domingo, 31 de julho de 2022

A história das bolinhas... Com sementes ou sem sementes?

No sábado, desloquei-me a uma mercearia de bairro para comprar pão, umas bolinhas de que o meu pequenino gosta. Pedi 3 bolinhas das menos cozidas. Vislumbrei duas que estavam chamuscadas. A senhora da mercearia fez o meu avio e eu já sem prestar atenção ao que ela metia no saco.

E disse-me o preço:

- Tem a pagar 1.20€.

- Mas ontem comprei duas e custaram 0.60€. 

- Ah, mas estas custam 0.40€ cada. 

- Custam 0.40€ cada, assim de um dia para o outro? 

- Não é de um dia para o outro. Sempre custaram 0.40€. 

- Ah, sim?

- Sim. Pediu bolinhas com sementes e foi o que aviei...

- Mas olhe que pedi bolinhas das menos cozidas.

- Não, não, pediu bolinhas com sementes.

- Tudo bem. Pode trocá-las por bolinhas sem sementes?

- Posso. Mas agora tem de levar 4.

- Quatro porquê?

- Porque já registei 1.20€ e a máquina está pronta para receber o dinheiro.

(Tem daquelas máquinas nas quais o cliente deita o dinheiro e que faz o troco. Ali, a senhora é que faz esse "trabalho", com a máquina enfiada num canto...)

- Está bem, levo quatro. E peço desculpas pela confusão.

- Oh, não faz mal. Quem não se engana?

Chegada a casa vejo que no meio das quatro bolinhas estavam as duas chamuscadas que nunca quis.





Votos de bom domingo, amigos.

Abraços

Olinda


===

Imagem retirada daqui



sexta-feira, 29 de julho de 2022

'Constrangimentos'

Não sei desde quando é que esta palavra, constrangimentos, no plural ainda por cima, começou a fazer escola para explicar tudo e mais alguma coisa.

Ele é constrangimentos quando se trata de falar de grávidas que não têm onde ir dar à luz ou, melhor dizendo, parir. Ele é constrangimentos quando uma companhia aérea não dá vazão aos passageiros, quando passageiros têm de dormir no chão do aeroporto, quando passageiros têm de aguardar horas e horas para serem despachados para poderem sair do aeroporto ou seguirem viagem.

E tudo o que não funcione, seja no mar, em terra ou no ar é explicado por essa palavra milagrosa que algumas cabeças pensadoras decidiram adoptar. Mas talvez tenham razão.

Vejamos o que quer dizer constrangimento:

a) Coacção e opressão:
opressões, violências, coibições, coerções, repressões, ameaças, intimidações, coações, imposições.

b) Restrição e limitação
confrangimentos, restrições, tolhimentos, cerceamentos.

c) Embaraço e vexame:
vergonhas, aflições, embaraços, vexames.

d) Timidez e acanhamento:
encabulações, introversões, reservas, recolhimentos, retraimentos,
encolhimentos, timidezes, acanhamento.

e) Aborrecimento e insatisfação:
insatisfações, descontentamentos, incômodos, aborrecimentos.

f) Redução do volume por pressão:
compressões, constrições, pressões, apertos.


Será tudo isso? 
Em que alínea inseriremos os constrangimentos de que se fala?

Realmente, é uma palavra que tem pano para manga. E venha o diabo e escolha. Gabo a inteligência de quem resolveu enfiar no mesmo saco tudo o que vem acontecendo e que vai para lá da normalidade.

Com os hospitais a fecharem urgências e a administração interna a fechar esquadras por falta de efectivos, e tendo em vista ganhos de eficiência e eficácia (em que sentido?), vamos de mal a pior. Fala-se agora em unidades móveis, que não deixam de ter o seu interesse, pela proximidade com o cidadão... mas a segurança da instituição física tem o seu lugar na mentalidade das pessoas.

Um país democrático, com todos os órgãos a funcionar em pleno tem de se esforçar mais, em termos de organização e previsão de situações que possam prejudicar os contribuintes. Temos ministérios para tudo. Se cada um se dedicar a estudar os problemas da sua área, assinalando os problemas sem eufemismos, procurando soluções, estaremos no bom caminho.

Parece que teremos de voltar aos bancos da escola para nos lembrarmos dos fundamentos da REPÚBLICA. Para não ser fastidiosa diria apenas que um dos objectivos desse sistema de governo é precisamente a Felicidade do povo.

Mas afinal é uma utopia, pelo que se vê.

E enquanto isso o País arde!


====

Nota:
"Constrangimentos" - palavra usada em notícias, nos últimos
tempos, a propósito de tudo o que acontece de menos bom

Sinónimos de constrangimento- aqui

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Se me esqueceres / Si tú me olvidas






Quero que saibas
uma coisa.

Sabes como é:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.

Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.

Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.

Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.

Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus.

 


Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto (1904–1973), aliás, Pablo Neruda,  o poeta do amor, aqui sem meias medidas. Se me esqueceres também te esqueço... Mas a chama continuará sempre pronta a reacender-se, ao mais pequeno sinal. 

Uma colecção com "Vinte Poemas de amor e uma Canção Desesperada", 1924. Também escreveu poemas surrealistas, épicas históricas, manifestos abertamente políticos e uma autobiografia em prosa. 
Veja mais 





Boa quinta-feira, amigos.

Abraços

Olinda


====

Poema : citador
Poema em espanhol aqui

terça-feira, 26 de julho de 2022

SABER VIVER




Não sei…

se a vida é curta
ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura…
enquanto durar.






Parabéns, amiga Rosélia, pelo seu aniversário.
E muito obrigada por ser para os amigos,

colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.

Beijinhos

Olinda



Flor bela coral
Pétalas contornadas_
Perfume ímpar 


- Do Blog "Flor do Campo" - 


====

Poema: daqui
1ª imagem - pixabay

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Donde vem a trigonometria?

Passando por uma rua, vejo um grupinho folgazão junto a uma porta onde decorrem algumas aulas. Sinto passos em tropel atrás de mim e surge-me um dos rapazes com ar sabichão a perguntar-me: Olhe lá, sabe dizer-me em que consiste o teorema de Pitágoras. Eu, algo surpresa mas sem pensar muito, respondo: o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos. Creio que não conseguiria avançar muito mais ou sequer fazer uma demonstração a não ser visualizar a hipotenusa e os catetos num triângulo rectângulo. 

O certo é que o antigo sistema de ensino que se baseava, como se costuma dizer, em memorizar, de vez em quando permite-nos fazer alguma boa figura. Lembro-me que jamais esqueci a conjugação dos verbos e a cantilena da tabuada. Mas isso não vem ao caso...



O que vem ao caso, isto é, o motivo deste post é esta tabuínha que aqui vêem, em escrita cuneiforme, e que veio publicada numa notícia que dizia que os babilónios há 3.700 anos já dominavam conceitos de trigonometria, ramo da matemática que estuda as relações entre os comprimentos dos lados e os ângulos de triângulos, aplicando-a a trabalhos agrícolas.

Aliás, embora tenha lido sobre o tema há dias, estudos feitos por especialistas vieram a lume em 2017, focando que desde 1940 alguns historiadores sugerem que a tábua contém uma série de números que se assemelha ao teorema de Pitágoras, o homem que mil anos depois é tido como o teorizador deste conceito, segundo o qual o quadrado da hipotenusa, o lado mais longo de um triângulo retângulo, é igual à soma dos quadrados dos outros dois lados...

Não me vou alongar mais, até porque não é a minha área. Quem estiver interessado em ler mais sobre o assunto poderá fazê-lo através dos links que indico abaixo ou utilizando outras fontes. O que me interessa, na realidade, é emitir aqui num tom algo despropositado algumas flores de retórica, isto é, que afinal não somos uma tábua rasa.

Segundo Aristóteles a consciência é desprovida de qualquer conhecimento inato, argumento que John Locke, o empirista, recuperaria no século XVII. Para ele, todas as pessoas nascem sem conhecimento algum (i.e. a mente é, inicialmente, como uma "folha em branco"), e todo o processo do conhecer, do saber e do agir é apreendido através da experiência. 

Com efeito, a partir do século XVII - em que, como bem sabemos, o mundo científico começara a desabrochar em força, fundamentos filosóficos teriam o seu corolário no século seguinte naquilo que ficaria conhecido como Iluminismoo argumento da tábula rasa foi importante não apenas do ponto de vista da filosofia do conhecimento, ao contestar o inatismo de Descartes, mas também do ponto de vista da filosofia política, ao defender que, não havendo ideias inatas, todos os homens nascem iguais. Forneceu assim a base da crítica ao absolutismo e da contestação do poder como um direito divino ou como atributo inato.

Claro que isso do direito divino é uma construção filosófica para justificação da tomada do poder em determinadas ocasiões não só em relação ao absolutismo como em épocas mais recuadas, o que tem dado azo ao longo do tempo a discussões acaloradas.

Este tema não estará na ordem do dia mas, subrepticiamente, ele irrompe no nosso espírito levando-nos a pensar que, talvez, aliando o conhecimento transmitido através de gerações e uma certa dose de condições inatas a cada indivíduo - lembremo-nos dos sobredotados que, no entanto, trazem consigo heranças genéticas - se encontre o equilíbrio para compreendermos esse ser complexo que mora em cada um de nós.

A séculos de distância assistimos a coisas prodigiosas - mentes que desenvolvem ideias como que autonomamente, com um fio quase invisível a ligá-las... A nossa evolução tem essa característica misteriosa. O universo detém no seu âmago mistérios que ainda não entendemos verdadeiramente. A começar pelo nosso cérebro, essa máquina prodigiosa.

E embora se diga muitas vezes que não há coincidências, que as há ... há. :) 


Boa quinta-feira, amigos.

Abraços
Olinda


====
Tábula rasa - aqui
Trigonometria em tablete - aqui
Babilónios e não Gregos... - aqui

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Caminhada

 



Apesar do tempo e da distância, guardei a essência deste sentir no mais profundo do meu ser, esperando, talvez, um renascer, lutando embora contra o tempo. 
Tempo que agora corre célere.

Luz, miragem ou quimera, entrevi no fim desta caminhada. Inundada de paz sentiu-se minh'alma, teci um mundo de ilusões e risos. E inventei palavras que mudariam
TUDO!





Sãozinha Fonseca
Carta di nha Cretcheu


Ao Agnelo. 
O amigo de sempre.

===

Continuação de boa semana, a todos os que 
por aqui passarem.

Abraços

Olinda



====
Imagem - pixabay

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Gratidão



Pelas gargalhas que dei.
Pelas lágrimas que engoli.
Pelos prazeres que cantei.
Pelas mágoas que sofri.
Pelos sonhos que deixei.
Pelas escolhas que segui.
Pela força que ganhei.
(...)





Leia o poema da Fê na íntegra no blogue 

Entre Nós  


===

Hino à Gratidão


Quero ser grato
Pela manhã e pela noite
Quero ser grato
Pelo calor e pelo frio

Quero ser grato
Pelo que Deus deu, pelo que me tirou
Quero ser grato
Pelo ser fêmea, pelo ser macho
Quero ser grato

Quero ser grato
Pela água pura e pela sede
Quero ser grato
Pelo que existe, pelo que não

Quero ser grato
Pelo teu Ser, pelo Ser teu
Quero ser grato
Pelo amor à luz
Pela penumbra
Quero ser grato

Quero ser grato
Pelos ventos e tempestades
Quero ser grato
Pela escassez e pela bonança
Quero ser grato, quero ser grato

Quero ser grato
Pela leitura e pela escrita
Quero ser grato
Pelos acertos e pelos erros
Quero ser grato, quero ser grato

Quero ser grato
Pelos bons anjos, pelos demônios
Quero ser grato
Pelo teu amor, pelo desamor

Quero ser grato
Pelo que é do chão, pelo que é do céu
Quero ser grato
Pelo fim Ser apenas um meio
Quero ser grato

Quero ser grato
Pelo dia "D", pela hora "H"
Quero ser grato
Pelos amigos, pelos inimigos

Quero ser grato
Pela boa fé, pelo tom fá
Quero ser grato
Pela clara lua e pelo sol
Quero ser grato

Quero ser grato
Pela tez branca, pela tez negra
Quero ser grato
Pelo que é sim, pelo que é não

Quero ser grato
Pela leveza e pela pena
Quero ser grato

Quero ser grato
Pelo estar triste, pelo contente

Quero ser grato
Pelo paraíso e pela Terra
Quero ser grato
Pelo peito pelo respeito

Quero ser grato
Pelo dia em que vim, pelo dia em que irei

Quero ser grato
Pelo ser todo
E por todo o ser
Muito obrigado




Mario Lúcio Matias de Sousa Mendes (1964), conhecido pelo nome artístico Mário Lúcio, é um cantautor, pintor, poeta e político cabo-verdiano. Entre 2011 e 2016 desempenhou as funções de Ministro da Cultura de Cabo Verde. 
Leia mais: aqui


====


A vida, um bouguet de surpresas. Nem sempre agradáveis. Muitas vezes sofridas. Aceitar o que ela, a vida, nos traz, com coragem e desejo de ultrapassar os obstáculos é obra. Registar isso em letras e em música, cantando a dor e sublimá-la, denota vontade de calejar o espírito e de seguir em frente. 

Desejo-vos uma boa semana.

Abraço
Olinda



====

Notas:

-Canção interpretada pelo próprio em crioulo cabo-verdiano.
-Interpretação em português, com Djavan - Aqui


Music and lyrics - Mário Lúcio

quinta-feira, 14 de julho de 2022

A Sul. O Sombreiro

O rei começou a criar cobiça suplementar. Tinha ouro, prata, cobre, vindos das Índias e das Américas. Muitas outras riquezas. Mas queria mais. Insaciável. Como se pudesse engolir os metais e os diamantes e os rubis e as esmeraldas. Uma fome desesperada se apossara da Europa e a Espanha, ingerido Portugal, era a encruzilhada de todos os caminhos brilhantes da riqueza. No meio da encruzilhada estava ele, o trono de Filipe, de ouro e marfim sobre pernas de ébano, refulgindo com diamantes e esmeraldas. Junto ao chão, nas pernas, estava o ébano. Esse até chicote merecia, por ter cor de carvão, e grilhetas nos pés.

Todos os reis se pareciam, este não seria pois indiferente às miragens agitadas à frente dos cornos, como aos toiros o pano vermelho. Cerveira Pereira soube brandir muito bem o cobre, o marfim e os escravos de Benguela para o tourear. E o rei ficou fascinado por esse homem de aspecto ascético, magro e sempre de negro, uma barba afilada já com cãs e voz de flauta sonhando e fazendo sonhar com paraísos desconhecidos, cursos de água torrenciais, levando não só lama mas também brilhantes, florestas maiores e muito mais altas que as da Península Ibérica de árvores de madeira preciosa cheirando a sândalo alfazema manjerico canela e todos os perfumes inventados pelo homem madeiras dignas dos móveis mais magnificentes e das esculturas de fino talhe e climas benignos todo o ano em que não eram necessárias roupas e só por pudor cristão as usavam e a terra tão nutrida que semente aí caída germinava mais depressa e alcançava produções nunca vistas e o mar oh o que dizer do mar onde abundavam peixes do tamanho de baleias mas saborosíssimos mansos de apanhar quase pedindo licença para serem pescados e logo assados que morriam de prazer de ser devorados pelos novos deuses vindos da desgastada Europa sem falar nas pessoas estúpidas ignorantes ingénuas se deixando kanzar com a maior facilidade e incapazes de combater dóceis crianças competentes no entanto de trabalhar em todas as tarefas pesadas sem se queixarem sem se rebelarem aceitando de boa mente o destino que os padres lhes indicavam como sendo o da salvação.

O espanto é o rei, farto de discursos semelhantes, ter acreditado nele e na flauta da sua música.

Sempre há reis incautos.

Em 1612 estava tomada a decisão de enviar Manuel Cerveira Pereira conquistar o território ao sul do Kuanza, explorar o cobre, sem esquecer o melhor produto, o escravo.

Pepetela, in: A Sul. O Sombreiro - pgs 164/165

==

Pepetela surpreendeu-me com este livro. Muito diferente de "Yaka" de que apresentei aqui excertos, parafraseando-os. E de outros que já li. É que neste romance histórico ele vai buscar assunto a fontes escritas, adoptando o raciocínio dos personagens, a forma como se movimentam, como lêem o ambiente do seu tempo. 

E para mais aparecem individualidades reais, como Manuel Cerveira Pereira, que fazem por sobreviver, manejando o poder, manipulando para alcançar os seus objectivos. Ouvimos falar de Luanda, do reino de Benguela que urge conquistar, dos jagas, dos reis, dos sobas, dos enviados do Reino, dos conquistadores, dos jesuitas, dos franciscanos, com papéis muito importantes nesse palco onde se desenrola a implantação de Portugal bem como interesses de outros países da Europa. E onde tudo é permitido.

Com poucos recursos e poucos homens. Estamos no século XVII, no tempo dos Filipes. O fito é trazer o que houver, para aumentar o pecúlio dos que governam, desfiando cordelinhos e intrigas.


Pepetela (Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos) nasceu em Benguela, Angola, em 1941. Frequentou o Ensino Superior em Lisboa mas acabou por licenciar-se em Sociologia, em Argel, durante o exílio. Iniciou a sua atividade literária e política na Casa dos Estudantes do Império. Como membro do MPLA, participou ativamente na governação de Angola, após o 25 de Abril.
A partir de 1984, foi professor na Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e tem sido dirigente de associações culturais, com destaque para a União de Escritores Angolanos e a Associação Cultural Recreativa Chá de Caxinde.
A atribuição do Prémio Camões (1997) confirmou o seu lugar de destaque na literatura lusófona. aqui



Tenham um dia bom, meus amigos.

Abraços

Olinda

====

Kanzar - a partir do kimbundu ku-kanza= saquear

sábado, 9 de julho de 2022

Conta comigo. Sempre




Conta comigo sempre. Desde a sílaba inicial até à última gota de sangue. Venho do silêncio incerto do poema e sou, umas vezes constelação e outras vezes árvore, tantas vezes equilíbrio, outras tantas tempestade. A nossa memória é um mistério, recordo-me de uma música maravilhosa que nunca ouvi, na qual consigo distinguir com clareza as flautas, os violinos, o oboé.

O sonho é, e será sempre e apenas, dos vivos, dos que mastigam o pão amadurecido da dúvida e a carne deslumbrada das pupilas. Estou entre vazios e plenitudes, encho as mãos com uma fragilidade que é um pássaro sábio e distraído que se aninha no coração e se alimenta de amor, esse amor acima do desejo, bem acima do sofrimento.

Conta comigo sempre. Piso as mesmas pedras que tu pisas, ergo-me da face da mesma moeda em que te reconheço, contigo quero festejar dias antigos e os dias que hão-de vir, contigo repartirei também a minha fome mas, e sobretudo, repartirei até o que é indivisível. Tu sabes onde estou.

Sabes como me chamo. Estarei presente quando já mais ninguém estiver contigo, quando chegar a hora decisiva e não encontrares mais esperança, quando a tua antiga coragem vacilar. Caminharei a teu lado. Haverá, decerto, algumas flores derrubadas, mas haverá igualmente um sol limpo que interrogará as tuas mãos e que te ajudará a encontrar, entre as respostas possíveis, as mais humildes, quero eu dizer, as mais sábias e as mais livres.
Conta comigo. Sempre.

         I n: Ano Comum







Bom fim de semana, amigos.

Abraços 
Olinda


====

Texto: Citador
Imagem: Pixabay


domingo, 3 de julho de 2022

Beju Furtado

 


ASSOL GARCIA

Beju Furtado

Kusé ki tem furtabu um beju
Ma kusé ki tem txomau di meu
Kusé ki tem pou na nha petu
Ma kusé ki tem sim krebu txeu

Beju mas sabi é kel furtadu
Kombersu dosi murmuradu
Ka tem koragi txobeu di ladu
Mata saudade é só imbrasadu
Amor di longi é ka di konta
Amor di pertu amor di fronta
Mas si contisi ka ta negadu
Kelo ki kredu ka ta importadu

===

Sim, que mal tem roubar-te um beijo? Que mal tem dizer que és meu e encostar-te ao meu peito se te quero tanto?! Beijo roubado é mais gostoso, conversa doce e murmurada...

Assol Garcia num ritmo que convida a um pé de dança, vida ao ar livre, numa piscina, ou à beira-mar. 

Parece que o Sol, um pouco esquivo por estes dias, resolveu reaparecer. Aproveitemos.


Bom fim de semana, amigos.

Abraços

Olinda


===

Music and Lirics-Teté Alhinho