quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O MAR

Comemora-se hoje o Dia Mundial do Mar. Todos nós sabemos como o Mar faz parte da História Portuguesa, uma estrada feita de escolhos que foram vencidos, numa altura em  que se desconhecia o que era navegar através daquele imenso lençol líquido povoado de monstros e superstições...

À medida que a ciência foi sendo desenvolvida e com o contributo de muitas vidas os medos foram ultrapassados. Com o tempo as coisas também foram mudando, o tempo de Portugal como potência passaria, mercê da má administração nacional e da emergência de outros países interessados nos produtos trazidos de além-mar.

Soe dizer-se que também hoje precisamos do Mar, uma das alternativas ao desgoverno da nossa economia. Com a nossa zona económica exclusiva de espaço marítimo de 200 milhas, uma plataforma continental extensa, as hipóteses dum aproveitamento sustentado dos recursos  seria uma saída a considerar, havendo vontade de fazer e dinamismo.


Existe um Portal chamado MarOceano com um Forum Permanente para os assuntos do Mar e outras ferramentas, onde poderíamos procurar informação sobre o que estará a ser feito. A actualização parece reportar-se a 2009... em alguns aspectos, noutros como a Legislação, datada de 2010, não nos traz nada de novo. Também poderá dar-se o caso de haver outros espaços onde as informações são depositadas. Tudo é possível...


Entretanto, apreciemos este poema de Fernando de Pessoa:



Mar Português


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma nao é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


Fernando Pessoa

(1888-1935)


Poema:
In Mensagem



segunda-feira, 26 de setembro de 2011

RE-FOOD

Economia de palavras, economia de meios, custo quase zero. O que é? Uma organização cujo objectivo é resgatar a comida sobrante de restaurantes para pessoas que precisam. Assim, sem alarde, voluntários que  circulam de bicicleta, nas suas bicicletas. Um grupo que alimenta 80 pessoas. Um grupo que preserva o anonimato das pessoas caso o queiram. Confiram aqui ...



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Os Colombos

 
Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.
 
Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.
 
Fernando Pessoa

(1888-1935)


In: Mensagem 

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Livro da Vida


Poema de Antônio Lídio Gomes


Livro da vida, em meu Coração
Escrito com tinta Vermelha
Contém meus segredos
Mais ocultos e verdadeiros

Mas quem não tem um Livro
Escrito pelo Tempo da passagem da vida
Onde as horas são versos
Os dias são páginas
E os anos são capítulos
Onde cada aborrecimento, cada sofrimento
Nas páginas do Livro,
Borradas com lágrimas
Coloridas com sangue
Onde tudo que foi mal escrito,
Todo mal entendido
Pudesse apagar

Bem que gostaria
Mas não posso, não devo.

O que posso fazer é virar a página
Do Livro da Vida
E na seguinte estar
Escrevendo uma nova história
Pra novela continuar
E um dia terminar o enredo
Dessa história terrena, da divina comédia,
Da tragicomédia, de minha odisséia
Nesse mundo encerrar
Pra então fechar o Livro
E na Estante Divina
Esperar por um Grande Leitor
Observador e Justo



Este lindo poema foi inspirado no poema Saber ler na Vida, de Matilde Rosa Araújo, aqui publicado em  05/09/2011.


http://vozesdeminhalma.blogspot.com/

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Poesia Louca


Em reunião de amigos alguém se lembrou de dizer: e se escrevêssemos, agora, versos com palavras mais ou menos inventadas, quase sem sentido, expondo ideias meio loucas só pelo gosto de brincar com as palavras?

Pois este é o desafio que aqui vos deixo. Conto com a vossa participação...


Claro que esta imagem nada tem a ver com o tema proposto. Insiro-a aqui  só para que este post não fique assim despido...




Paisagem alentejana (foto:minha)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Cântico da manhã

 
Que alvor, que amar, que música,
Nos céus, em mim, no ar!
A festa da existência
Me vem ressuscitar!
Nasço a cantar com os pássaros!
Surjo a brilhar com a luz!
Envolta em rosas cândidas
Ledo retomo a cruz!
Fonte de Ser! Espírito!
Mistério criador!
Eis-me! saí dum túmulo,
Como da terra a flor.
Eis-me! eu te escuto. Emprega-me.
Senhor, que vou fazer?
«Ama» bradou a voz íntima,
«Amar cifra o dever»


António Feliciano de Castilho

(1800-1875)


Poema:
Casa Fernando Pessoa

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Os Magriços

À primeira vista Os Magriços são a equipa portuguesa de futebol que alcançou o 3º lugar no Mundial de 1966, feito sempre lembrado, tendo como figura de proa o chamado Pantera Negra, Eusébio. 

Mas, se nos embrenharmos na nossa História vemos que a sua origem remonta ao Sec.XIV e que diz respeito a 12 bravos (Os doze de Inglaterra) que demandaram as terras da Albion, no sentido de defenderem a honra de doze damas, da grosseria de compatriotas seus. 

Na nossa cena nacional perfilam-se novos Magriços. Os de agora estão imbuídos do propósito de emagrecer a máquina estatal, diz-se, mas antes e, em primeiro lugar, a estes lusos que ainda estão a tentar perceber até onde é que a coisa vai dar. Este alto desígnio tem por base pagar as dívidas e defender a velha Europa, no alto dos seus tamancos ritmados a 27. Que seja por bem... 

Para já, o iva vai fazendo estragos, na luz, no gás. Nos transportes públicos tudo enlouqueceu, os módulos, os bilhetes, parece que se aumentam, diariamente, a si próprios sem controlo.


De entre tudo o que vai sofrer aumento do iva já se ouviu falar do pão. Também ouvi dizer que não é verdade. O pão é assunto tabu, lembrem-se!  Sabemos das consequências provenientes do episódio do pão e dos croissants no tempo de Luis XVI. Facto histórico? Fait-divers, peut-être.


'Não me obriguem a vir para a rua gritar/que é já tempo d'embalar a trouxa e zarpar...'

Assim falava, não Zaratustra, mas o poeta.



sábado, 10 de setembro de 2011

Era uma vez ...

...um blogue chamado Histórias de nós que escreve histórias excelentes, inventando-as ou não, histórias essas que, por vezes, se nos ajustam tal como um fato por medida. Umjeitomanso, um outro blogue, ao divulgar o Histórias de nós falou do seu jeito para escrever histórias. Histórias de nós lançou um desafio no sentido de lhe encomendarmos histórias. E eu, então, pedi-lhe para escrever a história do meu Xaile de Seda.


Eis a história, associada, nada mais nada menos, ao nome de:


Amália

Aqui sentado no cadeirão encarnado que ladeia a tua cama, vejo-te dormir.
No teu corpo nada, só o xaile de seda em que te embrulhas para adormecer.
E o teu cabelo negro estendido nos lençóis.
Minha querida minha doce minha paixão que te quero tanto.
A minha vida já não a sei viver sem ti.
Há anos que acompanho o tudo que és e o que ainda queres ser. 
Sempre em puro encantamento de ti.
Vou dizendo-te, baixinho, sossega, sossega minha querida, não te deixes ir em cantigas.
Porque tu levas dia e noite, anos de vida, a ouvir todos os fados que encontras à espera de encontrar em algum um bocadinho de ti.
Deram-te o nome da tua mãe e o xaile de seda em que te embrulhou quando te deixou no abraço dos tios.
E a música que ainda cantas a adormecer, dizem que era a tua mãe que a cantava para ti.
Esta é pelo menos a história que te contaram.
Que te contam.
A história que te fez e ainda faz feliz.


A história tem uma segunda parte, as letras que, abaixo, legendam o Xaile pintado por Cidália Laranjo, blogue África em poesia, quadro que faz parte de uma sua exposição e que ela me ofereceu, virtualmente: 


Eu tive um xaile de sedaPintura de Cidália Laranjo


que em tempos me fez sonhar
Lembra-me sempre de ti
De tudo o que não quero largar

Eu tive um xaile de seda
que cheirava a Amor
tinha a cor do meu sangue
e uma ponta de oiro em cada flor

Eu tinha um xaile de seda
que afinal nunca foi meu
embrulhei-o com força no peito
e no coração que é teu

Obrigada a ambas.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Saber ler na vida

Saber ler na vida — folhear honestamente a vida 
Apaixonadamente a vida
Nas arcas da noite, nas arenas do dia:
Risos, lágrimas, serenos rostos aparentes
Como se abríssemos cada dia a verde lima do espanto.
Não passar folhas em branco sem as entender,
Olhar rostos como quem tacteia rugas
Descobrindo planetas de mágoa ou rios de alegria.
A primeira página e o segredo puro dos acabados de gritar o primeiro grito,
Iluminada inocência do futuro.
E tudo isto
Entre vermes, frutos, flores, rinocerontes, pássaros,
Cães fiéis
Âguas e pedras
E o fraterno fogo que acendemos a cada hora,
No espaço branco que é estendermos a nossa mão
Para outra mão apertarmos simplesmente
Mão pela qual corre o sangue como um rio de fogo.
Só temos uns tantos anos para lermos este livro
Debaixo do Sol,
Ou sob o aço da noite
Para este fogo tecer.
Chamarás ciência cultura vida dor espada ou espanto a tudo isto
Ou ilegível monotonia.
Nada. Mas lê.



Matilde Rosa Araújo
     (1921-2010)


Poema:
Casa Fernando Pessoa

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Verão quase

Já estamos no outono? Posto que tudo é feito de mudança como diria o poeta, este ano o verão fez-se arredio, presenteou-nos com tudo ou quase tudo, faltando-lhe apenas exibir o almejado sol de forma continuada. Houve dias em que se diria estarmos nos trópicos, sentados na esplanada a saborear um café, de manga cava e um bom decote e a ouvir a chuva pingo-pingo no toldo. Apesar disso, as arribas, a atracção fatal, mesmo sem quase sol nenhum lá fomos em demanda delas, procurando a sombrinha, o aconhego, passando ali por umas brasas porque se dormiu mal de noite ou depois de uma boa sardinhada. Com uma falta de memória não diria colectiva mas quase, lá fomos nós ou alguns de nós, quase morrer outra vez debaixo delas. 
Nem o sinal de perigo nos demove, valendo até contorná-lo de perto e sentarmo-nos ao lado, ou ... assobiar para o lado.