sábado, 3 de fevereiro de 2018

Ó Mãe






Ó mãe, regressa a mim. Embala-me no tempo em que os teus lábios rebentavam de ternura. Ó mãe, ó minha mãe, ó rio de água pura, correndo pelas veias. Pelo vento.

Ó mãe, que és mãe de Deus, que és mãe de mim e mãe de Antero e de Camões, e mãe de quem lhe faltam as palavras como se faltasse o ar. E são assim uma espécie de filhos de ninguém. Abre o teu ventre, mãe. Acorda. Vem parir-me. E vem sofrer a minha dor uma vez mais. Morrer de amor por mim. Vem impedir-me o medo. Ensinar-me a amar a luz dos animais. 

Ó mãe, ó minha mãe. Ó pátria. Ó minha pena. Que me pariste, assim, temperamental. Mãe de Ulisses, de Guevara e mãe de Helena. E mãe da minha dor universal. 

Joaquim Pessoa 

in 'Ano Comum' 

Sempre a espantar-me com os seus textos, os seus poemas, as suas emoções. Palavras que vão direitinhas ao coração dirigidas à sua Mãe, à minha Mãe, às vossas Mães, a todas as Mães e, quem sabe, à Mãe-Pátria, à Mãe-Universo.




Joaquim Pessoa, poeta, artista plástico, publicitário e estudioso de arte pré-histórica. Foi galardoado com o mais importante prémio português de poesia – o Prémio da Associação Portuguesa de Escritores e da Secretaria de Estado da Cultura – e ainda com o Prémio de Literatura António Nobre e com o Prémio Cidade de Almada. Mais... Aqui


======

======

Texto:Citador
Imagens: Pixabay

5 comentários:

  1. O poema é realmente muito interessante, Olinda.
    Excelente opção, Amiga.
    Beijinhos
    ~~~

    ResponderEliminar
  2. Parabéns Olinda, por esta iniciativa.
    Tenho-me deliciado a ler tudo o que tem publicado.
    Vou continuar atenta.
    Beijo e bom domingo.

    ResponderEliminar
  3. Ó Linda Olinda, lindo poema de poeta que pouco conheço! Minha gratidão pela bela partilha! Enalteço este espaço de cultura onde mais uma luz se fez. Esses Pessoas são "os caras", hem!... Fernando o melhor depois de Camões, para mim, e esse Joaquim que não fica atrás. Portugal foi berço de grandes poetas - sou fã da Florbela. Parabéns pela excelência da escolha! Minha gratidão e abraço amigo. Laerte.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Laerte

      Fez-me lembrar um colega que sempre se me dirigia chamava-me assim: "Ó menina ó ai ó linda". Isso, parafraseando uma cantiga popular destas paragens, "ó ai ó linda". Também existe uma outra versão em toada de fado na voz de Amália:
      https://www.youtube.com/watch?v=lDnzMOg7VaI

      Muito obrigada pela sua presença e comentário.

      Abraço

      Olinda

      Eliminar
  4. Adoro Joaquim Pessoa.
    Um dos meus poetas preferidos.
    Abraço

    ResponderEliminar