segunda-feira, 31 de maio de 2021

Tua Cantiga

 


CHICO BUARQUE, 
numa das suas mais belas interpretações.



Francisco Buarque de Hollanda, mais conhecido como Chico Buarque, é um músico, dramaturgo, escritor e ator brasileiro. É conhecido por ser um dos maiores nomes da música popular brasileira (MPB). Sua discografia conta com aproximadamente oitenta discos, entre eles discos-solo, em parceria com outros músicos e compactos. (...)Além da notabilidade como músico, desenvolveu ao longo dos anos uma carreira literária, sendo autor de peças teatrais e romances. Foi vencedor de três Prêmios Jabuti: o de melhor romance em 1992 com Estorvo e o de Livro do Ano, tanto pelo livro Budapeste, lançado em 2004, como por Leite Derramado, em 2010. Em 2019, foi distinguido com o Prémio Camões, o principal troféu literário da língua portuguesa, pelo conjunto da obra. Mais aqui




Boa segunda-feira, meus amigos.

Abraços.



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Imagem: pixabay

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Não Posso Adiar o Amor

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração

António Ramos Rosa,
in: Viagem Através de 
uma Nebulosa






A atitude crítica que permanentemente exercitou sobre a sua própria palavra como sobre a palavra alheia faz de A.R.R. um dos mais esclarecidos críticos portugueses contemporâneos (...)enquanto poeta faz da ignorância e da radical suspensão de todos os saberes e hábitos adquiridos o único método para a eclosão da sua palavra poética. Na verdade, a procura da palavra justa para dizer as «coisas nuas» e a reflexão sobre a realidade e a possibilidade dessa palavra é, talvez, o único tema desta poesia, na qual é, no entanto, possível assinalar diferentes fases: recortando-se duma problemática neo-realista de solidariedade para com o destino dos homens e do mundo, O Grito Claro (1958) e Viagem Através de Uma Nebulosa (1960) utilizam uma linguagem e uma vivência ainda devedoras dessa estética, combinadas com uma imagética herdada do surrealismo. Mais aqui








Boa semana, meus amigos.

Abraços.


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Poema - Citador
Imagem: daqui

sábado, 15 de maio de 2021

De mini-saia e capeline

A minha amiga Luísa gosta muito de me contar histórias e eu de ouvi-las. Contou-me que há tempos, antes da pandemia, viu uma data de carros a passar e, curiosa como só ela, resolveu parar e bisbilhotar. Era um casamento.

Indiscreta, fixou bem o olhar na noiva que saía de um dos carros com a ajuda de um cavalheiro que deduziu ser o pai. Toda pressurosa e nervosa veio uma senhora, talvez a mãe ou madrinha, arranjar-lhe o vestido de cauda, o véu e ajeitar-lhe o ramo. 

Era Agosto. Já se sabe que Agosto não é mês de bons augúrios para um casamento feliz. Mas esta noiva não parecia incomodada. Trajava um vestido de princesa, muito orgulhosa no esplendor de uns vinte e tal anos.



Seguia-os uma legião de fotógrafos. Um deles parecia desempenhar o papel de mestre de cerimónia, pondo e dispondo os convidados nos seus devidos lugares. Não era convidada mas, mesmo assim, ela entrou na Igreja toda engalanada e o noivo à espera que o futuro sogro lhe viesse entregar a noiva.

Luísa registou, quase inconscientemente, o facto de se continuarem a usar trajes tradicionalíssimos -apesar de tanta modernice- sem esquecer o equivalente a grinalda, véu comprido, tudo a preceito, o sonho de todas as noivas. 

Para mais, sabia que, normalmente, a boda ou copo-de-água seguia rituais que dantes não se usavam tanto, precedido de ensaios que tiravam toda a espontaneidade aos convidados. Já para não falar na sessão de fotografias de tirar a paciência a um santo.



Sem transição, lembrou-se de outro casamento, noutro tempo e noutro espaço. A noiva, muito moderna ou a fazer-se de tal, vá-se lá saber porquê sendo ela muito tímida, disse logo à irmã que queria casar de mini-saia e capeline. Tecido comprado há algum tempo, transparente e esvoaçante com uns relevos pequeníssimos, modelo parecido ao da imagem e um pouco mais curto. Sapatos de saltos altos, brancos.

Chegado o dia, levava nas mãos, não o bouquet comme il faut, mas uma rosa de porcelana que o noivo tirara, no último momento, do quintal de uma vizinha. A noiva pegava-a, displicentemente, com ar enfastiado. Teria preferido um ramo mais vistoso e composto mas, nos últimos dias, as floristas tinham encerrado as portas, quem sabe se definitivamente.



Armados em heróis, lá foram os noivos no único carro que circulava por aquelas ruas normalmente movimentadas e agora quase desertas. As poucas pessoas que se viam olhavam desconfiadas para todos os lados e com ar inseguro. 

A Conservatória do Registo Civil, situada na parte alta da cidade, era alvo excelente para as bazucas que assobiavam, a espaços. A cerimónia, no entanto, decorrera sem novidades tendo como testemunhas o irmão do noivo e a mulher - os padrinhos. 

As alianças foram compradas a duras penas, depois de calcorrearem as ruas à procura de uma joalharia aberta. Realmente, depois de muito procurarem e de algumas peripécias conseguiram o aro mágico numa lojinha de vão de escada.
 
A cerimónia não tivera direito a registo fotográfico para a posteridade. Os fotógrafos tinham fugido todos, segundo parecia. Ao longo dos anos, os filhos sempre questionaram a ausência de álbum alusivo ao acto, a atestar a união dos progenitores. Mas o que tem de ser tem muita força, disse a Luísa, encolhendo os ombros.

Tudo rareava, até os bens alimentícios quanto mais ingredientes e disposição para festas e celebrações. Os noivos contentaram-se com um lanche oferecido pela boa vontade e amizade da tia e da prima. Tudo muito surreal, todos com uma máscara de satisfação forçada, sabendo bem o que se passava lá fora e que poderia irromper porta adentro, de um momento para o outro.

Mais surreal ainda, quando os recém-casados saíram de moto para se dirigirem ao apartamento que passaria a ser a sua residência. Tiveram de passar por vários postos de controlo e justificar as vestimentas, além de terem de mostrar os documentos. E cadê o certificado de casamento? 

Perturbados e atabalhoados à vista das armas e caras fechadas dos ferozes controladores, conseguiram encontrar um papel amarrotado que por acaso marcava o dia e a hora do enlace.





Por fim, foram liberados. Durante o percurso a jovem noiva sentia, constantemente, nas costas, calafrios pelos sons de metralhadoras que vinham dos terraços...

E pronto, foi assim o meu casamento. E foi em Maio - concluiu a Luísa com uma gargalhada nervosa.


Cada tempo com as suas histórias, as suas dificuldades, 
os seus dramas, as suas tragédias.
O que vivemos no presente, a nível mundial, já conheceu situações similares no passado. Pestes, epidemias, guerras mundiais e regionais. Tudo se vai ultrapassando, muitos ficam pelo caminho, infelizmente.
E o mundo continua a avançar, a despeito de cada caso
individual ou colectivo.
A história que hoje vos trago é verídica,
contada em modo soft.
Mas, aconteceu num tempo de guerra.
Tempo de confrontos, de lutas
sociais e ideológicas
pelo direito à terra, que fizeram 
muitas vítimas.


"Sete Letras", 
de Simone de Oliveira.
a
(1964-2021)




Abraços, meus amigos.


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Imagens - Net

domingo, 9 de maio de 2021

A Língua Portuguesa - um idioma trajado de arco-íris

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) estabeleceu, em 2009, o dia 5 de Maio como sendo o dia da Língua Portuguesa, reconhecido pela UNESCO, para ser falada, lida, escrita, homenageada, em suma. Que me tenha apercebido, não me parece que a data tenha sido assinalada, por cá, com a grandeza merecida.

O Brasil já antes designara, desde 2006, o dia 5 de Novembro para celebração desta nossa Língua comum. E mais, tem um Museu da Língua Portuguesa* o primeiro museu totalmente dedicado a um idioma. Celebra a língua como elemento fundador e fundamental da cultura de todos os países que adotam um idioma de forma oficial. Neste caso, experiências interativas, conteúdo audiovisual e ambientação conduzem os visitantes a um “mergulho” na história da língua portuguesa.


Museu da Língua Portuguesa - São Paulo

E que história! Língua sumamente viajada e quando regressa vem trajada de doces requebros e mágicas significações. Por África andou tempo suficiente para que depois nascesse uma disciplina nomeada Literaturas Africanas de Língua Portuguesa que engloba, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, isto é, os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa - os PALOP. 

Pelo Xaile de Seda têm passado nomes de grandes vultos africanos que honram a Língua Portuguesa, que escrevem em prosa e em verso, contribuindo para o seu enriquecimento. De tantos e tão excelentes autores e estudiosos, quem trarei para ilustrar agora esta minha publicação? Muitos deles, mas ainda poucos, fazem parte dos cadilhos deste Xaile. 

Vejamos, então... 

Pois, poderia falar um pouco de Inocência Mata, mulher africana, de São Tomé e Príncipe, investigadora, autora de várias obras, definindo-se ela própria como fruto de várias culturas e, precisamente, Professora na Faculdade de Letras de Lisboa da disciplina que refiro acima: Literaturas Africanas de Língua Portuguesa.


Maquêquê - São Tomé e Principe

E não só. Vejamos um pouco do seu currículo:

Inocência Mata Doutora em Letras pela Universidade de Lisboa e pós-doutora em Estudos Pós-coloniais pela Universidade de Califórnia, Berkeley; é professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na área de Literaturas, Artes e Culturas, e investigadora do Centro de Estudos Comparatistas (CEC). Foi, de 2014 a 2018, professora na Universidade de Macau, onde exerceu com uma licença especial do Reitor da ULisboa, tendo sido vice-diretora do Departamento de Português da Universidade de Macau, coordenadora do Programa de doutoramento, PhD in Literary and Intercultural Studies (Portuguese), e diretora do Centro de Investigação de Estudos Luso-Asiáticos (CIELA). 
Mais aqui 






Hoje festeja-se uma data importante - O Dia da Europa. 
Além disso, neste ano assinala-se o 36º aniversário da assinatura do Tratado de Adesão de Portugal ao projecto europeu, o qual entraria em vigor a 01 de Janeiro de 1986.

E porque o tema desta publicação é sobre a Língua Portuguesa, penso ser de referir o lugar que o nosso idioma ocupa no mundo: 

É uma das línguas oficiais da União Europeia, do Mercosul, da União de Nações Sul-Americanas, da Organização dos Estados Americanos, da União Africana e dos Países Lusófonos. Com aproximadamente 280 milhões de falantes, o português é a 5.ª língua mais falada no mundo, a 3.ª mais falada no hemisfério ocidental e a mais falada no hemisfério sul do planeta. aqui

Uma língua continua viva se for falada, escrita, amada e bem tratada.
Façamos por isso.


Bom fim de semana, meus amigos.

Abraços


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*Fechado desde 2015 após incêndio de grandes proporções, a sua reabertura está prevista para a segunda metade deste ano de 2021.

Inocência Mata, especialista em Literatura da Lusofonia - aqui

Encontrará aqui e aqui, no Xaile de Seda, alguns posts sobre a "Lingua Portuguesa" e "Europa"

sábado, 1 de maio de 2021

Estado de Emergência

como dispor a mesa
entre os acordes
da distância

esta

a que me separa
da alvorada nas teclas
dum incontido piano
sobre as ervas

nossas

até ontem nossas
confissões escarlate

recatadamente dispostas
sobre a letargia dos campos

Ângela de Almeida  
in: estado de emergência
-2020-




Ângela de Almeida é uma investigadora, ensaísta e poeta portuguesa, natural da cidade da Horta, onde viveu até aos 16 anos de idade. Estudou em Lisboa, sendo doutorada em Literatura Portuguesa e, nesse contexto, colabora com organismos regionais e nacionais, participando também em colóquios e congressos, promovidos por instituições portuguesas e europeias. Anteriormente, lecionou no Ensino Secundário e no Ensino Superior, foi editora e assessora para a Cultura. No domínio do ensaio, é autora de Retrato de Natália Correia (1993, Círculo de Leitores), vários estudos introdutórios a obras da mesma autora, A simbólica da ilha e do Pentecostalismo em Natália Correia (2019, Letras Lavadas) e Natália Correia, um compromisso com a humanidade (2019, em publicação). Tem, no prelo, o ensaio, Censura e estilo na Literatura Portuguesa do século XX, resultante da conferência, que apresentou na Universidade Sorbonne-Collège de France. No domínio da poesia, publicou: sobre o rosto (1989), manifesto (2005), a oriente (2007), caligrafia dos pássaros (2018). Publicou também a narrativa poética, o baile das luas (1993) e dois livros de viagem. aqui


Nota: Devo ao Manuel Veiga o conhecimento desta excelente Autora açoriana. 
Grata, meu amigo.




Hoje passámos ao estado de calamidade, com a abertura da maior parte das "cercas sanitárias". A vida das pessoas, que dependem dos seus negócios, merece. A necessidade de conviver, de ir à escola, de visitar espaços culturais, mostrou nos últimos tempos que precisamos disso como do pão para a boca. 

Mas mantenhamos alguma parcimónia nesta liberdade conquistada a pulso, observando cuidados importantes como: utilização de máscara, distanciamento físico, higienização das mãos.

Há pelo mundo regiões que vivem momentos de aflição. As notícias que nos chegam da Índia, nos últimos dias, são aterradoras. A pandemia alastra-se e há falta de tudo, até de espaço digno para cremação daqueles que perdem a vida nessa luta desigual com o vírus.

Em nota de curiosidade e quase anedótico não fosse a tristeza da situação, em Braga, Mire de Tibães, o cemitério lotado há quinze anos leva a que se enterre no passeio. 

Autarca diz: "Em 2005 avançámos com o pedido de alargamento do cemitério, porque já nessa altura o Executivo se debatia com a lotação do terreno, mas temos esbarrado com a classificação da envolvente do Mosteiro"-(Mosteiro Beneditino de São Martinho de Tibães)aqui 

Ora, meus senhores, ponham os olhos em Sinhozinho Malta que ainda tinha a noção de perguntar "Tô certo ou tô errado?". 



Votos de bom Dia do Trabalhador a quem por aqui passar.

Abraços.


02/05/2021

A TODAS AS MÃES



DIA FELIZ





Partilho convosco esta Canção da Mariza que acabo de receber :)


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Veja aqui, na BNP, registos sobre "Estado de Emergência" da autoria de Ângela de Almeida e Henrique Levy . Este autor possui uma biografia e bibliografia interessantes. De explorar futuramente. :)

Imagem: Pixabay