quinta-feira, 28 de maio de 2015

" Biografia do Língua", Mário Lúcio Sousa e Miguel Torga

Mário Lúcio Sousa é um escritor e músico cabo-verdiano. Também Ministro da Cultura. Com o seu romance Biografia do Língua, obra inédita, venceu a edição deste ano do Prémio Literário Miguel Torga, instituído pela Câmara Municipal de Coimbra e destinado a autores de língua portuguesa.

Segundo li aquio autor conta a história, parcialmente baseada em factos reais, de "um escravo que sabia línguas" e que, a partir de Cabo Verde, após os Descobrimentos, no século XV, seguia a bordo das naus portuguesas para "ajudar a vender outros irmãos", no Brasil e noutros territórios da América do Sul.

Tempo também para reler um dos poemas de Miguel Torga, no caso, com um título e desenvolvimento bastante sugestivos:

Conquista

Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

Miguel Torga

in 'Cântico do Homem' 


terça-feira, 26 de maio de 2015

Fragmentos da sabedoria oriental




12.

Tian Rao estava ao serviço do príncipe Ai do reino de Lu, mas as suas qualidades não eram apreciadas. Um dia Tian Rao disse ao príncipe: "Senhor, decidi deixar-vos e ir-me embora, como um cisne selvagem voa alto no céu."

"Que queres dizer tu com isso?", perguntou o príncipe.
Tian Rao respondeu: "Senhor, queria falar-vos do galo. Na cabeça leva uma crista vermelha, isto quer dizer elegância; nos pés tem esporões agudos, isto é força; na frente de um adversário está sempre disposto a enfrentá-lo, isto é coragem; quando encontra alguma coisa de comer, chama os companheiros para a partilha, isto é generosidade; como sentinela durante a noite nunca deixa de anunciar a manhã, isto é fidelidade. Apesar de o galo ter estas cinco virtudes, não hesitais em dar ordem para lhe cortarem o pescoço. Somente porque o galo está aqui, perto da mão. Ao invés, o cisne selvagem com poucos golpes de asa voou para longe. Porém ele pára nos vossos jardins, come os vossos peixes e tartarugas, devora o vosso trigo e as hortas. Não tem nenhuma daquelas virtudes, mas apesar disso gostais do cisne. Deve ser porque vem de longe. Por isso deixai-me ir embora e voar longe daqui..."

Liu Xiang (79-80 a.C)

António Osório (1933)
A Luz Fraterna

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Excerto in: Poemário 2012
Imagem: daqui

sábado, 23 de maio de 2015

Quando eu sonhava



Quando eu sonhava, era assim
Que nos meus sonhos a via;
E era assim que me fugia,
Apenas eu despertava,
Essa imagem fugidia
Que nunca pude alcançar.
Agora, que estou desperto,
Agora a vejo fixar...
Para quê? - Quando era vaga,
Uma ideia, um pensamento,
Um raio de estrela incerto
No imenso firmamento,
Uma quimera, um vão sonho,
Eu sonhava - mas vivia:
Prazer não sabia o que era,
Mas dor, não na conhecia ...


in "Folhas Caídas"

Imagem: daqui

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Manel, again

Dir-se-ia que me deixei cair num som sono profundo desde o meu último post, qual bela adormecida à espera do príncipe encantado. Hoje, ele chegou-me na forma de um e-mail do Manel que me relembra a necessidade de mimar o nosso coração através de uma alimentação saudável e exercícios físicos adaptados à condição física de cada um. O mês de Maio (o mês do coração) é óptimo para fazermos um plano para o ano todo, diz-me ele. Então em traços gerais é assim:




Exercícios físicos de 30 minutos, pelo menos, diariamente.
Alimentação rica em tudo aquilo de que nos esquecemos, normalmente. 
Muita água, fundamental para o nosso organismo.
Atenção aos valores do colesterol e tensão arterial.




Um pequeno passeio pela net trar-nos-á conselhos práticos sobre tudo isso, mas é importante uma visita ao nosso médico antes de iniciarmos qualquer dieta e/ou programa de exercícios físicos. 

Para além da preocupação com o aspecto físico que outro tratamento proporcionar a este órgão para que se conserve sempre jovem? Dando-lhe amor, muito amor, e abrindo-se às pequenas/grandes coisas da vida, como nos aponta E.E. Cummings:

que o meu coração esteja sempre aberto às pequenas
aves que são os segredos da vida
o que quer que cantem é melhor do que conhecer
e se os homens não as ouvem estão velhos

que o meu pensamento caminhe pelo faminto
e destemido e sedento e servil
e mesmo que seja domingo que eu me engane
pois sempre que os homens têm razão não são jovens

e que eu não faça nada de útil
e te ame muito mais do que verdadeiramente
nunca houve ninguém tão louco que não conseguisse
chamar a si todo o céu com um sorriso.


Desejo-vos uma bela semana.

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Imagens: Internet
Poema:Chamar a si todo o céu com um sorriso.E.E.Cummings

terça-feira, 12 de maio de 2015

O sono como condição de saúde

Eu presto homenagem à saúde como a primeira musa, e ao sono como condição de saúde. O sono beneficia-nos principalmente pela saúde que propicia; e também ocasionalmente pelos sonhos, em cuja confusa trama uma lição divina por vezes se infiltra. A vida dá-se em breves ciclos ou períodos; depressa nos cansamos, mas rapidamente nos relançamos. Um homem encontra-se exaurido pelo trabalho, faminto, prostrado; ele mal é capaz de erguer a mão para salvar a sua vida; já nem pensa. Ele afunda-se no sono profundo e desperta com renovada juventude, cheio de esperança, coragem, pródigo em recursos e pronto para ousadas aventuras. «O sono é como a morte, e depois dele o mundo parece recomeçar de novo. Pensamentos claros surgem firmes e luminosos, como estátuas sob o sol. Refrescada por fontes supra-sensíveis, a alma escala a mais clara visão» [William Allingham]. Ralph Waldo Emerson, in "Inspiration".



Por outras palavras, uma noite bem dormida refresca a mente e tonifica o corpo. É por isso que vou já dormir e convido-vos a fazer o mesmo. É certo que o sono não chega quando a gente bem quer. Mas adoptando uma certa rotina, como por exemplo, ir para a cama sempre à mesma hora, luz apagada, sem televisor no quarto, poderá ser a diferença entre uma noite de insónia e uma noite de sono reparador. 

Tá na hora da caminha, vamos lá dormir... :)



¡Yo lo que tengo, amigo, es un profundo 
deseo de dormir!... ¿Sabes?: el sueño 
es un estado de divinidad. 
El que duerme es un dios... Yo lo que tengo, 
amigo, es gran deseo de dormir.




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1º Excerto: Citador
Imagem:daqui
2º Excerto: 
Poema de Armando Nervo

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Dias da Música, em Sintra

De 9 de Maio a 7 de Junho, celebra-se a 50ª edição do Festival de Música de Sintra, contando com a transmissão em directo, via streaming, e em diferido, de alguns concertos do festival às freguesias mais populosas do Concelho. 

O festival terá vários momentos de destaque como, por exemplo, o concerto "Jovens Talentos" e a homenagem especial à Marquesa de Cadaval que será evocada em dois concertos no Palácio Nacional de Sintra: sexta-feira, 29 de maio, sobem ao palco o Quarteto Lopes Graça com Olga Prats no piano e domingo, 31 de maio, tem lugar o concerto “Evocações” – Olga Cadaval composto por obras queridas da Marquesa de autores como Monteverdi, Vivaldi, Rossini, Mendelssohn, Brahms, entre outros, conforme se lê aqui.




Olga Maria Nicolis di Robilant Alves Pereira de Melo, (1900-1996) foi uma benemérita portuguesa, de ascendência italiana, ligada à música, com especial predilecção pelo piano. Casaria em 1926 com D. António Caetano Alves Pereira de Melo, marquês de Cadaval. Em 1929 estabelecer-se-iam em Portugal, na Quinta da Piedade, em Colares.

A Marquesa tornou-se presidente da Sociedade de Concertos fundada por Vianna da Mota em 1917, na qual introduziria mudanças importantes, trazendo para Portugal músicos de renome mundial. A sua acção foi relevante no mecenato a jovens artistas que mais tarde se tornariam célebres. Mais...

Portanto, rumemos a Sintra. 
É lá que se está bem. :)


segunda-feira, 4 de maio de 2015

A "Larus dominicanus"




De asas mais escuras, patas esverdeadas e porte superior em relação às gaivotas comuns, esta gaivota-dominicana foi avistada e fotografada, por um jovem, na semana passada. 

Assim, biólogos e observadores de aves têm a atenção voltada para a praia de S. João da Caparica, dada a raridade dessa espécie por estas paragens. A sua proveniência situa-se no hemisfério sul, com colónias no Chile e na África do Sul. Vi aqui que o primeiro avistamento no território nacional ocorreu no ano passado.

Ficará por cá este gaivotão? Talvez se enamore dos céus de Lisboa e arredores ou mesmo de todo este jardim à beira-mar plantado, cruzando-se com  as autóctones e oferecendo-nos gaivotinhas pintalgadas. Não seria mau, não. Precisamos é de renovação. Renovação de ideias e de mentalidades.

Entretanto, deixemo-nos levar nas asas destes versos de Eugénio de Andrade, Com as Gaivotas:

Contente de me dar como as gaivotas
bebo o outono e a tarde arrefecida.
Perfeito o céu, perfeito o mar, e este amor
por mais que digam é perfeito como a vida.

Tenho tristezas como toda a gente.
E como toda a gente quero alegria.
Mas hoje sou de um céu que tem gaivotas,
leve o diabo esta morte dia a dia.

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Poema de aqui


domingo, 3 de maio de 2015

Bela, Belíssima

Belinha. De Isabel. Sempre presente e amorável, doce e terna.

Mas, a palavra aos poetas, no caso, a António Ramos Rosa, genial neste seu poema que congrega amor e emoção para falar da sua Mãe, das nossas Mães.




Mãe

Conheço a tua força, mãe, e a tua fragilidade.
Uma e outra têm a tua coragem, o teu alento vital.

Estou contigo mãe, no teu sonho permanente na tua esperança incerta
Estou contigo na tua simplicidade e nos teus gestos generosos.

Vejo-te menina e noiva, vejo-te mãe mulher de trabalho
Sempre frágil e forte. Quantos problemas enfrentaste,
Quantas aflições! Sempre uma força te erguia vertical,
sempre o alento da tua fé, o prodigioso alento
a que se chama Deus. Que existe porque tu o amas, 

tu o desejas. Deus alimenta-te e inunda a tua fragilidade.

E assim estás no meio do amor como o centro da rosa.
Essa ânsia de amor de toda a tua vida é uma onda incandescente.
Com o teu amor humano e divino
quero fundir o diamante do fogo universal.


António Ramos Rosa

E, então, do centro do mundo que elas representam para o centro desta rosa de que fala o autor, desejo a todas as mães, que por aqui passarem, muitas felicidades hoje e sempre.

Abraço

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Imagem - daqui


sexta-feira, 1 de maio de 2015

Confusão




Meu coração
é teu coração?
Quem me reflexa pensamentos?

Quem me presta
esta paixão
sem raízes?
Por que muda meu traje
de cores?
Tudo é encruzilhada!

Por que vês no céu
tanta estrela?
Irmão, és tu
ou sou eu?
E estas mãos tão frias
são daquele?

Vejo-me pelos ocasos,
e um formigueiro de gente
anda por meu coração.

in 'Poemas Esparsos'
Tradução de Oscar Mendes


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Imagem: daqui