domingo, 4 de fevereiro de 2018

sim. foi por um beijo em simples vendaval que morri








sim. foi por um beijo em simples vendaval que morri.
fazias-me setembros como se maios fossem na errante
navegação da luz e da arquitectura do silêncio. era
tudo fruição ao lado da sombra e nada me adivinhava
o inverno de hoje. um desastre calmo e inevitável ao
lado de uma epígrafe como se o enigma da vida não se
expirasse de repente. e sim. a distinção entre o talvez e o
nunca é agora um sentido instável. irredutível. e marca.
e incompatibiliza-nos face à dispersão. é esta a diferença
entre a pergunta omissa e a resposta explícita.________
um murro a desatar os nervos e a abotoar o grito
em rajadas de estrelas cerâmicas e in.serenas. a boca
amarrada ao soalho do quarto estupidamente branco
onde a parte é o todo sem idade certa para arder sofrer
rir e vir ao de cima do lodo em pontadas agudas de cores
e formas disformes e vorazes. flechas cegas a florirem as
trevas. sim. foi por um não que me curvei na altíssima
crueza do amado beijo sabor a gelo. e se o nunca for um
selo fica o perfume do caos o pé de mármore e estarei
só nessa hora mais de cal onde tudo não passou de um
talvez.



Escrever assim. Uma arte. Palavras aparentemente simples, numa composição invejável, que mostram todo um mundo de bem-querer e o seu inverso, marcando a diferença entre a pergunta omissa e a resposta explícita. E à espreita um murro a desatar os nervos e a abotoar o grito. 
Encontrei esta escritora no livro de Manuel Viegas, "Caligrafia Íntima". Desde então tenho-a procurado e encontrei-a em Palavra, um site que conta com a colaboração de vários escritores.




Escritora, poetisa e pintora, natural do Montijo, editou o seu primeiro livro de poesia em 1982: "Sobre as Ervas um corpo de Junho". No ano seguinte edita, na Bertrand, "Um Nocturno de Bach e um Relâmpago no Olhar", segue-se "Um Corpo (sub) Exposto", na Imprensa Nacional; sendo 1984 o ano de edição do livro de contos: "A Mais de Lisboa", na Difel. Em 1990 volta à poesia com "A Pele na Presença", "Ponto Final", na Átrium, "Cantochão e Vermelho Doce", na Produce. Regressa em 2010 com "As Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar", na Babel, e entra em duas antologias. Possui colaboração dispersa por várias publicações e ainda são seus os textos do livro "Imagens", de Dina Aguiar, as ilustrações do "À Mesa do Amor", de Joaquim Pessoa, e os textos do "a. des.escrever esta língua que me é mar", em co-autoria com José Rodrigues, editado no final de 2010 pela Câmara Municipal de Cascais. Daqui


Imagens:
1ª Pixabay
aqui

4 comentários:

  1. Excelente. Uma poetisa quase vizinha que desconhecia por completo.
    Abraço

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  2. Incontornável e excelente desde sempre a minha amiga Isabel

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  3. Olinda,

    quero dizer-lhe que considero uma excelente e diversificada selecção de poemas, uns mais conhecidos que outros, mas para mim sempre sincero prazer e um privilégio ler neste seu espaço de inteligência e bom gosto

    abraço

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  4. Não conhecia esta poetisa, todavia escreve muito bem, embora de forma "complexa", nada usual e "sem" regras, mas o facto de ser de Artes, também, talvez explique a maneira como faz poesia.

    Beijinho e obrigada pela iniciativa!

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