amor, pueril e sereno
É o divino afeto, sacrossanto e ameno
Fecundado de Deus, desejo primordial

Emanação divina, sacrossanta, etérea
Que a alma alcança, por esta matéria
Desde o princípio substância imaterial

*****

Video e letra da canção - net