quarta-feira, 27 de junho de 2012

Tempo da travessia

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos
mesmos lugares ...

É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos...


Fernando Pessoa

ADENDA:

Consta que estas palavras que caem tão fundo em nós, atribuídas a Fernando Pessoa, pertencem a Fernando Teixeira de Andrade. Será? 

E sob esta forma:
"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia; e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." (Autor: Fernando Teixeira de Andrade - 1946-2008 - foi um professor de Literatura )

VER 

Mais uma achega: Este pensamento aparece publicado em vários blogues e sites como pertencente a Fernando Pessoa.
Meus amigos, deixo aqui este tema para debate..

Imagem:Net

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Alô, Alô, Terra

Lembram-se da canção 'Alô, Alô Marciano', interpretada por Elis Regina? Pois, agora ocorrerá ao marciano dizer-nos 'Alô, Alô, Terra', a recomendar-nos juízo. Está a decorrer a Conferência Rio-20 sobre o Desenvolvimento Sustentável onde estão ou estarão presentes 193 países. Temos os 20 grandes (entre eles os BRIC's ou países emergentes, uma nova força no mundo económico-financeiro) e os outros. O ideal para todos nós é que saia daquelas cabeças um consenso visto que somos todos parte interessada em tudo o que acontece neste planeta. Se cada um começar a puxar para o seu lado, procurando vantagens, já se sabe, o Ambiente sairá a perder.  

Ouçamos, entretanto, a grande Elis Regina:

  


Alô, Alô Marciano
Aqui quem fala é da Terra
Pra variar, estamos em guerra
Você não imagina a loucura
O ser humano está na maior fissura, porque...

Tá cada vez mais down no high society
Down, down, down no high society

Alô, Alô marciano
A crise esta virando zona
Cada um por si, todo o mundo na lona
E lá se foi a mordomia
Tem muito rei aí pedindo alforria, porque...

Tá cada vez mais down no high society
Down, down, down no high society


Alô, Alô marciano
A coisa está ficando ruça
Muita patrulha, muita bagunça
O muro começou a pixar
Tem sempre um aiatolá  pra atolar Alá

Ta cada vez mais down no high society
Down, down, down no high society

Letra: aqui 


Resultados da RIO-20


São Paulo - O documento final da Rio+20 foi aprovado hoje (22) sem alterações pelos chefes de estado e será oficialmente adotado por mais de 190 países. O texto foi finalizado na terça-feira (19) e, em tese, poderia sofrer mudanças nesta fase, o que não ocorreu.
(...)
No início da conferência, houve grande expectativa de que seria possível levantar recursos para financiar ações práticas de combate à poluição e desmatamento. Líderes de nações pobres, notadamente da África, expressaram grande descontentamento com o texto final. 
O documento traz ainda compromissos como o fortalecimento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), a criação de um Fórum Político de Alto Nível Internacional e o desenvolvimento sustentável com erradicação da pobreza, entre outros.
Para a média dos analistas, a conferência apresentou resultados muito modestos, com poucos avanços. Ambientalistas de todo o mundo criticaram o documento final, argumentando que as nações reunidas não conseguiram fechar consenso mínimo sobre políticas efetivas para preservar o meio ambiente. 


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Porquê os clássicos



1.

no quarto livro da guerra do Peloponeso
Tucídedes conta-nos entre outras coisas
a história da sua mal sucedida expedição

entre os longos discursos dos chefes
batalhas cercos pestes
uma densa rede de intrigas de diligências diplomáticas
o episódio é como uma agulha
na floresta

a colónia grega Anfípolis
caiu nas mãos de Brasidos
porque Tucídedes chegou atrasado com o socorro

devido a isso foi condenado pela sua cidade
ao exílio eterno

os exilados de todos os tempos
conhecem que preço é esse

Zbigniew Herbert
(1924-1998)

Os poemas de Herbert são por vezes meditações sobre a natureza dos homens, fazendo uso de elementos mitológicos e heróis medievais. Contudo, ele 'desmitologiza-os' tentando ultrapassar as barreiras culturais e também as barreiras do tempo. Para ele o passado não está distante nem fechado, já que ele é fundamental para compreender o presente: o passado é a medida do presente. AQUI

Poema in:
Escolhido Pelas Estrelas-antologia poética
(apresentação e versões de Jorge Sousa Braga)
Poemário 2012

sábado, 16 de junho de 2012

Pela estrada

Ora aqui vamos com a vida a brilhar 
No mar dourado da luz do momento, 
E no rosto uma frescura a adejar — 
Uma frescura de alma em movimento.

Colinas acima! Os vales galgando! 
Ora na planície mais devagar! 
Balança a carroça nas curvas, guinando, 
Na terra, em silêncio, ora a deslizar!

Mas temos de ir à cidade ou lugar, 
E nos olhos já a pena aparece. 
Pudéssemos sempre continuar 
Ao ar e ao sol que bate e aquece;

Em estrada infinita, num andar a gosto, 
Em eterno e liberto encantamento, 
Com o sol à volta, batendo no rosto — 
Uma frescura de alma em movimento!


Alexander Search
    
    (F.Pessoa)


Banco de Poesia
F.Pessoa

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Da Responsabilidade


Artigo 22.º
Responsabilidade das entidades públicas
O Estado e as demais entidades públicas são civilmente responsáveis, em forma solidária com os titulares dos seus órgãos, funcionários ou agentes, por acções ou omissões praticadas no exercício das suas funções e por causa desse exercício, de que resulte violação dos direitos, liberdades e garantias ou prejuízo para outrem.
                                                         Constituição da República Portuguesa


Claríssimo,não?Deveria bastar-nos.Deveria bastar-nos pegar na Constituição, procurar o tema que nos interessa, lê-lo e retirar dali ensinamentos como se de um guia se tratasse. Mas não, isto é coisa de leigos. Há outros caminhos a percorrer. Há a hierarquia das leis, há o legislador que legisla com base nestes ou noutros pressupostos, há a regulamentação, há a letra da lei, há o espírito da lei, e, como corolário, há a interpretação da lei que reclama para si especialistas na matéria.E este percurso poderá ter estes ou outros procedimentos e não necessariamente por esta ordem. Isso é com os experts. Para nós fica apenas o nosso espanto ou admiração e verifica-se que esta nossa capacidade é inesgotável, tornando-nos nuns filósofos a tempo inteiro. Aliás, se nos lembrarmos que o Estado somos nós, parafraseando o rei-sol, então somos todos co-responsáveis, de nada nos valendo filosofar ou fazer de conta que o que acontece à nossa volta é com os outros ou que a realidade poderá ser, afinal, mera ficção. Transportados, como temos sido, para dentro de novelas várias, versando enredos de dolos e má gestão, secretas e espiões,  dívidas e endividamentos, não há como não nos interrogarmos se não estaremos mesmo tramados.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

FF - Jovem talentoso

De vez em quando acontece. De vez em quando somos bafejados pelo aparecimento de um grande talento, ou então, pela sua revelação ao grande público. Neste caso concreto o momento abençoado foi o programa televisivo de imitações 'A tua cara não me é estranha'.

Confesso que sintonizei por acaso o canal, num domingo de poucas opções, ouvi o FF (Fernando Fernandes) e passei a aguardar ansiosamente pelo momento de voltar a ouvi-lo.Tudo imitações/interpretações fabulosas, Prince, Paulo de Carvalho, Kate Bush, Carmen Miranda, Ray Charles e outros, em que ele alia a voz, em todos os tons e gradações possíveis, à assumpção perfeita da personalidade da pessoa imitada, enfim, fica-se sem palavras. A sua última interpretação, Freddie Mercury, um medley, foi um momento inesquecível.

Mas o interessante é que este jovem é actor e já com uma carreira musical

Espero poder ouvi-lo, lui-même, em breve...

****

Nesta noite de Santo António, o FF vai desfilar ao lado de Alexandra, na qualidade de padrinhos da Marcha da Mouraria.

domingo, 10 de junho de 2012

A peregrinação de um pensamento


A peregrinação de um pensamento,
que dos males fez hábito e costume,
tanto da triste vida me consume,
quanto crece na causa do tormento.

Leva a dor de vencida ao sofrimento;
mas a alma está, de entregue, tão sem lume
que, elevada no bem que haver presume,
não faz caso do mal que está de assento.

De longe receei, se me valera,
o perigo que tanto à porta vejo,
quando não acho em mi cousa segura

Mas já conheço (oh, nunca o conhecera!)
que entendimentos presos do desejo
não têm remédio, mais que o da ventura.

Luís Vaz de Camões


Banco de Poesia
Fernando Pessoa

Meditação

A carne é flor ou consequência do seu perfume?
Seja o que for
é intensidade que a flor resume


A mão é gesto que ultrapassa. 0 gesto é além. 
Porque a mão toca o horizonte 
que o gesto da mão contém


O homem canta.
E enquanto canta o homem dura. 
Porque o seu canto é perceber 
que a voz prevalece a criatura.


Natália Correia

sexta-feira, 8 de junho de 2012

O que faz falta


Corria o ano de 2004 e o país era percorrido por um frémito de entusiasmo. Bandeiras desfraldadas nas varandas e janelas, canções apaixonadas, todos os olhos postos num desígnio comum: o Campeonato Europeu de Futebol.

O obreiro do estado de alma de que falo tinha nome: o coach. Mesmo não sendo destas bandas soubera transmitir a chama, por dever de ofício e carisma. Infelizmente os gregos provaram a sua solidez e, por sua vez, os olhos do nosso menino, estreante, encheram-se de lágrimas de revolta. Hoje, mais velho e maduro parece-me já tê-lo ouvido dizer, (sem aquela chama?)é preciso pôr bandeiras nas varandas, nas janelas, como em 2004 e... 

Em todos os tempos os povos sentiram a necessidade de um foco, de uma voz que, mesmo apontando sacrifícios, pudesse criar um ideal de missão, de desígnio nacional, de objectivo comum.

O certo é que os nossos rapazes lá foram, em demanda de um lugar ao Sol, com direito a despedida VIP e carregando nas costas os nossos anseios e a responsabilidade de nos fazerem grandes. Mas, sermos grandes, ou não, dependerá de cada um de nós. Façamos por brilhar cumprindo com o que nos compete, não esperando que sejam os outros a fazê-lo por nós.

E a propósito de grandeza, ocorre-me transcrever aqui o poema de Ricardo Reis, sobejamente conhecido de todos:

    Para ser grande, sê inteiro: nada
    Teu exagera ou exclui.
    Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
    No mínimo que fazes.
    Assim em cada lago a lua toda
    Brilha, porque alta vive.


    Ricardo Reis
    (F.Pessoa)


domingo, 3 de junho de 2012

Abraça-me

Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos. 
Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes. 
Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais. 
Uma vez que nem sei se tu existes.


Quero morrer de ti em mim, espantado de amor ...
Neste texto espantoso Joaquim Pessoa leva-nos de espanto em espanto na sua incrível forma de dizer as coisas, de falar de amor, e de envolver neste canto o vento, o sol, a pele e todos os sentidos na busca do sentido da vida.
É com enorme prazer que volto a trazer este autor ao Xaile de Seda. 
Desejo-vos um excelente fim de semana.