domingo, 11 de fevereiro de 2018
Os cinco sentidos
São belas - bem o sei, essas estrelas,
Mil cores - divinais têm essas flores;
Mas eu não tenho, amor, olhos para elas:
Em toda a natureza
Não vejo outra beleza
Senão a ti - a ti!
Divina - ai! sim, será a voz que afina
Saudosa - na ramagem densa, umbrosa.
será; mas eu do rouxinol que trina
Não oiço a melodia,
Nem sinto outra harmonia
Senão a ti - a ti!
Respira - n'aura que entre as flores gira,
Celeste - incenso de perfume agreste,
Sei... não sinto: minha alma não aspira,
Não percebe, não toma
Senão o doce aroma
Que vem de ti - de ti!
Formosos - são os pomos saborosos,
É um mimo - de néctar o racimo:
E eu tenho fome e sede... sequiosos,
Famintos meus desejos
Estão... mas é de beijos,
É só de ti - de ti!
Macia - deve a relva luzidia
Do leito - ser por certo em que me deito.
Mas quem, ao pé de ti, quem poderia
Sentir outras carícias,
Tocar noutras delícias
Senão em ti! - em ti!
A ti! ai, a ti só os meus sentidos
Todos num confundidos,
Sentem, ouvem, respiram;
Em ti, por ti deliram.
Em ti a minha sorte,
A minha vida em ti;
E quando venha a morte,
Será morrer por ti.
Almeida Garrett
In: Folhas Caídas
Almeida Garrett, homem multifacetado a quem é atribuído a introdução do Romantismo, conceito, em Portugal.
Poderá fazer o download de Folhas Caídas, aqui.
João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu no Porto, em 4 de Fevereiro de 1799 e morreu em Lisboa, a 9 de Dezembro de 1854.
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Se, no teatro, nos deu a nossa obra-prima trágica, Frei Luís de Sousa, e na prosa narrativa, com as Viagem na Minha Terra, uma das obras mais comunicativas, mais frescas, mais inovadoras no campo da linguagem (com este livro Garrett revela-se, observa Jacinto do Prado Coelho, «o iniciador da prosa literária, moderna, em língua portuguesa»), com as Folhas Caídas, ele legou-nos «alguns dos mais ardentes ou pessoais versos de amor da nossa língua», como observou José Régio. Leia mais aqui
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Quinzena do Amor:
Post 15 - Amor a amor nos convida, Post 14 - E Serei Veleiro, Post 13 - Poema de Amor de António e Cleópatra, Post 12 - Que era é esta?, Post - A noite abre meus olhos, Post 10 - sim.foi por um beijo em simples vendaval que morri, Post 9 - Ó Mãe, Post 8 - Alma minha gentil que te partiste, Post 7 - Do inquieto oceano da multidão,Post 6 - Amar teus olhos, Posta 5 - Conheço esse sentimento, Post 4 - Éramos tu e eu, Post 3 - Saudades não as quero, Post 2 -Não é por acaso, Post 1 - É daqui a pouco
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Poema: Banco de Poesia Fernando Pessoa
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Infelizmente conhço muito pouco deste autor, muito embora fosse com um seu poema que me apaixonei pela poesia. O poema intitulava-se morena, e estava impresso na contra capa do Borda d'água que meu pai comprava todos os anos para saber quando devia semear certos legumes. Tinha aprendido a ler há pouco tempo e decorei-o bem depressa. Deixo-o aqui.
ResponderEliminarMorena
Não negues, confessa
Que tens certa pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena.
Pois eu não gostava,
Parece-me a mim,
De ver o teu rosto
Da cor do jasmim.
Eu não... mas enfim
É fraca a razão,
Pois pouco te importa
Que eu goste ou que não.
Mas olha as violetas
Que, sendo umas pretas,
O cheiro que têm!
Vê lá que seria,
Se Deus as fizesse
Morenas também!
Tu és a mais rara
De todas as rosas;
E as coisas mais raras
São mais preciosas.
Há rosas dobradas
E há-as singelas;
Mas são todas elas
Azuis, amarelas,
De cor de açucenas,
De muita outra cor;
Mas rosas morenas,
Só tu, linda flor.
E olha que foram
Morenas e bem
As moças mais lindas
De Jerusalém.
E a Virgem Maria
Não sei... mas seria
Morena também.
Moreno era Cristo.
Vê lá depois disto
Se ainda tens pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena!
Guerra Junqueiro
Muito obrigada, Elvira.
ResponderEliminarBj
Olinda