1
Frente ao mar
o meu coração adolescente
pede-me que salte
2
O mar flutua,
cintila, exalta-se e depois...
um céu deitado
3
O peso do mar
na palma da minha mão -
uma gota de água.
4
A brisa do mar
alheia-se, embriagada,
da miséria humana
5
A maré rebenta.
Abrem-se as tuas areias
e grito. Silencias
6
Lágrimas salgadas -
o mar permanece nos olhos
desde o princípio
7
As areias perdem-se
no mar: regressam à praia
cavalos de água
8
As ondas do mar
acompanham-se umas às outras -
e eu tão só
9
E tudo são conchas -
ossos musicais que podiam
ser relva ou bronze
10
Um petroleiro
No mar também habitam
animais doentes
11
Uma débil brisa
no ar. A barca no mar
quase não deixa rasto
12
Escrevo poemas, música
perfeita: terei esquecido
os ritmos do mar?
Casimiro de Brito
in:
DE FRENTE PARA O MAR, pgs. 26 a 37, Colectânea integrada por dez poetas portugueses e organizada por David Rodrigues que, no prefácio, nos diz:
Um haiku procura, o que designa no Japão 'haimi' o que poderia ser traduzido como "sabor do haiku" uma qualidade que, como afirma o poeta japonês Ban'ya Natsuishi, é um mistério que não pode ser explicado mas que pode ser compreendido. O poeta brasileiro Manoel Bandeira dizia, sobre o haiku, evocando a marca de subtileza que esta poesia tem, que se trata de "estremecimentos, murmúrios ou mastros de perfume".
NOTA: No citado livro os poemas não vêm numerados. Cada poema ocupa uma página.
É um tipo de poesia diferente. Me desculpe a ignorância, mas antes de ler a explicação eu pensava que eram pensamentos.
ResponderEliminarUm abraço